BRASÍLIA - A reunião que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem hoje com a equipe econômica, depois de um encontro a sós com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, é a segunda realizada em poucos dias para tratar de ruídos e da piora das expectativas.
No fim de semana, Lula conversou em São Paulo com Haddad e economistas de dentro e de fora do governo para tentar entender o que leva a um ganho tão expressivo do dólar em relação ao real. Foi avisado de que, mais cedo ou mais tarde, essa elevação chegaria à inflação. No período de um mês, a moeda americana subiu 6,58%. No pregão de hoje, opera em queda de 1,56%, para R$ 5,57.
A alta da moeda se dá tanto por fatores externos como internos. No cenário internacional, a mudança de cenário para o corte de juros nos Estados Unidos e a possibilidade de o ex-presidente Donald Trump vencer mais uma vez o pleito por lá são pontos que fortalecem o dólar perante as demais moedas do mundo, explicaram os especialistas ao presidente.
Por outro lado, questões internas, principalmente relacionadas a dúvidas sobre se o arcabouço fiscal seguirá firme e se o BC brasileiro manterá sua independência de atuação mesmo após a saída do atual presidente da instituição, Roberto Campos Neto, são os pontos que ajudam na desvalorização do real. Aí, não apenas em relação ao dólar, mas a outras moedas do mundo, deixando a divisa doméstica mais depreciada do que seus pares.
O presidente, no entanto, vê o escalonamento contra o real como um golpe do mercado contra o governo, que é mais à esquerda e que se propõe a não cortar gastos em itens considerados fundamentais para o mandatário, conforme tem mostrado em suas entrevistas. O recado passado ao presidente é o de que ele deveria manter suas promessas de campanha, mas falar menos no assunto. Além disso, houve sugestões de que evitasse um duelo direto com Campos Neto.
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O presidente foi alertado de que suas falas têm ajudado a catapultar variações no câmbio e que, mais cedo ou mais tarde, esse avanço chegará aos preços, deixando o governo numa saia justa nos anos finais do mandato. Além disso, uma alta da inflação poderá levar o BC a ser ainda mais conservador em relação aos juros e, mesmo sob o comando de um indicado pela atual administração, a autoridade monetária não teria muito espaço para baixar a Selic. Isso faria com que Lula ficasse sem ter como culpar a autarquia, como faz hoje com o indicado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro.
Mesmo após as recomendações feitas pelos economistas, o presidente voltou a se pronunciar ontem. Internamente, a avaliação é a de que ele foi mais moderado nas críticas e reforçou a importância da autonomia do BC. Mesmo assim, manteve o seu discurso de que é preciso ampliar as despesas com os mais necessitados, o que voltou a bater no dólar. Nessa entrevista, Lula disse que a equipe econômica atuaria para conter a alta do dólar, mas não adiantou o que seria feito, o que levou a uma nova perda cambial.
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