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Economista e ex-diretor de Política Monetária do Banco Central, Luís Eduardo Assis escreve quinzenalmente

Opinião | Não foram os economistas que erraram o chute, mas o PIB que correu para o outro lado

Assumir que o governo não tem compromisso com o equilíbrio fiscal é a mais trivial das estimativas

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Atualização:

Foi pênalti, claro que foi. O atacante ajeita a bola e usa as melhores práticas internacionais para marcar o gol. Corre como se fosse para o abraço, mas o chute faz a bola cair na arquibancada. Interpelado, com muita franqueza, pela torcida, nosso jogador diz que “foi surpreendido” pela trajetória da bola. A desculpa colou? Não colou. Ele errou o chute.

Com os economistas é diferente. A benevolência prevalece, a vida é mais fácil. O desempenho do PIB no segundo trimestre, por exemplo, “surpreendeu”. Não foram os economistas que erraram o chute. Foi o PIB que, sorrateiramente, deu indicações que iria para um lado e, por maldade, correu para outro. A agravante é que não se trata de prever o futuro, com perdão da redundância. A previsão feita em setembro foi surpreendida pelo nível de atividade ocorrido entre março e junho. Uma previsão sobre o passado, portanto.

Banco Central do Brasil. As estimativas são frágeis, baseadas em hipóteses fragílimas, e seu impacto sobre a inflação é difícil de ser constatado  Foto: Raphael Ribeiro/BCB

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Ainda assim, a diferença foi da ordem de dezenas de bilhões de reais. Uma grande surpresa. Esses mesmos economistas são perguntados regularmente pelo Bacen a respeito das expectativas para a inflação oficial dos próximos anos. Para 2028, por exemplo, esperam um IPCA de 3,5%. Pode ser crueldade mesquinha criticar erros desse tipo. Mas todos sabemos que não existe nenhuma metodologia confiável para prever a inflação em prazos longos, especialmente no Brasil, onde o IPCA depende em grande parte de condições climáticas e da geopolítica internacional.

Mas o Banco Central leva essas previsões em conta na hora de subir as taxas de juros, como fez na semana passada. A ideia é que os economistas conseguem, talvez usando alguma alquimia antroposófica, capturar o que pensam aqueles agentes econômicos capazes de antecipar aumentos de preços pela simples razão de que imaginam que os preços subirão – a clássica profecia autorrealizável.

As estimativas são frágeis, baseadas em hipóteses fragílimas, e seu impacto sobre a inflação é difícil de ser constatado. Mais do que motivado pelas instáveis expectativas, o risco de aumento da inflação reflete o temor de que a aceleração do crescimento, puxada pelo gasto público, possa inflar a demanda.

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A despesa total do governo central cresceu 20% nos 12 meses terminados em junho de 2024, contra 10% de aumento na arrecadação da Receita Federal. Por essa métrica, desde abril de 2023, a receita de impostos cresce menos que os gastos. Prever indicadores econômicos é muito difícil. Mas assumir que o atual governo não tem compromisso com o equilíbrio fiscal é a mais trivial das estimativas. Nesse caso, não tem como chutar fora do gol.

Opinião por Luís Eduardo Assis

Economista. Autor de 'O Poder das Ideias Erradas' (Ed.Almedina). Foi diretor de Política Monetária do Banco Central e professor de Economia da PUC-SP e FGV-SP

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