No começo do ano, os economistas apuraram a direção do vento, fizeram suas orações, jogaram os búzios e solenemente previram que o crescimento do PIB em 2023 não passaria de 0,9%. Hoje a previsão consensual é que o crescimento poderá alcançar 3%. Não é pouca diferença. Imaginando um deflator implícito de 5%, a diferença desse ajuste (que também atende pelo nome de erro) é da ordem de R$ 220 bilhões.
Afora uma provável má vontade – a mãe do pessimismo – com o governo recém-eleito, os economistas do mercado citavam a alta taxa Selic, a desaceleração global e a queda das commodities para sustentar suas aziagas previsões. De fato, os juros reais superaram 10% em junho de 2023, o nível mais alto desde maio de 2007. Temos ainda juros siderais. A economia global, sim, perdeu fôlego. A estimativa mais recente do FMI é de um crescimento de 3% em 2023, contra 3,5% no ano passado. As commodities estão caindo quase 10% no acumulado de 12 meses até setembro. E ainda assim a economia brasileira cresce muito mais que o esperado. Por que será?
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Há, em primeiro lugar, o avanço da agropecuária. Ela, sozinha, tem diminuta participação direta no PIB e não carrega o piano, mas seu crescimento foi excepcional em 2023. Nos primeiros três meses, a expansão foi de 19% em relação ao mesmo período de 2022. No segundo trimestre, ela cresceu mais 17%. São números polpudos. Sem dessazonalização, o crescimento da agropecuária no primeiro trimestre em relação ao trimestre anterior foi nada menos que 138%, recorde da série histórica. As exportações, irmãs siamesas da agropecuária, também ajudaram a impulsionar a economia. O aumento do PIB das exportações foi de 7% no primeiro trimestre e saltou para 12% no segundo, sempre em comparação com o mesmo período de 2022. Mas o que bombou mesmo foi o impulso fiscal. Essa é a marca de 2023. O resultado primário do governo central até julho passou de um superávit de R$ 74,8 bilhões no ano passado para um déficit de R$ 73,7 bilhões agora. A PEC da Transição permitiu um gasto adicional de R$ 145 bilhões em 2023. Pelas contas da Instituição Fiscal Independente, o gasto com Bolsa Família deve subir de R$ 88 bilhões em 2022 para R$ 169 bilhões agora. Trata-se de um aumento real de mais de 500% em relação ao que foi gasto no último ano do segundo mandato de Lula da Silva.
Assim, o PIB sobe mesmo com taxas de juros escorchantes. Não há mistério. O difícil é prever quanto tempo isso poderá durar. A bola de cristal dos economistas mostra forte redução do déficit em 2024 e um crescimento do PIB de cerca da metade do que teremos neste ano. Talvez errem novamente. A conferir.