Lula: ministro da Fazenda terá ‘autonomia’, mas eu sei o que é bom ‘para o pobre’ e para o ‘mercado’

Petista diz que já tem 80% do ministério na cabeça e que a base da Esplanada será parecida com a que teve em seu segundo mandato, incluindo um ministério ou secretaria para os povos originários

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BRASÍLIA - O presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), disse nesta sexta-feira, 02, que o futuro ministro da Fazenda vai ser a “cara do sucesso do 1º mandato” em que governou o País (2003-2006), mas avisou que será dele a palavra final sobre as decisões da política econômica do seu futuro mandato.

“O ministério tem autonomia, tem um monte de coisa, mas quem ganhou a eleição fui eu. Quero ter inserção nas decisões de economia neste País. Sei o que é bom para o povo, sei o que é bom para o mercado”, afirmou.

O presidente da república eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), durante entrevista coletiva concedida na manhã desta sexta-feira, 2  Foto: Wilton Júnior/Estadão

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O presidente eleito vem sendo cobrado para anunciar logo o nome do novo ministro da Fazenda em meio à negociação para se aprovar a PEC da Transição, que prevê R$ 198 bilhões fora do teto de gastos, a regra que atrela o crescimento das despesas, em 2023. Lula não respondeu se já bateu o martelo no nome do ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad para comandar a Fazenda.

Nesta semana, ele se reuniu com os economistas que fazem parte da equipe de transição e deixou claro que tomou a frente da coordenação econômica, como mostrou a colunista Adriana Fernandes. Ao ser eleito, Bolsonaro delegou a condução da economia ao ministro Paulo Guedes, a quem se referia como “Posto Ipiranga”. Guedes precisou ceder, no entanto, quando as decisões envolviam assuntos de interesse do presidente ou sua busca à reeleição.

Apesar da pressão de setores da política e do mercado financeiro pela indicação de nomes para ocupar os ministérios, Lula disse que só começará a fazer as nomeações após a diplomação pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), marcada para o dia 12 deste mês.

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“Já tenho 80% do ministério na cabeça, mas não quero construir pra mim, quero construir pra quem está aqui. Na medida que eles me ajudaram a enfrentar as forças que enfrentamos. Nunca vi alguém usar tanto aparelho do Estado pra ganhar a instituição. Temos esse compromisso com a parte da sociedade que nos ajudou. Vamos governar pra 200 milhões de pessoas”, disse Lula a jornalistas.

Ao comentar sobre a estrutura de seu ministério, Lula disse que terá a mesma estrutura do seu segundo mandato (2006-2010), com o retorno de pastas como o Ministério do Desenvolvimento, da Pesca, da Mulher e dos Direitos Humanos, por exemplo, mas com a novidade da criação de uma nova pasta sobre os povos originários. . “Quero conversar com vários companheiros e com indígenas, temos que ouvi-los e dar respeito. Eles são fundamentais pra nos ajudarem a cuidar das florestas e do clima do País”, afirmou.

Ainda ao abordar a montagem dos ministérios, Lula se esquivou de confirmar se o ex-ministro do Tribunal de Contas da União (TCU) José Múcio será o titular da pasta da Defesa. Ele é tido como certo para ocupar o cargo. Havia a expectativa de que o petista o nomeasse para a exercer a função na semana que vem, quando está prevista a troca de comando nas Forças Armadas.

O presidente eleito se restringiu a dizer que “não tem nada certo” sobre o comando da Defesa e que não tem pressa em definir os nomes. Aliados do presidente Bolsonaro, contudo, têm apelado aos comandantes das Três Forças para que impeçam a posse de Lula em 1º de Janeiro do ano que vem. Nesta semana, completou um mês dos acampamentos de apoiadores do presidente em frentes aos quartéis do Exército.

Gleisi fora de ministério

O presidente eleito também confirmou que a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, não vai ocupar nenhum ministério de seu governo, porque precisa de sua atuação à frente da legenda e dentro do Congresso. Como antecipou o Estadão, o petista disse em reunião ontem, 1º, com a bancada do partido que deseja Gleisi no comando da legenda para mantê-la forte e organizada. Gleisi foi reeleita como deputada federal pelo Paraná. Lula buscou defender a atuação de Gleisi, dizendo que sua atuação à frente da legenda é mais importante que o posto de ministro.

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“O fato de eu ter dito pra Gleisi que ela não vai ser ministra é, na verdade, um reconhecimento do papel na organização política que ela tem no País. Só quero que vocês saibam que o fato de ela não ser ministra é um reconhecimento da grandeza dela. Ela vai ter muito trabalho, certamente mais que qualquer ministro. Não é fácil ser presidente de um partido como PT”, comentou Lula.

O presidente eleito agradeceu o desempenho da presidente do PT, “a quem eu devo muito por minha vitória” e disse que é “importante não desmontar um partido porque ganhamos as eleições”.

PEC sem orçamento secreto

Lula disse que espera “sensibilidade” do Congresso Nacional para aprovar a PEC da Transição, que prevê a retirada de R$ 198 bilhões dos limites impostos pela regra do teto de gastos. O presidente eleito defendeu, ainda, que não sejam incluídas nas negociações as emendas do orçamento secreto, esquema revelado pelo Estadão que consiste na transferência de verba a parlamentares sem critérios de transferência em troca de apoio político. .

“Dentro da PEC da Transição não há espaço para discutir emenda. Sou favorável que deputado tenha emenda, mas é importante que ela não seja secreta. Não pode continuar da forma que está. Todo mundo compreende isso. Já conversei com muitos deputados. A PEC não trata de emenda, trata da necessidade básica do Brasil”, disse Lula.

O petista disse que espera que o Congresso não altere o valor proposto pela equipe de transição. Pelo texto protocolado, a PEC exclui do teto de gastos - por um período de 4 anos - todo o custo do Auxílio Brasil (que vai voltar a se chamar Bolsa Família) de R$ 600 mais a parcela de R$ 150 por filho menor de 6 anos, o que representa R$ 175 bilhões. Além disso, a proposta retira do teto R$ 23 bilhões para investimentos, valor que será bancado pelo excesso de arrecadação no ano anterior. Também ficam de fora da norma gastos com projetos socioambientais e de universidades públicas bancados por receitas próprias, doações ou convênios.

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“Até agora não há sinal de que as pessoas querem mudar essa PEC. O Brasil precisa dessa PEC. O atual governo que deveria estar fazendo. Pra mim, parece que ele (Bolsonaro) quer deixar esse País a zero para gente governar. Eu espero que o Congresso, a Câmara e Senado tenham sensibilidade para negociar. Não tem valor mínimo (para aprovação). Se eu colocar o limite para menos, é esse menor que vai valer.”

Lula disse que a PEC é, na realidade, uma consequência do esvaziamento financeiro feito pelo governo de Jair Bolsonaro. “Vamos aprovar uma PEC, que não é do Lula, é do Bolsonaro, porque é ele que devia fazer. Eu sabia que não ia encontrar coisa boa, mas vou governar esse País. Vamos tabular as informações e, a partir disso, vamos fazer o melhor governo que o País já teve.”

Questionado sobre as suspeitas de irregularidades encontradas em programas como o Auxílio Brasil, no qual foram encontrados 2,5 milhões de cadastros suspeitos de famílias com apenas uma pessoa, o presidente eleito declarou que os pobres, pessoas que têm direito a receber o benefício, continuarão a ter o acesso, mas criticou o uso político e eleitoreiro do programa, que abriu as portas para fraudes. “Se tiver bomba armada, somos especialistas em desarmar bomba, não vamos deixar bomba explodir. É importante que o Estado cuide das pessoas mais pobres, faça transferência com Bolsa Família.”

Encontro com Biden

Lula disse que ainda não há uma data definida para que ocorra seu encontro com o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, previsto para acontecer antes de sua posse, no dia 1º de janeiro de 2023. O presidente eleito afirmou que, antes disso, tem que ser diplomado, o que está marcado para ocorrer daqui a dez dias. “Na segunda-feira, vem um representante do Biden para discutir a data. Será depois do dia 12, quando eu for diplomado”, comentou Lula, que também criticou o ex-presidente americano Donald Trump e disse que os EUA vivem ameaças à democracia como acontece com o Brasil.

“O estrago que Trump fez na democracia americana é o mesmo que Bolsonaro fez. Vamos conversar sobre política, a relação Brasil - Estados Unidos. Quero falar sobre a guerra da Ucrânia, não há necessidade de ter guerra”, disse.

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Antes de chegar ao Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), que funciona como sede da equipe de transição, Lula fez uma visita ao ex-presidente José Sarney. Ele não detalhou os motivos do encontro. “Foi uma visita a uma pessoa que foi presidente da República, que está com 91 anos de idade. E quero estar com a saúde dele”, disse.

Brasil 2 x 0 Camarões

Após a entrevista, Lula seguiu para o aeroporto, com destino a São Paulo, onde pretende assistir ao jogo entre Brasil e Camarões. O petista chegou a dizer que não iria arriscar um palpite sobre o resultado, mas depois acabou por dizer que torce um por 2 x 0.

“Não vou dar palpite, depois de a Alemanha dar o vexame que deu. Acho que o Brasil pode chegar e que deve tomar cuidado com Espanha, Inglaterra e França. Não tem dificuldade para Brasil ganhar de Camarões, apesar de os times menores estarem surpreendendo. Acho que o Brasil ganha hoje de 2x0″, comentou. “Vou descansar no sábado. Domingo, volto para cá, para começar a trabalhar na segunda.”

O presidente eleito mencionou que, neste sábado, deve fazer um retorno médico para verificar as condições de sua garganta, após a cirurgia, mas afirmou que tem melhorado diariamente. “Estou bem, minha garganta está melhorando. Tem gente que passa por essa cirurgia e fica um mês sem falar. Eu não fiquei nenhum dia.”

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