Com Lula internado, reforma tributária avança no Senado, mas corte de gastos ainda trava na Câmara

Portaria para liberar emendas publicada pelo governo abre caminho para tramitação das medidas de corte de gastos, mas parlamentares esperam pagamento efetivo dos recursos para se comprometerem com a votação

PUBLICIDADE

Publicidade
Foto do author Daniel  Weterman
Atualização:

BRASÍLIA – Com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) internado em São Paulo após ser operado às pressas, a agenda econômica do governo no Congresso Nacional continua emperrada e dependendo principalmente do pagamento de emendas parlamentares neste fim de ano.

A reforma tributária avançou no Senado, com a leitura do parecer do senador Eduardo Braga (MDB-AM) na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), após senadores derrubarem a leitura no dia anterior. Líderes da Casa dizem que a proposta deve ser votada no Senado ainda nesta semana, possivelmente na quarta-feira, 11, ou na quinta-feira, 12.

O presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Foto: Wilton Junior/Estadão

PUBLICIDADE

O pacote de corte de gastos, por outro lado, continua parado na Câmara e sem um cronograma de votação. O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), voltou a dizer, na noite desta terça-feira, 10, que o governo não tem os votos necessários para aprovar as propostas.

“O acerto é que não tem votos. O assunto é polêmico. O BPC (Benefício de Prestação Continuada) é polêmico, o abono (salarial) é polêmico, o salário mínimo é polêmico”, disse o presidente da Casa. “É um assunto que ferve, além do não cumprimento de uma lei que foi aprovada pelo Congresso Nacional e sancionada pelo presidente da República.”

Publicidade

A decisão do ministro Flávio Dino, do Supremo Tribunal Federal (STF), liberando o pagamento das emendas parlamentares que estavam travadas, mas com exigências com as quais o Congresso Nacional não concorda, dificultou o pacote na Câmara uma semana após o governo ter apresentado as medidas.

O presidente Lula se reuniu com Lira e com o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), horas antes de ser internado para tentar resolver o impasse. O chefe do Poder Executivo prometeu pagar emendas e destravar os recursos de interesse dos parlamentares para atender o Congresso. Nesta terça-feira, 10, o governo publicou uma portaria para liberar os recursos.

Impasse das emendas

Nos bastidores do Legislativo, porém, ainda há desconfiança. A portaria abriu caminho para o diálogo sobre o avanço da tramitação do pacote, mas congressistas esperam o pagamento efetivo e a transferência dos recursos para o caixa das prefeituras e dos governos estaduais para só depois se comprometerem com a votação. Mesmo votando, há tendência de desidratação.

“Há um conjunto de coisas que precisam acontecer. Entre a reunião do presidente Lula e a portaria, foram 24 horas. Sabe o pai que está do lado de fora da sala de parto? ‘Vai nascer?’ Mas nasce”, disse o líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT-BA).

Publicidade

Aproximadamente R$ 25 bilhões em emendas parlamentares de 2024 ainda não foram pagas pelo governo. A portaria do Poder Executivo autoriza o pagamento de R$ 3,7 bilhões em emendas Pix, mas diz que o município ou o Estado beneficiado só poderá gastar o dinheiro quando apresentar um plano falando o que fará com a verba.

Além disso, os ministérios do governo federal deverão avaliar esse plano até 1º de fevereiro de 2025, podendo até mesmo reprovar a proposta. Nesse período, no entanto, o Estado ou o município já poderá ter gasto o recurso. O restante das emendas também dependerá de avaliação dos ministérios de cada área.

Há expectativa que o governo pague R$ 6 bilhões em emendas ainda nesta semana, como mostrou o Estadão/Broadcast. A interferência das pastas do governo Lula nas emendas Pix é um tema que desagrada o Legislativo. Além disso, há insatisfações sobre o pagamento das sobras do orçamento secreto e das emendas de comissão, herdeiras do esquema – fatias que somam R$ 15 bilhões travados em função da decisão do STF.

A determinação do Supremo e a decisão do governo é só pagar as verbas que tiverem o nome dos parlamentares identificados e de forma transparente.

Publicidade

Articulação política

PUBLICIDADE

Internado na capital paulista, Lula não nomeou ninguém específico para comandar os acordos políticos pela aprovação da agenda econômica. Em momentos decisivos, é o próprio presidente que assume a negociação com a cúpula do Congresso, como aconteceu na aprovação do arcabouço fiscal e na reforma tributária.

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, continua escalado para negociar o conteúdo das medidas, mas o acordo político em si é o que Lula negociou com a cúpula do Congresso antes de ir para o hospital, de acordo com articuladores políticos do Palácio do Planalto.

O ministro-chefe da Casa Civil, Rui Costa, e o ministro da Secretaria de Relações Institucionais da Presidência da República, Alexandre Padilha, foram escalados para organizar a execução operacional das emendas parlamentares, que também dependem de cada ministério quando o recurso for vinculado a uma área específica, como Saúde e Educação.

A alta de Lula ainda não foi definida pela equipe médica. “Saúde em primeiro lugar”, afirmou Jaques Wagner ao falar sobre a internação do presidente em meio à agenda de negociação com o Congresso.

Publicidade

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.