BRASÍLIA – A deliberação pelo governo de novas medidas para o enfrentamento da inflação de alimentos deve ficar para depois do carnaval, segundo pessoas que acompanham as tratativas. Três reuniões sobre o tema foram realizadas no Palácio do Planalto entre ontem e hoje, mas as medidas não foram definidas. Nesta terça-feira, 25, ministros apresentaram um rol de ações estudadas pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
O governo quer bater o martelo sobre as medidas a serem adotadas após ouvir o setor produtivo, especialmente exportadores. Há previsão de uma reunião na quinta-feira, 27, na Casa Civil com representantes e empresários exportadores de açúcar, etanol, carnes e biodiesel. A ideia do governo é discutir e alinhar com o setor produtivo, sobretudo exportadores, possibilidades para redução dos preços de alimentos.

A intenção, segundo apurou a reportagem, é fazer reuniões individuais com cada setor. Devem participar dos encontros o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro; o ministro da Fazenda, Fernando Haddad; o ministro chefe da Casa Civil, Rui Costa; o ministro do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar, Paulo Teixeira; o ministro da Secretaria de Comunicação Social, Sidônio Palmeira; e o presidente da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), Edegar Pretto.
Interlocutores relatam que as conversas sobre eventual limitação de exportação, chamada nos bastidores informalmente de comércio administrado, reduziram. O tema, contudo, ainda não foi plenamente descartado. Uma das fontes que acompanha as tratativas classifica o assunto como “risco pequeno”.
Limitação de exportações
Como mostrou o Estadão/Broadcast, entre as medidas em avaliação estariam a redução da tarifa de importações de alimentos e a limitação de exportações por cotas – medida que foi negada por autoridades em conversa com entidades exportadoras.
A equipe econômica, o Ministério da Agricultura e o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC) são contrários a qualquer proposta relacionada à limitação de exportações, segundo apurou a reportagem.
Açúcar e carnes foram citados entre os alimentos que poderiam potencialmente ter exportações limitadas, mas a proposta que foi apresentada em reunião ontem do grupo de trabalho sobre inflação de alimentos no Palácio do Planalto e repetida hoje em reunião entre técnicos teve ampla rejeição interna, segundo fontes.
Leia mais
O ministro do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar, Paulo Teixeira, foi um dos escalados para tranquilizar o setor produtivo. Teixeira ligou para uma entidade que representa o setor exportador e assegurou que o governo não irá limitar ou taxar exportações, apurou a reportagem. O ministro disse que a proposta está descartada por receio da desindustrialização a médio prazo.
A medida, segundo interlocutores, foi gestada pela Casa Civil e o Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar (MDA). A proposta foi apresentada em reunião ontem do grupo de trabalho sobre inflação de alimentos no Palácio do Planalto e repetida hoje em reunião entre técnicos, relatou um integrante do grupo.
O mecanismo a ser aplicado para limitação das exportações não foi apresentado no grupo. Outro interlocutor afirma que foram apresentadas ao grupo razões contrárias para não se limitar exportações, como falta de base legal, inibição de investimentos na produção e insegurança jurídica em contratos firmados. A fonte lembra que o próprio presidente Lula já descartou a ideia de taxar exportações.
A ideia do governo de eventualmente recorrer a medidas heterodoxas para combater a inflação de alimentos pode levar o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, a deixar a pasta, segundo apurou a reportagem. Procurado, o ministro negou.
Pessoas próximas ao ministro afirmam que Fávaro está descontente com a forma como o Executivo tem enfrentado a questão envolvendo a inflação de alimentos. Por lealdade ao presidente Lula, não faria críticas, cogitando então a opção de entregar o cargo.