O enredo do filme é conhecido. O governo briga com o Banco Central (BC), trocam sopapos e a inflação não morre no fim. Por algum tempo pensou-se que, ao indicar a maioria dos membros do Copom, o governo daria um pouco de paz à autoridade monetária. Não é o que parece. O presidente Lula foi convencido de que o colapso da sua popularidade decorre apenas de eventuais dificuldades econômicas. Não é bem assim, como já se tentou demonstrar neste espaço. A economia não vai mal. O consumo das famílias a preços correntes aumentou 8,8% em 2024, o salário mínimo real nunca foi tão alto, o desemprego está num dos menores patamares e o nível de atividade calculado pelo BC para janeiro cresce a uma taxa real anualizada de 3,8%.
O governo, no entanto, insiste em anabolizar a demanda justamente quando há indícios de superaquecimento da economia. O estímulo ao crédito consignado, por exemplo, vai frontalmente de encontro à pretensão do Banco Central de desacelerar a economia para conter a inflação, que caminha na direção dos 6%. Sem falar na atávica inapetência para o controle de gastos públicos. É aqui que o filme fica diferente. O novo presidente do Banco Central não votou de camiseta amarela e foi escolhido por Lula na expectativa de alinhamento com a política econômica do governo. Mas não funciona assim.
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Gabriel Galípolo é mais que um “faria limer”. Trata-se de um economista com formação humanista, e, claramente, um refinado animal político (isso é um elogio). Já percebeu que o espaço de manobra para novidades é mínimo, se existe. Seria possível, saindo da mesmice de tentar controlar a inflação apenas por meio da Selic, pensar em medidas macroprudenciais que diminuíssem a alavancagem dos bancos. Mas isso escancararia o antagonismo entre Banco Central e governo, que quer aumentar o crédito – além de assustar o mercado, sempre temeroso de novidades, mesmo as velhas.

Há pouco a fazer para evitar a colisão que se aproxima, já que o PT não demorará a atacar a política de juros altos. No arcabouço atual, o combate à inflação exige desaceleração da economia e aumento do desemprego. As medidas compensatórias para estimular a demanda apenas forçam a manutenção de juros altos por mais tempo.
Piora ainda mais o quadro o resultado de pesquisa recente da Genial/Quaest entre agentes do mercado financeiro. Nada menos que 88% dos pesquisados avaliam negativamente o governo Lula, muito mais que os 8% que avaliam como negativa a gestão do presidente do Banco Central. Se o amigo do meu inimigo é meu inimigo, como reza a tradição brasileira, o embate está a caminho. Melhor providenciar a pipoca, porque o filme promete muitas emoções.