Manifestações já comprometem entrega de gasolina e serviços de saúde; alimentos temem efeito

Apesar de decisão do Supremo Tribunal Federal determinar o fim imediato das manifestações golpistas, ainda há atos em andamento em diversas estradas do País. No Acre, Santa Catarina e Distrito Federal, há relatos sobre atraso em entrega de combustíveis

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Atualização:

O caos instaurado nas estradas federais por manifestantes que não aceitam o resultado das eleições começa a comprometer a entrega de combustível em diversas regiões do País, o que acaba por ter efeito em cascata e afeta diretamente operações de entrega de itens básicos para a população, como medicamentos e alimentos perecíveis, além de colocar em risco procedimentos médicos urgentes. O ritmo de abates poderá ser reduzido com a dificuldade da chegada de lotes de animais - bois, frangos e suínos - nas plantas frigoríficas.

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Em diversos Estados, como Acre e Rio Grande do Sul, há atrasos em entrega de combustíveis, o que tem efeito em cadeia e pode paralisar diversos serviços essenciais, como prestação de socorro e segurança pública. O presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Combustíveis do Distrito Federal (Sindicombustíveis-DF), Paulo Tavares, disse ao Estadão que as três grandes distribuidoras de Brasília, localizadas próxima à região central da capital federal, passaram a operar com a cota mínima de distribuição desde a noite de ontem.

“O objetivo, neste momento, é evitar desabastecimento, então as empresas passaram a liberar o mínimo para os postos. O álcool anidro já não está chegando”, disse Tavares. “Estamos em estado de atenção. Não falamos ainda em desabastecimento. São medidas para evitá-lo e estamos monitorando isso a todo instante.”

Paulo Tavares relata que alguns postos já reajustaram os preços e outros, com estoques mais baixos, podem sofrer com falta do insumo, prejudicando todos os consumidores.

Caminhoneiros realizam bloqueio nos dois sentidos da Rodovia Presidente Dutra, na altura do Km 281, em Barra Mansa, no Rio de Janeiro. FOTO: PEDRO KIRILOS / ESTADÃO 

Motoristas formam grandes filas em postos de gasolina localizados na Asa Sul de Brasília, região central da capital federal, na manhã desta terça-feira. Em 2018, filas enormes para abastecer os veículos foram vistas Brasil afora por causa da greve de caminhoneiros ocorrida em maio daquele ano e que provocou uma crise de desabastecimento no País, incluindo combustíveis.

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Empresas importantes do setor, como JBS e BRF, donas das marcas Seara e Sadia, por exemplo, começam a agir para desviar suas cargas para outras unidades e regiões. Segundo uma fonte do setor, os abates previstos para hoje foram suspensos. Segundo outra fonte, o Ministério da Agricultura começou a se movimentar pela manhã de ontem e buscou participantes da cadeia produtiva para calcular possíveis prejuízos à classe em meio às incertezas quanto ao fim das paralisações.

Outro ponto que preocupa o setor é o fato de as manifestações estarem concentradas em Santa Catarina, um dos principais Estados produtores de suínos, além de frangos, que depende do abastecimento de grãos de outras regiões para alimentação animal. “O setor de carnes está sofrendo prejuízos e pode ficar pior ainda. Leite já não passa, ração não chega. Prejuízos já estão se acumulando. Em Mococa (SP), o laticínio já avisou que não garante a coleta do leite e que não paga se azedar”, disse uma liderança do setor.

Nesta manhã, o ministro da Justiça, Anderson Torres, informou, por meio das redes sociais, que a Polícia Rodoviária Federal (PRF) trabalha “ininterruptamente” na liberação de estradas no País. De acordo com Torres, até as 5h30 de hoje 192 pontos de bloqueio já haviam sido eliminados. Ontem à noite, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes determinou o desbloqueio de rodovias interditadas por caminhoneiros apoiadores do presidente Bolsonaro desde que foi anunciada a vitória do petista Lula na eleição para o Palácio do Planalto. A Corte já tem maioria para confirmar a decisão do magistrado.

Saúde. Há apreensão ainda, sobre a entrega de remédios, principalmente para pacientes em situação grave e que dependem da utilização constante de medicamentos, além de prestação de serviços emergenciais. Em diversas cidades do País, formaram-se filas de abastecimento, com receio de que o insumo acabe.

A reportagem apurou que, em São Paulo, no Hospital Infantil Sabará, médicos e profissionais de saúde estão lidando com dificuldades para chegar ao trabalho, o que pode comprometer procedimentos agendados, além dos emergenciais. Aqueles médicos que conseguiram chegar à unidade estão se desdobrando para garantir o andamento dos serviços e prestar o atendimento às crianças.

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Após a publicação desta reportagem, o hospital informou, nesta quinta-feira, 3, que “o atendimento do Sabará Hospital Infantil não foi afetado em nada por conta desses bloqueios nas rodovias”. “A única informação que temos é que apenas um cuidador teve problemas, mas ele não trabalha na área de atendimento, logo, não prejudica em nada os procedimentos agendados, nem os atendimentos”, declarou a empresa.

Na segunda-feira, 31, a Frente Parlamentar Agropecuária fez um apelo aos manifestantes para que interrompam a paralisação, devido ao iminente comprometimento de alimentos perecíveis que estão em transporte.

“Os maus perdedores ideológicos que, durante quatro anos, falavam em Deus, pátria e família, agora desprendem seu ódio contra as famílias. Já existe decisão da Justiça Federal para liberar as rodovias e para que os bloqueios não comprometam o abastecimento em geral de bens e serviços”, diz o deputado federal Nereu Crispim (PSD-RS), presidente da Frente Parlamentar Mista em Defesa dos Caminhoneiros Autônomos e Celetistas.

“A frente parlamentar está pressionando o diretor-geral da Polícia Rodoviária Federal, Silvinei Vasques, para que cumpra a determinação e tenha a mesma atitude que teve no dia das eleições. Bote seu efetivo na rua e cumpra a o direito de ir e vir.”

As principais lideranças de caminhoneiros do País já se manifestaram contrários aos atos. O presidente da Associação Brasileira dos Condutores de Veículos Automotores (Abrava), Wallace Landim, o ‘Chorão’, disse que os motoristas mobilizados não falam pela categoria. Até mesmo lideranças que estão ao lado de Bolsonaro, como Marcos Antônio Pereira Gomes, conhecido como Zé Trovão, que foi deputado federal eleitor pelo PL-SC, já disseram ser contra as paralisações.

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