Lula nunca iria se dispor a interferir na Vale, diz ministro após tentativa de emplacar Mantega

Alexandre Silveira, de Minas e Energia, afirma que presidente foi ‘injustiçado’ com as notícias sobre a pressão pela indicação do ex-ministro

PUBLICIDADE

Publicidade
Foto do author Marlla Sabino
Atualização:

BRASÍLIA - O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, negou nesta sexta-feira, 23, que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tenha tratado sobre a indicação do ex-ministro da Fazenda Guido Mantega para o comando da Vale. Segundo o ministro, o chefe do Executivo nunca iria se dispor a fazer interferência direta em uma empresa de capital aberto.

PUBLICIDADE

Na quarta-feira, 24, o Estadão confirmou com um conselheiro da Vale que Silveira havia telefonado para defender que o comitê de acionistas escolhesse o indicado de Lula para a presidência da companhia. O grupo deverá se reunir na próxima terça-feira, 30, para deliberar sobre a sucessão na mineradora. Em movimento que sinaliza, agora, um recuo do governo, Mantega deverá divulgar nesta sexta-feira, 26, uma carta para desistir da indicação. A notícia da desistência provocou a valorização das ações da Vale, e consequentemente deu força ao Ibovespa, principal índice da Bolsa de Valores de São Paulo, a B3.

“Em nenhum momento, o presidente tratou de qualquer questão em relação à sucessão da Vale”, afirmou. “Todos conhecem muito bem o perfil do presidente. O presidente Lula nunca se disporia a fazer uma interferência direta numa empresa de capital aberto, listada em bolsa, uma corporation, que tem a sua governança e sua natureza jurídica que deve ser preservada.”

O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira Foto: Tauan Alencar/MME

Durante sua declaração, Silveira citou uma entrevista concedida em Davos, na Suíça. Na ocasião, o ministro afirmou que a participação do governo no processo de sucessão na alta cúpula da Vale é legítima e que o Executivo está envolvido na discussão.

Publicidade

“Em Davos, registrei uma posição do governo. A posição do governo era a de que nós compreendíamos que uma corporation de capital aberto, com natureza jurídica própria, onde governo não é controlador, diferentemente da Petrobras, que o governo, apesar de não ser majoritário, é controlador e indica sua diretoria, e que o presidente Lula, todas as vezes que tratava sobre o setor mineral nacional, a única coisa que tratava era cobrando de forma vigorosa, em especial no caso da Vale, que seja empresa que cumpra seu compromisso social de forma mais célere e eficiente”, disse.

Na quinta-feira, Lula foi às redes sociais para criticar a empresa, mas não mencionou Mantega. Ele citou os acidentes em Brumadinho e Mariana, em barragens de resíduos provenientes de mineração da Vale. “Hoje (quinta) faz cinco anos do crime que deixou Brumadinho debaixo de lama, tirando vidas e destruindo o meio ambiente. Cinco anos e a Vale nada fez para reparar a destruição causada”, escreveu o presidente.

Também nas redes sociais na quinta, a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, defendeu a indicação do ex-ministro para o comando da Vale. Ela afirmou que o ministro é um dos “pouquíssimos brasileiros” qualificados para compor o conselho de administração da empresa, grupo do qual fazem parte os representantes dos acionistas.

Nesta sexta, Silveira citou ainda que teria dito em Davos que, como ministro, julgava no direito de estar sentado à mesa para poder entender a política a ser estabelecida pela nova diretoria da mineradora.

Publicidade

Na avaliação do ministro, ele e o presidente Lula foram “injustiçados” com as informações divulgadas nas últimas 48 horas de que haveria uma pressão do governo para a indicação de Mantega. “Fiquei muito surpreso ontem (quinta-feira, 25) à noite daquilo que julgo que foi uma grande injustiça que foi feita nas últimas 48 horas”, disse. “Infelizmente se tornou uma grande especulação.”

O ministro também negou que tenha entrado em contato com conselheiros da Vale para “pressionar” e “ameaçar” por uma eventual indicação de Mantega para o comando da mineradora. “Não podemos especular. É muito sério quando diz que um ministro ligou para fazer imposição ou até mesmo, alguns mais levianos, usaram o nome chantagem, sem dizer quem teria recebido esse telefone. Quero afirmar: eu não tive nenhuma conversa com conselheiro que tivesse citado uma indicação do ex-ministro Mantega para suceder atual presidente da Vale.”

Elogios a Mantega

Silveira negou ainda que os elogios feitos a Mantega estejam relacionados com uma eventual indicação para o comando da mineradora. Ele afirmou que mantém contato com o ex-ministro e reforçou que tem grande admiração por sua história. E ressaltou que o governo não tem que indicar nomes e, muito menos, interferir na governança da empresa.

Questionado sobre a possibilidade de uma indicação ao conselho via Previdência dos Funcionários do Banco do Brasil (BB), Silveira ressaltou que não tem conhecimento sobre o tema e ressaltou que a Previ tem uma governança própria.

Publicidade

“A Previ tem duas vagas no Conselho da Vale. A Previ, que não é do governo, é dos funcionários do Banco do Brasil, tem dois conselheiros e tem sua governança própria também, ela escolhe seus conselheiros. Aí é uma outra questão. Conselho é outra questão, o que está em discussão agora é a recondução ou não do atual presidente (da Vale).”

O ministro afirmou que considera “inadequada” a interlocução do governo com o atual comando da mineradora. Segundo ele, é necessário que seja mais próxima e que haja mais rigor. Apesar de afirmar ter críticas, afirmou que elas não estão correlatas nem são personificadas em apenas uma pessoa.

Setor Mineral

Silveira afirmou que o presidente já tratou com ele sobre o setor mineral, mas apenas sobre temas técnicos, principalmente no que se trata de temas como licenciamento e seguranças nas barragens. Ainda, que há uma grande preocupação com o uso adequado do subsolo brasileiro.

“Presidente Lula tratou comigo sobre setor mineral bem mais de uma dezena de vezes e sempre registrando pontos muitos caros ao governo. Setor mineral deve ser tratado com vistas a ser um setor que ajude a desenvolver o País, seja sustentável e seja seguro.”

Publicidade

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.