Os números do Censo de 2022 forneceram dados importantes sobre as novas características geográficas, econômicas e sociais das cidades brasileiras. Eis um deles: Sol Nascente, no Distrito Federal, passou a ser a maior comunidade do Brasil, com 32.081 domicílios. Por situar-se em terreno plano, sua expansão foi rápida. Superou a Rocinha, no Rio de Janeiro, localizada em terreno de encosta, que ocupa o segundo lugar, com 30.955 domicílios.
Comunidades como essas têm potencial econômico que não pode mais ser ignorado nem pelos formuladores de políticas públicas nem pela iniciativa privada. A sua integração à economia formal pode dinamizar atividades produtivas e gerar emprego e renda. Além de amenizar questões relevantes como a da violência.
O potencial econômico, criativo e de consumo das comunidades ficou evidente na Expo Favela Innovation, feira de empreendedorismo organizada, no mês passado, no Rio de Janeiro. Estima-se que 17 milhões de pessoas vivam hoje em comunidades no País. Em apresentação durante o evento – que percorre vários Estados até encerrar o ciclo em dezembro, em São Paulo –, o Instituto DataFavela informou que as comunidades movimentaram uma renda de R$ 202 bilhões no ano passado.
O geógrafo Milton Santos, um dos intelectuais brasileiros de referência mundial, nos deixou contribuições relevantes sobre o tema da inclusão. Sua obra inova ao abordar a questão pelo prisma do espaço ocupado pelas pessoas nas grandes cidades. Ele sustentou que, com as novas tecnologias, os conceitos tradicionais de centro e periferia seriam superados. A distância física, de fato, desaparece nas plataformas e redes sociais.
No clássico O Espaço Dividido, Santos ressalta a necessidade de compartilhamento de experiências, conhecimentos e valores entre os setores mais modernos da economia, que utilizam alta tecnologia e capital intensivo, e os setores informais e desorganizados.
Na minha visão, trata-se de incluir cada vez mais as pessoas de todas as rendas e regiões das grandes metrópoles nos segmentos mais avançados e formalizados da economia. Esse é um desafio que o Brasil pode e deve enfrentar. E as ferramentas da revolução digital são uma ponte poderosa para a criação dessa convergência entre os setores formais e informais.
A busca pela redução da desigualdade se dá pela reformulação dos conceitos que dividem o Brasil em grupos que não se interagem geograficamente. As políticas públicas e as estratégias empresariais precisam superar esse isolamento geográfico.