O ano de 2024 foi de ambivalência. Em oposição a uma economia real de resultados positivos surpreendentes, as expectativas apontam para uma escalada no sentimento de apreensão. Talvez seja o momento de reiterar que a primeira regra não escrita em relação ao Brasil é que jamais devemos subestimar a sua capacidade de superar os desafios pelo esforço conjunto de empresários, trabalhadores, governantes e a classe política.
É notável a dinâmica de crescimento da economia brasileira. Da mesma forma, é repetitivo, no início desses ciclos, o surgimento dos sinais de alerta sobre seus limites e os necessários ajustes de equilíbrio. Não é preciso, portanto, nem euforia, nem catastrofismo, pois são conhecidos os riscos envolvidos nos sentimentos exacerbados.
O primeiro indicador a se observar é a discrepância entre as projeções iniciais para o desempenho do PIB e os números que, na prática, estão sendo alcançados. O Focus de 2 de janeiro apontou crescimento anual de 1,52%, mas estaremos próximos a 3,5% no final do exercício. Essa aceleração se reflete em novas situações de ganha-ganha entre os agentes econômicos.
O lucro líquido das 327 empresas listadas na B3 somou, no terceiro trimestre, R$ 103,6 bilhões, 55% acima do mesmo período de 2023. Entre as 297 companhias não financeiras, a alta foi de 53,5%, com uma distribuição de dividendos 228% acima.
A espiral de alta registra ainda recuo para 6,2% no desemprego, com uma população ocupada de 103,6 milhões de pessoas. Ambos os dados do IBGE são recordes na série histórica, iniciada em 2012.
Houve deterioração, porém, nas expectativas de inflação, juros e câmbio. Embora o Focus inaugural deste ano enxergasse um IPCA de 3,90%, Selic abaixo de 9% e dólar a R$ 5, os números reais são bem outros. Em novembro, a inflação em 12 meses acumulou 4,87%, os juros bateram em 12,25% e, em recorde histórico, a moeda americana superou a marca de R$ 6.
Esses dados objetivos refletem a visão de que nem tudo está correndo bem. As preocupações se concentram na necessidade de medidas de corte de gastos do governo, cuja dimensão e qualidade dependem bastante do Congresso. Essa percepção nos acompanha há muitas décadas, e isso nos leva ao raciocínio de que o problema merece uma abordagem estrutural, atuando, entre outros, na correção da rigidez orçamentária e da disfuncionalidade do Estado.
Ajustar as contas pode ter como efeito mudar expectativas, endereçando um ciclo sustentável de crescimento no longo prazo.
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