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Opinião | O combustível do futuro é verde — e amarelo; País dá passo importante na busca pela sustentabilidade

Hidrogênio verde precisa ser visto como vetor de aceleração da reindustrialização do Brasil

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Foto do author Marina Grossi

O Brasil deu um importante passo no início de agosto, com a sanção da lei que regulamenta o chamado hidrogênio verde no País. A Lei 14.949/24 institui a Política Nacional do Hidrogênio de Baixa Emissão de Carbono, que regulamenta sua produção, propõe uma certificação voluntária e prevê incentivos fiscais para este que tem sido considerado o “combustível do futuro” — dada a sua multiplicidade de usos possíveis, na indústria, na produção de energia e no agronegócio.

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O texto aprovado traz as definições de hidrogênio verde (H₂V), obtido a partir da eletrólise da água com o uso de fontes renováveis, e de hidrogênio renovável, que resulta de outros processos produtivos além da eletrólise, como as rotas de reforma de metano ou de etanol.

O H₂V representa uma nova fronteira na busca pela sustentabilidade e é importante para a construção de uma matriz energética mais limpa. Seu potencial alinha-se à transição para uma economia de baixo carbono, posto que ele pode ser uma importante alternativa para a substituição dos combustíveis fósseis. Também pode ser uma grande oportunidade para a reindustrialização do Brasil em bases sustentáveis: além da produção do combustível em si, que pode ser exportado e armazenado por longos períodos, ele pode mover indústrias intensivas em energia e carbono, além de ser insumo para a produção de fertilizantes, hoje baseada em matéria-prima fóssil. O H₂V é também uma peça-chave para o fortalecimento de uma agricultura de baixo carbono.

O mundo já utiliza muito hidrogênio, majoritariamente produzido a partir de carvão ou gás natural, o chamado hidrogênio cinza — a demanda pelo combustível em 2020 foi de 90 milhões de toneladas. Por esse motivo, a produção de hidrogênio é responsável pela emissão de mais de 900 milhões de toneladas de CO₂ por ano, valor equivalente às emissões conjuntas do Reino Unido e da Indonésia. O ponto nevrálgico é que hoje é muito mais barato produzir o combustível a partir dessas fontes do que pelas renováveis: o custo de produção do hidrogênio cinza gira em torno de US$ 1/kg, enquanto o do H₂V é hoje acima de US$ 5/kg. A expectativa é de que, nos próximos anos, com expansão das fontes renováveis, haja uma redução do custo do H₂V, de modo que seja atingida a paridade de preço com o H₂ cinza até 2030.

Usina de hidrogênio verde em laboratório da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC); Brasil deverá ser um dos países com menor custo para produzir o combustível em 2030 Foto: FELIPE RAU

O Brasil pode ser um ator chave para reduzir o custo da produção. Não à toa, a BloombergNEF definiu o Brasil como um dos países que devem ter menor custo para produzir hidrogênio verde em 2030, devido à diversidade de fontes de geração renovável complementares entre si — tais como eólica, fotovoltaica, biomassa e hidrelétrica. As oportunidades do hidrogênio verde brasileiro podem gerar negócios entre US$ 15 bilhões a US$ 20 bilhões até 2040, segundo a consultoria McKinsey.

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O interesse pelo hidrogênio verde já foi mapeado pelo Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS). Em nosso estudo Roadmap: Os Caminhos do Setor Empresarial Brasileiro na Transição Energética Nacional, lançado em 2023, avaliamos a percepção das empresas em relação aos desafios e oportunidades da transição para a economia de baixo carbono, e notamos um crescente interesse na produção de H₂V. Na ocasião, identificamos mais de 24 Memorandos de Entendimento (MoU) envolvendo empresas de diversos setores interessadas em implementar plantas piloto, nas regiões Nordeste, Sudeste e Sul. Hoje, são 66 projetos em todo o País, que somam investimentos de R$ 188,7 bilhões, de acordo com estudo da Confederação Nacional da Indústria (CNI). A maior parte dos projetos se localiza próximo de portos, devido ao foco na exportação.

Liderar a produção e o fornecimento global do hidrogênio de baixo carbono é uma posição que podemos galgar. É preciso querer alcançar esse patamar, e o novo marco regulatório é um passo nessa direção. Mas é necessária uma estratégia bem fundamentada para esse novo mercado que se abre, de forma que não nos tornemos apenas um exportador de energia limpa na forma de hidrogênio, que acabará se tornando mais uma commodity. O H₂V precisa ser visto, sobretudo, como um vetor de aceleração da reindustrialização do País, a chamada neo-industrialização. Podemos utilizar nosso hidrogênio verde e renovável para produzir aço, minério de ferro, alumínio e combustíveis de aviação com baixas emissões, nos posicionando como fornecedores globais de produtos de baixo carbono.

Transicionar para uma nova matriz energética global é uma necessidade que se impõe, face à crise climática que já causa tantos impactos e ameaça a vida na Terra. O Brasil é dotado de muitos ingredientes que nos beneficiam nesse cenário, desde a abundância de recursos naturais fundamentais para a produção de energia, como sol, água, vento e biomassa, até a inovação presente em nossas universidades, empresas e centros de pesquisa. Temos um know-how imbatível na produção de etanol de cana-de-açúcar desde a década de 1970, e na agricultura tropical, com a Embrapa, que tornou o País um exportador global de alimentos. Podemos fazer o mesmo com o hidrogênio de baixo carbono e prosperar a partir das novas demandas do mercado, ocupando o papel de destaque que merecemos na transição energética justa.

Opinião por Marina Grossi

Economista, presidente do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (Cebds)

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