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Economista

Opinião|Governo poderia atacar desigualdade, ao invés de discutir metas de inflação ou autonomia do BC

Já se sabe que a desigualdade, além de ser um problema de direitos humanos, é uma barreira ao crescimento

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Atualização:

A taxa de juros não parece importar para o crescimento de longo prazo de países. Na verdade, poderíamos nos perguntar se as taxas de juro elevadas reduzem o crescimento a longo prazo ou se são os próprios fatores que causam taxas de juro elevadas que também atrasam o nosso crescimento.

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Vivemos hoje um equilíbrio econômico ineficiente – e equilíbrios ineficientes costumam se autorreforçar. Instituições que foram cooptadas por pequenos grupos de interesse geram incentivos para que os mesmos grupos de interesse continuem distorcendo escolhas sociais e possam continuar capturando o Estado.

Os subsídios industriais são um exemplo disso. Ao escolher subsidiar um determinado setor da economia, o governo faz essa escolha pensando no bem-estar social ou por que foi capturado por grupos de interesse daquele setor? Grupos que recebem subsídios continuam influentes e podem ajudar a perpetuar políticos que atendam a seus interesses. É um círculo vicioso.

Outros exemplos de captura do Estado podem ser políticas macroeconômicas curto-prazistas. São políticas feitas em detrimento do longo prazo, como controle de preços, políticas de transferência de renda sem um programa bem estruturado ou negligência com inflação alta, por exemplo.

Lula tem feito ataques à política de juros e à autonomia do Banco Central Foto: Ricardo Stuckert/PR - 07/07/2023

A maioria dos economistas já abandonou a ideia de que é preciso esperar o bolo crescer para, então, dividi-lo. Sabe-se hoje que a desigualdade, além de ser um problema de direitos humanos, é uma barreira ao crescimento. Logo, políticas que possam reduzir a desigualdade podem colaborar não apenas para o bem-estar social dos mais pobres, mas também para que as pessoas possam viver uma vida mais plena, feliz e produtiva.

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Políticas que possam assegurar trabalhadores contra choques negativos e flutuações de renda inesperadas também podem ajudar no melhor funcionamento da economia. Hoje, há uma grande parcela de trabalhadores no setor de serviços que não está devidamente assegurada. O Estado precisa dividir o custo desse risco com a sociedade de uma forma mais justa e eficiente.

O governo está focado em discutir revisão de metas de inflação, autonomia do Banco Central ou políticas industriais. Por que o governo não se concentra em reconstruir programas de transferência de renda que foram destruídos no governo anterior, ou em analisar o impacto da larga parcela de subsídios dados pelo Estado para alguns setores ou ainda avaliar como assegurar trabalhadores de novas categorias de trabalho? O pobre tem sempre de esperar.

Opinião por Laura Karpuska

Professora do Insper, Ph.D. em Economia pela Universidade de Nova York em Stony Brook

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