O governador do Estado de São Paulo Tarcísio de Freitas fará nesta sexta-feira, 19, sua estreia nas privatizações paulistas. A Emae (Empresa Metropolitana de Águas e Energia) será leiloada às 14h, na sede da B3, na capital, e tente a ser um teste para a venda futura da Sabesp. Três grupos entregaram a documentação de habilitação para o leilão: a Matrix Energy, o Grupo EDF e o Fundo Phoenix, administrado pela Trustee DTVM, e que tem entre seus cotistas o empresário Nelson Tanure. O negócio deve movimentar, pelo menos, R$ 780 milhões.
Criada em 1998, após o processo de cisão da Eletropaulo, a empresa opera um sistema hidráulico e gerador de energia entre a região metropolitana de São Paulo, Baixada Santista e médio Tietê. No total, tem capacidade de gerar quase 1 mil megawatts (MW), suficiente para abastecer 825 mil residências na Grande São Paulo.
A hidrelétrica de Henry Borden é o principal ativo da empresa. Inaugurada em 1920 e localizada no pé da Serra do Mar, a usina produz sozinha 889 MW. O portfólio conta ainda com outras três Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCH), oito barragens e duas usinas elevatórias. A empresa também tem papel importante no controle das cheias no Estado, regulando os níveis dos rios Pinheiros e Tietê e ajudando a prevenir alagamentos. Para isso, é feito o bombeamento das águas do rio para o Reservatório Billings.
Outro serviço prestado pela Emae é a travessia por meio de balsa. A empresa transporta diariamente, 24 horas por dia, pessoas e veículos nas travessias Bororé, Taquacetuba e João Basso. “Mensalmente, o serviço da Emae realiza uma média de 14 mil viagens e transporta gratuitamente 161 mil passageiros e 158 mil veículos”, informar o Governo do Estado.
No ano passado, a empresa teve receita líquida de R$ 603 milhões e valor de mercado, de R$ 2,3 bilhões. Além do governo paulista, participam da composição acionária da estatal a Companhia Metropolitana de São Paulo, a Eletrobras e uma parcela minoritária com outros acionistas. A fatia à venda corresponde às participações do governo e do Metrô, que somam quase 40% da empresa.
Participantes
Conforme o edital, o preço mínimo do leilão, para o lote único das ações, foi definido em R$ 52,85 por ação. Com isso, ao preço mínimo, a venda envolve R$ 779,815 milhões. Leva a empresa que oferecer o maior valor unitário por ação.
Entre os potenciais vencedores está Fundo Phoenix, de Nelson Tanure. Ele é um dos acionistas de referência da Light, em recuperação judicial, e tem longo histórico de investir em empresas em dificuldade financeira e operacional, ou com necessidade de recuperação. Além da distribuidora de energia fluminense, ele já atuou em segmentos como telecomunicações com a Oi, e em construção com a Gafisa, entre outros investimentos.
Outra concorrente é a Matrix Energy, que está ligada à comercializadora Matrix Energia, empresa detida pela DXT International S.A. (50,01%), parte do Grupo Duferco, e por fundos de investimento sob gestão da Prisma Capital (49,99%). A empresa é considerada uma das principais comercializadoras independentes do País e tem buscado investimentos em energia renovável, incluindo projetos de geração distribuída e centralizada, além de baterias, com um plano de investimentos que soma R$ 1 bilhão até o fim de 2025.
Em recentes entrevistas ao Estadão/Broadcast, executivos do grupo comentaram que até agora o interesse em crescer na geração centralizada, isto é, usinas de grande porte, esbarrou na complexidade do momento de mercado, com preços da energia ainda muito achatados, que dificultam a viabilização de projetos. “Mas acreditamos na tese de desenvolvimento de geração centralizada, que deve ter uma janela mais pra frente”, disse, na ocasião, o diretor da Matrix Guilherme Hanna.
A Matrix Energia fechou 2023 com Ebitda de R$ 167 milhões, 29% acima do ano anterior, e receita líquida de R$ 2 bilhões. O patrimônio da companhia soma de cerca de R$ 1,1 bilhão. Procurada para comentar a participação no leilão da Emae, a empresa preferiu não se pronunciar.
Já a francesa EDF tem negócios no segmento de geração de energia com as usinas termelétricas Norte Fluminense 1 e 2, e 51% da hidrelétrica Sinop. O grupo ainda opera no Brasil ativos de transmissão e tem planos de ampliar sua atuação no País. Procurada, a EDF não retornou.
Ausência
O leilão da Emae não contará com a participação de duas empresas que já foram consideradas por observadores do mercado como favoritas a levar o ativo: Auren e Âmbar Energia, do grupo J&F. As duas empresas têm se mostrado ativas na busca por alternativas de crescimento via aquisições, mas optaram por não apresentar propostas pela estatal paulista.
Fontes próximas às empresas sinalizaram que o preço mínimo indicado no leilão foi considerado muito elevado. “Seria um negócio que não agregaria muito valor para os acionistas da Auren”, disse um observador, citando que a empresa tende se concentrar em outras oportunidades, como uma potencial compra da AES Brasil.
Outra empresa que chegou a ser cotada para participar do certame é a Eletrobras, que detém participação relevante na Emae, com 39% do capital total da estatal paulista, exclusivamente em ações preferenciais. A empresa tem sinalizado ao mercado a intenção de consolidar posição de controle nos ativos, ou o desinvestimento. Segundo fontes, a empresa chegou a discutir com o governo estadual a inclusão de sua participação no pacote à venda no leilão, mas não teve sucesso. Com isso, alimentou rumores de que poderia tentar comprar a fatia estatal. Não apresentou, porém, proposta para levar os demais 39% ofertados pelo governo paulista.
Uma pessoa com conhecimento sobre Emae disse que a estatal paulista não é “um ativo óbvio de geração”, já que tem complexidades de gestão, como a operação de barragens, ativos de pequeno porte e imóveis. Além disso, precisará passar por um processo de recuperação (turnaround) típico das privatizações. Na sua visão, isso pode ter afastado algumas empresas mais tradicionais do setor.
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.