BRASÍLIA - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que não é possível desvincular o Benefício de Prestação Continuada (BPC), pago a pessoas idosas e de baixa renda com deficiência, e as pensões da política de valorização do salário mínimo
“Não é (possível), porque não considero isso gasto, gente”, respondeu, ao ser questionado em entrevista ao portal UOL. “A palavra salário mínimo é o mínimo que a pessoa precisa para sobreviver.”
Lula prosseguiu: “Se eu acho que vou resolver o problema da economia brasileira apertando o mínimo do mínimo, eu estou desgraçado, cara. Eu não vou para o céu. Eu ficaria no purgatório”.
Como mostrou o Estadão, de olho na forte expansão de despesas previdenciárias e assistenciais, que vêm pressionando o Orçamento, o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) prevê realizar até 800 mil perícias presenciais do BPC e do Benefício por Incapacidade Temporária, o antigo auxílio-doença, até dezembro.
Sem revisão de despesas, como mostrou a reportagem, o governo projeta aumento nos gastos com BPC de R$ 99,2 bilhões neste ano para R$ 154 bilhões em 2028, com a entrada de 1,3 milhão de novos beneficiários. Hoje, o programa atende 6 milhões de pessoas.
Questionado sobre a possibilidade de cortar gastos e quais, Lula disse que o governo ainda analisa se será necessário. A pressão sobre a gestão Lula para corte de gastos públicos e o debate a respeito da sustentabilidade de despesas com benefícios previdenciários e assistenciais ganharam força nas últimas semanas após os sinais de esgotamento das medidas arrecadatórias dentro do Congresso Nacional.
Leia mais
O presidente afirmou que não quer que empresários tenham prejuízos, mas criticou a “Faria Lima” e defendeu “repartir o pão de cada dia em igualdade de condições”.
“O mercado está sempre trabalhando para não dar certo, torcendo para as coisas serem piores”, afirmou. “As pessoas da Faria Lima pensam no lucro, e o Brasil precisa ter alguém que pensa no povo.”
Lula também citou o fundador da Ford, Henry Ford, como exemplo de empresário. “Eu quero que o empresário tenha lucro, mas quero que ele tenha a cabeça como teve o Henry Ford, quando disse: eu quero que meus trabalhadores ganhem bem para eles poderem comprar os produtos que eles fabricam”, disse.
O presidente também citou o diretor de política monetária do Banco Central, Gabriel Galípolo, como “altamente preparado”, mas evitou dizer que indicará o economista para a presidência da instituição.
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.