A política tarifária que os Estados Unidos estão implementando em relação a vários países não é inédita na história americana. Em 1930, como resposta ao ‘crash’ financeiro do ano anterior, o presidente Herbert Hoover aumentou, de uma só vez, tarifas de importação de 20 mil itens. A lei ficou conhecida como Smoot-Hawley Tariff Act.
O objetivo foi fortalecer a produção interna, dentro da lógica da substituição de importações. As economias atingidas fizeram o mesmo e o resultado é que os EUA perderam fluxo de comércio. As importações e exportações americanas caíram 67% após o tarifaço, o que não ajudou no processo de superação da Grande Depressão.
O economista John Maynard Keynes classificou a iniciativa de “política de empobrecer seu vizinho”, mas que, afinal, acabou prejudicando a todos.

Pouco tempo depois, à medida que foram surgindo efeitos como alta da inflação, redução da demanda e crise financeira, os EUA retomaram as negociações de acordos bilaterais, num ajuste gradual das relações.
Essa experiência de tarifas elevadas para resolver problema interno mostrou a importância de se ter mecanismos internacionais para cooperação comercial e solução de litígios. Hoje, esse papel está a cargo da Organização Mundial do Comércio (OMC).
As cadeias produtivas globais são uma realidade. Um elo desarranjado acarreta perdas gerais pelo desequilíbrio das relações.
Mas há uma diferença relevante do que ocorreu 95 anos atrás. Hoje, existe uma consciência coletiva de que o multilateralismo é o caminho a ser seguido. O comércio internacional bem equilibrado propicia ganhos de escala e de produtividade aos países e melhora as condições para a criação de riquezas.
A grandeza econômica dos Estados Unidos é indiscutível. No entanto, decisões comerciais unilaterais e abruptas contra parceiros comerciais e aliados históricos esgarçam essa força, que é reconhecida de forma predominante pelos países.
O comércio global é um caminho sem volta para o mundo e para o Brasil. No ano passado, as exportações brasileiras chegaram a 18,0% do PIB e as importações, a 17,5%. Esse intercâmbio é um dos propulsores mais importantes para nosso desenvolvimento. Para prosperar, a economia global demanda paz e não guerras comerciais.
Esse contexto faz lembrar de uma frase do líder chinês Xi Jinping, em Davos, anos atrás: “O protecionismo é como estar dentro de uma sala fechada na companhia de um tigre”.