Sabemos que o Brasil foi um dos últimos países a abolir a escravidão e como isso impactou o acesso à educação, saúde e mercado de trabalho da população parda e preta. Quando analisamos o mercado de trabalho, ainda registramos muita desigualdade com pessoas pretas e pardas, que enfrentam a maior taxa de desemprego, representando o maior índice dessas pessoas no mercado informal e com menores salários.
Com base em dados do IBGE de 2019, as mulheres pretas e pardas com ensino superior completo recebiam, em média, 43% dos rendimentos das mulheres brancas com o mesmo nível de escolaridade. Em comparação com homens brancos, essa diferença é ainda maior, pois elas recebiam apenas 30% dos rendimentos deles, mesmo com o nível de escolaridade igualado.
A Mondelez Brasil tem números significativos de colaboradores pretos e pardos, 39%, sendo 10% na liderança sênior e 35% em cargos administrativos. Já o número de mulheres na liderança é cerca de 52%, com representatividade em 100% das áreas da companhia. Quando olhamos a interseccionalidade de ambos os grupos – mulheres negras, temos oportunidades de avançar.
Por isso, temos trabalhado para mudar esse quadro. E por que essa interseccionalidade é importante? Quando comecei a construir minha carreira, eu tinha pouquíssimas referências. Iniciei na área de finanças e naquela época eu só via líderes homens brancos.
Nesse cenário, era difícil me projetar nessas posições, porque não havia referência. Entretanto, ao longo da minha carreira, tive algumas líderes mulheres, o que me ajudou muito a ter perspectiva de que pudesse ter um espaço para mim.
Como empresas lidam com o tema?
Há vários programas no mercado afirmativos para estagiários, jovens aprendizes e até trainees, o que já é um grande avanço na tentativa de dar acesso e desenvolver mulheres pretas.
Na Mondelez Brasil o grande diferencial é que aqui o tema de Diversidade, Equidade e Inclusão está enraizado na nossa cultura, com a pauta da questão racial sempre em evidência. Entendemos que desenvolver soluções apenas para as cadeiras de base não é o que irá mover o ponteiro de fato, por isso estamos olhando para essa evolução com todos os grupos da companhia. Há um trabalho de letramento, rodas de discussão e a alta liderança está engajada e ativa nessa jornada.
Temos trabalhado em posições afirmativas com métricas definidas para avançarmos na busca de perfis de mulheres pretas e pardas, focando especialmente posições de liderança.
Desafios
Aqui na Mondelez Brasil, temos abertura para trazer interseccionalidade, mas enfrentamos dificuldade para achar essas pessoas, principalmente em vagas que exigem inglês, pelo fato de termos algumas estruturas globais.
Por isso, buscamos parceiros para nos ajudar com essas questões. Somos cofundadores do MOVER – Movimento pela Equidade Racial, que, com outras 48 grandes empresas do Brasil, compartilha boas práticas e a aceleração dos processos de diversidade, equidade e inclusão e de oportunidades por meio de capacitação, conexão com emprego e empreendedorismo, o que nos ajuda a definir metas e estratégias para sermos mais inclusivos.
E, em uma parceria com o Education First (EF), oferecemos uma série de bolsas de estudo para mulheres e pessoas pretas e pardas. Também estamos alavancando essa discussão, agregando mais intencionalidade à pauta.
Apesar das barreiras e de sabermos que temos uma longa jornada com a temática da interseccionalidade da mulher preta, já começamos a colher frutos positivos, com os nossos colaboradores bastante abertos às nossas ações e tendo conquistado muitos candidatos diversos em nossos processos de seleção, que apontam que o interesse em trabalhar na Mondelez é também por ser uma empresa que respeita as diversidades e dá visibilidades aos nossos talentos diversos.
*Coordenadora de Recrutamento e Seleção da Mondelez Brasil
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