Lula diz que já ameaçou um presidente da Petrobras de demissão por conteúdo nacional

Presidente participa nesta segunda-feira, 24, no Rio Grande do Sul, de cerimônia de assinatura do contrato da Transpetro com consórcio para a aquisição de quatro navios

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Por Redação
Atualização:

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou nesta segunda-feira, 24, que já ameaçou de demissão um presidente da Petrobras por não seguir sua determinação sobre a política de conteúdo nacional. Ele não citou nomes. A política de conteúdo nacional é um instrumento defendido pelos governos petistas usado para ampliar a participação de equipamentos e serviços nacionais na cadeia produtiva de petróleo e gás.

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Na declaração, Lula contou que um presidente da Petrobras falou sobre a previsão de comprar uma sonda da Coreia. “Eu falei: não vai comprar. Se você comprar, a mesma caneta que te colocou na presidência, vai te tirar da presidência. Nós vamos fazer aqui”, disse.

O presidente participa nesta segunda-feira, em Rio Grande (RS), da cerimônia de assinatura do contrato da Transpetro com o consórcio formado pelos estaleiros Rio Grande e Mac Laren, para a aquisição de quatro navios da classe Handy, em mais uma viagem para impulsionar a indústria naval em menos de duas semanas.

As embarcações têm valor de US$ 69,5 milhões cada (ou R$ 1,6 bilhão no total) e serão utilizadas para transporte de derivados de petróleo na costa brasileira, informou a Petrobras.

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Lula durante cerimônia de assinatura do contrato da Transpetro com consórcio para a aquisição de quatro navios Foto: Ricardo Stuckert/PR

No evento, o presidente afirmou que vai recuperar a Petrobras e a indústria naval e que o dinheiro gerado pela petroleira vai ajudar o País a fazer a transição energética. “Resolvi recuperar a Petrobras e recuperar a indústria naval”, disse.

Lula afirmou ser contra o combustível fóssil, mas acrescentou que, enquanto o País precisar dele, será o dinheiro da Petrobras que vai ajudar o Brasil a fazer a transição energética.

Por que não aproveitamos essa tecnologia para a gente transformar (a Petrobras) na maior empresa de petróleo do mundo? ‘Ah, mas agora a gente está discutindo a transição energética, a gente não precisa mais de petróleo. Agora é eólica…’ Tudo bem, eu sou contra o combustível fóssil, quando a gente puder prescindir dele. Enquanto a gente não puder, a gente tem que ter, porque é o dinheiro da Petrobras que vai ajudar a gente a fazer a revolução na transição energética

Lula

O presidente disse que, há anos, a estatal é “demonizada” por parte da população. “Desde que ela foi criada, eles trabalham contra a Petrobras e já tentaram destruí-la muitas vezes”, citou. “O Brasil é o maior país da América do Sul. Por que não temos uma indústria naval poderosa? Por que temos que comprar navios da Coreia, da Singapura, da China?”, questionou.

Ao dizer que “a economia vai crescer mais agora”, o presidente voltou ao tema do dólar. “Povo, quando pega R$ 1 mil, não compra dólar, vai comprar o que comer”, afirmou, acrescentando que “é na microeconomia que a gente vai salvar este país, sem desprezar a macroeconomia”.

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“Não acreditem nessa bobagem da macroeconomia. ‘A economia não vai crescer, a economia não vai crescer’. Deixa a bola rolar. Nós entramos no governo, a economia ia crescer 0,8%, cresceu 3,2%. No ano passado, ia crescer 1,5%, vai crescer 3,8%. E pode se preparar que vai crescer mais agora”, disse, em referência a previsões feitas por especialistas do mercado.

“Olhem para a microeconomia deste País, sem desprezar a macro. Mas é na microeconomia que a gente vai salvar este País”, declarou.

Lula também voltou a se dirigir aos pequenos empreendedores, segmento da sociedade que tem resistência a seu governo. Disse que é necessário incentivar essas pessoas, mas discutindo formas de proteção. Lula afirmou que há quem ache que não precise do Estado, mas é socorrido pelo Estado, quando tem problemas. “A pessoa acha que não precisa do Estado, mas quando tem dor de barriga é o Estado que socorre”, disse.

O evento ocorre no Estaleiro Rio Grande, e, além de Lula, conta com o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, a presidente da Petrobras, Magda Chambriard, e o presidente da Transpetro, Sergio Bacci, entre outras autoridades.

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É o primeiro contrato assinado pela Transpetro no âmbito do Programa de Renovação e Ampliação da Frota do Sistema Petrobras. A companhia lançou, na semana passada, em cerimônia em Angra dos Reis, no Rio de Janeiro, a licitação para aquisição de oito navios gaseiros, dentro do mesmo Programa.

Segundo a Petrobras, os navios tipo Handy contemplam soluções que garantem maior eficiência energética e menor emissão de gases que provocam o efeito estufa. Além disso, as embarcações poderão ser abastecidas com bunker ou biocombustíveis.

Com isso, espera-se reduzir em 30% as emissões em relação aos atuais navios da frota, atendendo às determinações da Organização Marítima Internacional (IMO). Os navios serão aptos a transportar produtos claros derivados de petróleo, como Diesel Marítimo, Diesel S10, Diesel S500 e gasolina de aviação (GAV).

Já a licitação de gaseiros, anunciada na semana passada, triplicará a capacidade da estatal para transportar Gás Liquefeito de Petróleo (GLP) e derivados, e passará a carregar amônia. A ampliação da frota de gaseiros, de seis para 14 navios, considera o aumento de produção de gás natural no País e visa atender à demanda da Petrobras na costa brasileira e na navegação fluvial, como já ocorre na região Norte e na Lagoa dos Patos, no Rio Grande do Sul.

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Grande potencial

Também no evento, a presidente da Petrobras, Magda Chambriard, disse que o Rio Grande do Sul vai receber muitos investimentos da companhia, não apenas nos estaleiros, como as encomendas de navios anunciadas, mas também nas refinarias e exploração. Segundo a executiva, no período do Plano Estratégico 2025-2029 da estatal, o Estado receberá projetos com “grande potencial de transformação”.

Magda destacou o início da exploração na bacia de Pelotas, que fica entre o extremo sul do Rio Grande do Sul, ao litoral sul de Santa Catarina, onde a estatal possui 29 blocos e está sendo considerada de grande potencial, por ter sido, no passado, integrada à Namíbia, país que recentemente descobriu reservatórios relevantes.

“Nossos estudos indicam grandes similaridades entre a bacia de Pelotas e a bacia da Namíbia, na África. A bacia da Namíbia está explodindo, está produzindo e já está sendo chamada de ‘Nova Guiana’, e nós continuamos trabalhando aqui, e achando que esse potencial que se apresenta na bacia da Namíbia temos que vir procurá-lo aqui, no Estado do Rio Grande do Sul, nessa bacia de Pelotas”, afirmou.

Os navios previstos no contrato assinado nesta segunda serão iniciados no estaleiro Rio Grande e finalizado no Rio de Janeiro, no estaleiro MacLaren. “Podemos fazer embarcações no Rio Grande do Sul com mais de 50% de conteúdo nacional”, destacou.

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Além disso, Magda destacou investimentos de R$ 8,5 bilhões nas duas refinarias da companhia no Estado no próximo quinquênio, sendo que uma, a Refinaria Riograndense, será transformada na primeira biorrefinaria do País. Incluindo paradas programadas, a estimativa é de gerar 24 mil postos de trabalho.

“Aqui no Rio Grande do Sul nós vamos ter a refinaria Rio Grandense como sendo a primeira biorrefinaria do País. A Riograndense vai se transformar numa refinaria que vai entregar derivados de óleo 100% vegetal. Ela vai ser a primeira do Brasil que não utilizará nenhuma gota de petróleo”, disse Magda.

Ela voltou a convocar os fornecedores da empresa para se prepararem, porque a empresa “vai pisar no acelerador” dos projetos, como já havia afirmado na segunda-feira, 17, durante evento em Angra dos Reis, no qual lançou a licitação para compra de oito gaseiros.

“Nós precisamos de fornecedores fortes, precisamos entregar nossas encomendas e precisamos que isso tudo aconteça a tempo e a hora. Portanto, nós desejamos que todos estejam muito preparados para atender a essas demandas, que vão ser cada vez maiores. De novo, fornecedores, estejam atentos, nós estamos pisando no acelerador e vamos precisar de vocês todos”, concluiu.

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