BRASÍLIA - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva mudou o tom do discurso também internamente para endossar a equipe econômica, segundo apurou o Estadão/Broadcast com integrantes do governo. Depois de uma série de entrevistas que contribuíram para a disparada do dólar nos últimos dias, o presidente tomou ciência do quadro fiscal do País e, na quinta-feira, 3, determinou o anúncio da redução de R$ 25,9 bilhões em despesas obrigatórias para 2025.
Publicamente, o petista parou de criticar o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, e passou a falar em “responsabilidade fiscal”. Nesta sexta-feira, 5, ele reafirmou o compromisso do governo com o tema. Segundo Lula, a economia do Brasil “não vai quebrar” porque a gestão tem compromisso com o cumprimento das metas estabelecidas e em cuidar do povo. Após a mudança de tom, a moeda americana voltou a cair.
Internamento, a determinação do presidente foi clara: respeitar os limites do arcabouço e buscar as medidas necessárias para o cumprimento da regra em 2024 e 2025, segundo relato de um interlocutor do alto escalão da equipe econômica ao Estadão/Broadcast. Revisões de gastos que tenham impacto de médio e longo prazo devem ficar para depois. “Vamos trabalhar as demais medidas com calma”, disse o integrante do governo.
Ao longo das últimas semanas, a equipe econômica vinha alertando o presidente sobre a situação fiscal e preparando um diagnóstico completo sobre as contas públicas. A compreensão do cenário fiscal por parte do presidente acaba empoderando o time num momento delicado, em que estão sendo discutidos tanto o Orçamento para o próximo ano quanto eventuais congelamentos de gastos (por bloqueio ou contingenciamento) no boletim bimestral de receitas e despesas que será divulgado em 22 de julho.
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A mudança da percepção do presidente em relação ao cumprimento do limite de gastos foi notada também por membros do alto escalão do governo durante as tratativas finais do Plano Safra. Segundo interlocutores, Lula pediu a anuência de Haddad e da equipe econômica a cada cifra e citou reiteradas vezes o aperto orçamentário e a responsabilidade fiscal.
Pessoas que anteriormente ouviam o presidente dizer que “investimento não é gasto” relatam que agora, nas reuniões internas, ele observa que todas as áreas do governo e todas as despesas precisam ser avaliadas com “pente-fino”. “Ele vem dizendo que as discussões de despesas precisam estar no Orçamento e o Orçamento ser cumprido”, relatou um interlocutor.
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