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Parceria entre Magalu e AliExpress é o ‘pulo do gato’ para enfrentar a concorrência

Varejista brasileira amplia de forma exponencial a oferta de produtos e entra na ‘onda’ do cross border

Foto do author Márcia De Chiara
Atualização:

A parceria fechada entre o Magalu e a plataforma chinesa AliExpress, do Alibaba, que prevê a venda de produtos em ambos os marketplaces, foi avaliada como estratégia inteligente da gigante do varejo brasileiro para enfrentar a concorrência do Mercado Livre e o avanço dos sites asiáticos. Além disso, amplia exponencialmente a oferta de produtos, o que pode turbinar as vendas online, segundo especialistas consultados pelo Estadão.

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“É uma reação muito inteligente para os dois varejistas, mas principalmente para o Magalu, a fim de poder enfrentar a concorrência muito eficiente do Mercado Livre”, afirma o consultor de varejo Eugênio Foganholo, sócio da Mixxer Desenvolvimento Empresarial.

Não é possível mensurar quanto as duas empresas juntas vão deter do mercado online. No ano passado, o comércio online faturou R$ 185,7 bilhões e a perspectiva para este ano é atingir R$ 204 bilhões, segundo dados da Associação Brasileira de Comércio Eletrônico (Abcomm). A cifra se refere às vendas online totais, incluindo a receita dos marketplaces e dos sites internacionais.

Magalu fecha parceria com Aliexpress enfrenta a concorrência de sites internacionais  Foto: Felipe Rau/Estadão

Foganholo ressalta que atuação conjunta das duas empresas será muito forte. Essa informação é confirmada pelo vice-presidente da Abcomm, Rodrigo Bandeira. Mas o consultor não acredita que a parceria possa ser negativa para o consumidor em termos concorrenciais, por conta da concentração de mercado.

‘Coopetição’

O momento atual do comércio online é marcado por dois movimentos importantes: o avanço dos sites chineses e a proeminência do Mercado Livre. Foganholo acredita que esse tipo de acordo, que ele batizou de “coopetição” – uma combinação de competição como cooperação, a fim de gerar sinergia – deve se tornar cada vez mais frequente daqui para frente. “Não dá para controlar os competidores, especialmente os orientais, os chineses.”

Alberto Serrentino, fundador da consultoria Varese Retail e especialista em varejo, lembra da escalada das compras em sites internacionais (cross border) que explodiu na pandemia.

Esse movimento deu origem à Remessa Conforme (programa da Receita Federal que isenta a importação de mercadorias de até US$ 50 dólares para empresas que aderirem ao programa) e, mais recentemente, ao novo tratamento tributário das compras em sites estrangeiros abaixo de US$ 50.

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“Esse negócio (cross border) ficou muito grande, em 2022 bateu US$ 50 bilhões e no ano passado deve ter caído um pouco, mas continua muito relevante”, observa Serrentino. Na opinião do especialista, o acordo firmado entre o Magalu e o AliExpress é menos uma reação à atuação do Mercado Livre e muito mais à escalada do cross border.

Serrentino diz que o mais importante é a adesão forte dos clientes e que a base ativa de compradores mensais da Shein supera a do Magalu, assim como a base de clientes da Shopee é maior do que a do Mercado Livre.

“Esse negócio (cross border) é muito relevante e o Magalu estava completamente fora disso”, afirma o sócio da Varese. Ele argumenta também que o Mercado Livre tem muito pouco de cross border.

O acordo com o AliExpress “traz uma nova avenida para dentro do Magalu”, afirma Serrentino. A partir de agora a companhia brasileira vai competir com os asiáticos, com Shein, Temu, por exemplo.

O Temu está entrando no mercado brasileiro com muito apetite, lembra. “Depois de dois meses da estreia do Temu nos Estados Unidos, o site já tinha o aplicativo mais baixado no país e, no ano passado, foi o aplicativo mais baixado no mundo”, exemplifica.

O consultor lembra que o próprio Shopee que hoje declara que 90% das vendas são feitas por vendedores brasileiros, tem uma parte desses sellers que trazem produtos asiáticos e revendem no Brasil. “Há um peso grande do cross border e dos importados.”

Aliexpress, plataforma de comércio online do grupo chinês Alibaba Foto: Evgenia Novozhenina/Reuters

Ao entrar nesse jogo por meio da parceria, o Magalu poderá se tornar um competidor importante nesse mercado, prevê o consultor. Entre as vantagens do Magalu estão a base de clientes, o domínio dos meios de pagamento, crédito, logística, pós-venda, relacionamento com cliente e a marca forte, requisitos que, na maioria das vezes, não são preenchidos pelos sites internacionais.

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Salto na oferta

Enquanto a parceria é vista pelo mercado como uma resposta à atuação dos concorrentes, para o vice-presidente da Abcomm ela é “uma jogada estratégica bem pensada”.

Rodrigo Bandeira diz que o “pulo do gato” é complementação de catálogo de produtos, que tem crescimento exponencial com a venda de itens comercializados pelo AliExpress, especialmente aqueles de menor valor, que têm uma pequena fatia do marketplace do Magalu.

Segundo ele, para os varejistas envolvidos, a parceria funciona na prática como “ganhar mais dois andares de um shopping, do dia para noite, na véspera do Natal”, compara, fazendo alusão ao grande número de novos produtos disponíveis a partir de agora para venda.

Um dos grandes desafios do comércio online hoje é a audiência e a conversão desse fluxo de pessoas em vendas. Segundo Bandeira, a permanência de usuários do site num ambiente com maior oferta e variedade de produtos aumenta a chance de conversão em vendas. “Essa parceria é uma estratégia de negócio, não é boia salva vida como se chegou a comentar no mercado em razão de perda de valor dos papéis do Magalu.”

Procurados, o Mercado Livre e Shein informaram, por meio de suas assessorias, que não iriam se manifestar. Shopee não retornou a solicitação da reportagem até o fechamento desta edição.

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