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Opinião|Extremos do clima e o perigo do 'business as usual'

Empresas podem apoiar poder público na oferta de soluções que mitiguem mudanças climáticas e tornem cidades mais resilientes

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Foto do author Marina Grossi

Chegamos à metade de 2024 colecionando eventos de clima extremo, a começar pela temperatura. O mês de junho quebrou o recorde de mês mais quente já registrado no mundo, após uma sequência de 13 meses de calor histórico, de acordo com o observatório europeu Copernicus. A temperatura média global dos últimos 12 meses, de julho de 2023 a junho de 2024, alcançou uma elevação de 1,64ºC acima da média pré-industrial (1850-1900), quando o acúmulo de gases do efeito estufa ainda não havia aquecido o planeta.

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Ainda de  acordo com o Copernicus, mais do que uma estatística, a mudança nas temperaturas é contínua e letal, com fortes ondas de calor durante o mês em lugares tão diversos quanto China, México, Grécia e Arábia Saudita. No país islâmico, o calor extremo matou mais de 1,3 mil pessoas durante a peregrinação do Hajj, que leva, todos os anos, milhões de pessoas a Meca, cidade sagrada para os muçulmanos. Neste ano, as temperaturas no deserto saudita alcançaram 51,8ºC à sombra, fazendo os peregrinos sucumbirem ao estresse térmico e insolação, mostrando a triste e mórbida face dos eventos climáticos extremos.

O Brasil também experimenta o impacto de eventos extremos cada vez menos espaçados. O país mal se refez da tragédia das inundações no Rio Grande do Sul, que deixou mais de 180 vítimas fatais, milhares de desabrigados e desalojados e incontáveis prejuízos financeiros no mês de maio, para assistir, estarrecido, às chamas consumindo o Pantanal após uma seca intensa, também sem precedentes, em junho. Em 2024, o Pantanal não teve seu período de cheia, que geralmente ocorre de outubro a abril, e é essencial para o modo de vida das populações locais e para a sobrevivência da fauna e da flora. Naquela que já é considerada a pior seca em 70 anos, o nível do Rio Paraguai esteve, em média, 68% abaixo do esperado para os primeiros cinco meses do ano.

Bombeiros combatem incêndio no Pantanal em julho; Pantanal foi o bioma brasileiro que mais perdeu água nos últimos 40 anos Foto: Alvaro Rezende/Governo Mato Grosso do Sul

Algumas regiões do planalto da bacia do Alto Paraguai registraram mais de 60% de suas áreas de vegetação nativa convertidas para outros usos, especialmente agropecuária. Isso contribui, década após década, para que a região se torne mais seca - além de fenômenos climáticos conhecidos, como El Niño, potencializado pelo aumento das temperaturas dos oceanos. Assim, o Pantanal foi o bioma brasileiro que mais perdeu água nos últimos 40 anos, segundo o Mapbiomas, relembrando o quanto nossos ecossistemas são interdependentes. A água que inunda a planície pantaneira vem de fora - principalmente do Cerrado, que tem registrado perdas recordes de desmatamento - e também do sul da Amazônia, região que também tem sofrido com a perda da biodiversidade. Segundo cientistas brasileiros, a combinação deletéria das mudanças climáticas globais com o alto grau de alteração da paisagem pode levar o bioma Pantanal a um ponto de não retorno.

Os alertas da comunidade científica são abundantes e a realidade bate à porta, de modo que é preciso apertar o passo quando o assunto são medidas tanto de mitigação, quanto de adaptação às mudanças climáticas. Ano após ano, COP após COP, o senso de urgência aumenta. O Brasil possui know-how para descarbonizar setores importantes como o agronegócio, de modo que podemos aumentar a produtividade sem a necessidade de desmatar nossos biomas; podemos avançar em tecnologias agrícolas de baixo carbono já testadas e aprovadas no campo, como o plantio direto, na qual o Brasil está à frente de países como os Estados Unidos, e os sistemas de integração lavoura-pecuária-floresta (iLPF), um modelo que o Brasil adaptou e melhorou - ambas as estratégias fazem parte do arsenal da agricultura regenerativa, que restaura os solos e os ecossistemas naturais. Nosso poderio agrícola está diretamente conectado aos serviços ambientais que os biomas nos prestam, e precisamos potencializar essa vocação a partir das soluções baseadas na natureza - um mercado para o qual podemos nos posicionar como fornecedores globais de tecnologia.

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No Brasil e no mundo, os negócios têm hoje o papel de serem agentes transformadores perante as crises ambientais que nos embalam. Muito já tem sido feito, como mostrou a recente tragédia no Rio Grande do Sul, com a iniciativa privada mobilizando recursos e pessoas nos momentos emergenciais, no suporte às famílias impactadas e também na manutenção da atividade econômica, crucial para a retomada. O risco climático tem sido cada vez mais percebido pelas empresas, governos e tomadores de decisões, mas é preciso maior celeridade e proatividade na incorporação dessas variáveis, de modo que possamos atuar de  forma mais ativa na prevenção de novas tragédias. As empresas podem apoiar o poder público na oferta de soluções e tecnologias que mitiguem as mudanças climáticas e tornem as cidades mais resilientes, ajudando a salvar vidas.

Opinião por Marina Grossi

Economista, presidente do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (Cebds)

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