Lira ‘abraça’ MP da subvenção, negocia ponto a ponto com Haddad e quer líder como relator

Presidente da Câmara busca controlar processo de aprovação do texto do começo ao fim

PUBLICIDADE

Publicidade
Foto do author Iander Porcella
Foto do author Giordanna Neves
Atualização:

BRASÍLIA – O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), “abraçou” nos últimos dias a Medida Provisória (MP) que muda a tributação de grandes empresas que têm benefícios fiscais concedidos pelos Estados, assim como fez com outros projetos importantes da agenda econômica do governo Lula.

PUBLICIDADE

Segundo apurou o Estadão/Broadcast, o deputado tem negociado “ponto a ponto” do texto com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, para que se chegue a um consenso entre Executivo, parlamentares e empresas.

De acordo com interlocutores de Lira, o texto “vai e volta” entre ele e o chefe da equipe econômica. Ou seja, o deputado faz apontamentos, Haddad considera as sugestões e assim por diante. O presidente da Câmara quer ter controle total sobre a proposta, que pode gerar R$ 35,3 bilhões em arrecadação ano que vem e é a principal aposta da Fazenda para continuar perseguindo o déficit zero nas contas públicas.

Um exemplo de como Lira quer controlar o processo do começo ao fim é que o presidente da Câmara cogita escolher um dos líderes partidários da Casa próximos a ele como relator do texto. O deputado Mauro Benevides Filho (PDT-CE) é o principal cotado para a relatoria, mas há uma avaliação agora de que ele poderia não estar disposto a apenas chancelar o acordo entre Lira e Haddad, o que atrasaria a votação da proposta.

Publicidade

Mauro Benevides Filho é o principal cotado para relatar a MP da Subvenção Foto: Vinicius Loures / Câmara dos Deputados

Ainda não há uma definição sobre o rito de tramitação; mas, se for mesmo por MP, como quer a Fazenda, e não por projeto de lei, Lira também quer ter o controle da comissão mista que se instalaria para analisar a medida.

Para isso, a ideia é que as vagas de deputados no colegiado sejam ocupadas também por líderes partidários, que atuariam para evitar atrasos na tramitação, já que o cronograma de votações até o fim do ano está apertado.

São pelo menos três pontos que preocupam os deputados, como demonstrado na iniciativa da Frente Parlamentar do Empreendedorismo (FPE) de apresentar nesta terça-feira, 21, um texto alternativo. O principal deles é com relação à garantia de que não haverá retroatividade na medida, ou seja, que as empresas não sejam cobradas pela Receita Federal por impostos federais referentes a anos anteriores à publicação da lei.

Segundo apurou a reportagem, Haddad disse a Lira que tenta negociar um caminho para que não haja cobrança retroativa. O chefe da equipe econômica tem consultado a Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional (PGFN) sobre as implicações jurídicas. O ministro ainda deve apresentar um novo texto ao presidente da Câmara. Uma nova reunião entre Haddad, Lira e líderes partidários também deve ocorrer.

Publicidade

A prática da subvenção do ICMS é usada por grandes empresas que tiveram incentivos fiscais para se instalarem em localidades distantes dos centros consumidores, mas reduz fortemente a arrecadação da União. A Receita calcula que os benefícios concedidos pelos Estados reduziram a base de cálculo do Imposto de Renda da Pessoa Jurídica (IRPJ), que é um tributo federal, em R$ 150 bilhões em 2022 - e que essa cifra chegará a R$ 200 bilhões este ano.

Em maio, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) decidiu que as empresas só poderiam abater dos tributos federais (como Imposto de Renda e Contribuição Social sobre Lucro Líquido) os benefícios estaduais que fossem ligados a investimentos, e não a custeio – o que foi considerado uma vitória do governo. Mas o litígio continuou, a arrecadação extra não veio e a Fazenda decidiu agir.

Além da questão da retroatividade, a FPE também incluiu na proposta alternativa uma definição mais clara do que é investimento. “Quando caracterizarem subvenção para investimento, assim entendidos os incentivos e benefícios concedidos mediante compromisso de expansão ou implantação de empreendimentos econômicos e, ou, sob condição de cumprimento de quaisquer contrapartidas onerosas”, diz o texto alternativo.

Outro ponto da proposta alternativa diz respeito à garantia de que não haverá impacto na atuação da Sudam e da Sudene, as superintendências ligadas à Amazônia e ao Nordeste, e que os benefícios já concedidos serão respeitados. Isso já foi estipulado no projeto de lei enviado pelo governo, mas há preocupações sobre o texto da MP, que não atende essa questão.

Publicidade

Se a proposta for aprovada via MP, a medida passa a valer já em janeiro, podendo render R$ 35,9 bilhões aos cofres federais em 2024. Já o projeto de lei renderia uma cifra menor ao governo: R$ 26,9 bilhões. Isso porque, com esse instrumento, a medida só valeria a partir de abril.

Como mostrou o Estadão/Broadcast, a Fazenda também negocia com Lira incluir na MP da subvenção a proposta que dá fim ao modelo atual de Juros sobre Capital Próprio (JCP),um tipo de remuneração feita pelas grandes empresas aos seus acionistas. Como originalmente sugerido ao Congresso, o texto pode render cerca de R$ 10 bilhões à União no próximo ano.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.