Madero planeja novas lojas para 2025 e diz que dívida não é mais problema

Empresa não descarta uma abertura de capital, mas diz que isso não é a prioridade; estratégia para ampliar vendas é integrar cardápio com a marca Jeronimo

Foto do author Lucas Agrela
Atualização:

A rede de restaurantes Madero planeja retomar o crescimento no número de unidades no País em 2025, abrindo entre 20 e 25 lojas, sendo a maioria delas em shopping centers. A empresa fechou o ano de 2024 com 275 lojas, uma a menos do que em 2023. Ao longo do ano, a companhia fez mudanças no portfólio de 19 unidades, fechando unidades pouco lucrativas ou convertendo restaurantes para uma das suas duas marcas, Madero ou Jeronimo.

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O número de restaurantes deve continuar crescendo também em 2026, quando a companhia estima que irá abrir entre 30 e 35 novos locais.

A estratégia de crescimento prevista para este ano é não só abrir novas unidades como também aumentar a oferta de produtos no cardápio. Junior Durski, fundador e presidente da empresa, diz que observou aumento de até 60% nas vendas na unidade da Oscar Freire, inspirado no que era feito na loja da Rodovia Castelo Branco, ao passar a vender tanto produtos do Madero quanto do Jeronimo via totem de autoatendimento. Com isso, a expectativa é ampliar o projeto neste ano, à espera de um aumento nas vendas.

Segundo Durski, o plano para ampliar a presença nos shoppings é locar espaços que não ficam na praça de alimentação e, portanto, têm aluguéis mais baixos. Com isso, a lucratividade da unidade tende a ser maior. O presidente da empresa diz não estar preocupado com o aumento da taxa de juros, que tende a resfriar a economia do País e frear o consumo em 2025.

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“Tivemos crescimento de vendas nas mesmas lojas de 11% em 2024. Sinceramente, não acredito muito em como vai estar a economia. Acredito em como vamos estar. Vamos ter uma qualidade cada vez melhor e, se o cliente sair feliz, ele vai voltar para o restaurante”, afirma o executivo.

A expansão de novas unidades será por meio de lojas próprias, e as franquias não estão no radar de forma alguma. O motivo, diz Durski, é que a companhia deseja manter o ritmo de crescimento controlado para entregar a maior qualidade possível para os clientes, além do fato de os restaurantes próprios terem maior lucratividade no longo prazo do que as franquias. “Não acredito que consiga fazer uma extensão maior com franquias e manter a qualidade”, diz Durski.

No delivery, a empresa vem crescendo e hoje as vendas via aplicativos e serviço próprio de entregas representa cerca de uma a cada cinco vendas, totalizando R$ 420 milhões em 2024. A integração de cardápios de Madero e Jerônimo também tem implicações para o delivery já que uma mesma unidade poderá servir aos clientes dos aplicativos produtos das duas marcas. Além disso, a empresa passou a vender produtos congelados no delivery, como hambúrguer e batata frita, no projeto chamado “Madero para fazer em casa”.

Junior Durski, fundador e CEO do Madero, planeja retomar expansão de unidades em 2025 Foto: WERTHER SANTANA/ESTADÃO CONTEÚDO

Nas lojas de rua, a empresa passou a apostar no drive-thru no último ano, algo que ainda não era oferecido e já é tradicional em redes como o McDonald’s.

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No cardápio, o Madero prepara uma ampliação da oferta de carnes grelhadas, de churrasco, e passará a importar picanha do Uruguai. Na esteira dessa estratégia, a companhia também passou a oferecer nos seus restaurantes o bife de chorizo 1953, da JBS.

Cristina Souza, CEO da Gouvea Food Service, conta que a busca por eficiência tem sido a principal arma do setor de alimentação fora do lar para combater a inflação de preços de alimentos e o endividamento dos bares e restaurantes. Por isso, diz, é comum que as empresas que têm mais de uma marca ofereçam no cardápio opções de duas ou mais marcas, inclusive para fazer vendas via delivery.

“Uma das grandes palavras para a gente perseguir é eficiência, porque com relação a insumo há um limite do que você consegue buscar de eficiência para não prejudicar o produto”, afirma.

Cristina diz ainda que as vendas por delivery são uma forma de o consumidor continuar a comprar comida em restaurantes, mas as vendas fora da loja física tendem a ser com valores menores.

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“Se estou em casa com a família e posso pedir o delivery, não preciso comprar a bebida do restaurante ou a sobremesa. Tem uma pressão social menor. Quando você chega num restaurante, o garçom já te pergunta, entrada, prato 1, prato 2, vai comer sobremesa ou quer o cafezinho?”, diz.

Endividamento e IPO

O Madero passa por uma fase de redução das dívidas que contraiu no período da pandemia de covid-19. A dívida chegou a R$ 899 milhões em 2022, passou para R$ 787 milhões em 2023 e fechou o ano de 2024 em R$ 564 milhões. Neste ano, a empresa planeja amortizar R$ 150 milhões e tem planos para quitar as dívidas até o fim de 2029.

Mesmo com as amortizações de dívidas, a empresa tem hoje R$ 414 milhões em caixa e aplicações financeiras e elevou sua receita líquida de R$ 1,7 bilhão em 2023 para R$ 1,9 bilhão em 2024.

“A dívida deixou de ser um problema. Ela está muito bem gerenciada a 1,36x o Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização). São poucas as empresas que têm esse nível de endividamento. Para os bancos, até três vezes o Ebitda, está tudo bem”, diz Durski.

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A melhoria das finanças corporativas é vista pelo mercado como uma forma de preparar a companhia para uma abertura de capital na Bolsa de Valores (IPO). Segundo a empresa, embora essa seja uma possibilidade que será aproveitada se houver oportunidade, não é uma prioridade no momento. Com a elevação da taxa de juros, a chamada “janela de IPO” foi postergada, sendo este o maior período sem aberturas de capital das últimas duas décadas.

“Não é mais uma necessidade da companhia, é uma vontade que, se houver mercado com condições positivas, a companhia provavelmente buscaria isso”, diz o diretor de planejamento financeiro do Madero, Luiz Berbetz.

Cristina lembra que o endividamento do Madero é algo que simboliza os desafios que o setor de bares e restaurantes enfrentou durante a fase mais difícil da pandemia de covid-19, quando houve a restrição de circulação para evitar o contágio da doença e a população teve a renda pressionada, deixando de consumir itens que não eram essenciais.

Segundo a mais recente pesquisa da Associação Brasileiras de Bares e Restaurantes (Abrasel), 61% das empresas do setor de alimentação fora do lar não conseguiram alcançar resultados financeiros positivos em outubro, muitas ainda com dívidas feitas na pandemia.

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