O consumo cresce, os pobres se mostram mais confiantes e as projeções de crescimento econômico têm melhorado, mas o quadro geral de mediocridade permanece, com a indústria estagnada e apenas um setor produtivo – o da agropecuária – exibindo um claro dinamismo. A atividade econômica aumentou 0,25% em maio, 0,53% no trimestre móvel iniciado em março e 1,66% em 12 meses, segundo o indicador do Banco Central (IBC-Br). A oratória otimista do presidente Lula contrasta apenas um pouco menos com os números da Fundação Getúlio Vargas: 0,3% de avanço em maio e de 2,4% em 12 meses, com a atividade produtiva puxada pelo setor rural, num quadro de menor dinamismo dos serviços e de retração industrial (Monitor do PIB-FGV).
Os profetas do mercado elevaram de 2,08% para 2,11%, em quatro semanas, o crescimento estimado para a economia em 2024. A mediana das projeções para 2025 ficou em 1,97% e foi mantida em 2% para os dois anos seguintes, segundo a pesquisa Focus divulgada na segunda-feira. O Brasil continua incapaz, segundo as avaliações do setor financeiro, de ultrapassar a faixa em torno dos 2%. Também continua a mostrar-se incapaz – e este detalhe talvez seja o mais importante – de reativar o setor industrial e de reverter a desindustrialização observada há pelo menos uma década.
Dezesseis das 25 atividades industriais acompanhadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) recuaram em maio. Em dois meses consecutivos, o setor acumulou perda de produção de 1,7%, eliminando o ganho de 1,1% conseguido no bimestre anterior. Com essa queda, a indústria produziu no mês 1,4% menos que em fevereiro de 2020, imediatamente antes da pandemia, e 17,8% abaixo do pico da série, atingido em maio de 2011. Parte dos problemas agora divulgados é atribuível ao desastre climático no Rio Grande do Sul, onde várias cidades foram inundadas. Mas inundações foram apenas mais um problema, certamente grave, para um setor já enfraquecido na maior parte do País.
O vice-presidente Geraldo Alckmin, ministro da Indústria, do Comércio e do Desenvolvimento Econômico, tem prometido empenho na reindustrialização. O sucesso dessa política dependerá, em grande parte, de um envolvimento maior do presidente na reconstrução do setor produtivo. Se ele se envolver, será mais fácil combinar esforços em diferentes áreas, como financiamento, tecnologia, formação de mão de obra e comércio exterior. Será forte, provavelmente, a tentação de recorrer a velhas políticas, valorizando o protecionismo e a preferência nas compras para programas governamentais. Mas nenhuma dessas ações será eficiente, se as empresas forem dispensadas de avançar em tecnologia, administração e competitividade.
Para uma retomada efetiva do crescimento, será indispensável cuidar da modernização produtiva. Essa transformação já está avançada na agropecuária e no setor extrativo, mas falta cuidar das mudanças na indústria de transformação e nos serviços. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem dado atenção à melhora das condições sociais, mas pouco se tem voltado para os objetivos e problemas da produção; Tem mostrado interesse em democratizar e transformar a educação, tomando o caminho oposto ao do governo anterior. Mas é preciso cuidar de outras áreas para compor um trabalho ambicioso – e articulado – de renovação econômica e social.
O presidente e sua equipe continuam devendo algo digno de ser classificado como um plano. E sempre se pode lembrar um detalhe prosaico, às vezes negligenciado pelo presidente: controlar gastos e cuidar das contas públicas também são condições importantes para um desenvolvimento econômico e social duradouro.
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