EXCLUSIVO PARA ASSINANTES

Opinião | Mulheres lideram a ação climática – e o mundo precisa ouvi-las

Enquanto mulheres estiverem ausentes das esferas de poder, desperdiçaremos talento, inovação e visão estratégica – tudo que é essencial para enfrentar a crise climática

Foto do author Marina Grossi

Ao redor do mundo, as mulheres têm sido uma grande força por trás dos marcos mais importantes que alcançamos no combate às mudanças climáticas. Desde jovens com grande destaque na mídia global, como a ativista sueca Greta Thunberg, que mobiliza pessoas de diversas partes do mundo ao protestar contra a inação climática, até importantes lideranças femininas, como a costarriquenha Christiana Figueres, Secretária Executiva da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC) de 2010 a 2016, que desempenhou um papel crucial na negociação e na construção do consenso global que levou ao Acordo de Paris, em 2015.

No Brasil, Marina Silva, em seus dois mandatos como ministra do Meio Ambiente (2003-2008 e atualmente), tem sido fundamental na redução do desmatamento, nosso maior fator de emissões de gases do efeito estufa. E, atuando ao seu lado, Ana Toni, secretária de Mudança do Clima no Ministério do Meio Ambiente, teve sua atuação impulsionada pelo novo cargo de CEO e diretora-executiva da COP-30, que acontece em Belém (PA), em novembro.

Ministra do Meio Ambiente, Marina Silva tem sido fundamental na redução do desmatamento Foto: Tiago Queiroz

PUBLICIDADE

Desproporcionalmente impactadas por uma realidade que já impõe temperaturas recordes, incêndios florestais destrutivos e inundações severas, as mulheres estão entre os grupos mais afetados pelos eventos relacionados ao clima não porque sejam mais vulneráveis, mas porque estão sujeitas a formas inerentes de discriminação e marginalização na sociedade. O relatório “Justiça Climática Feminista”, da ONU Mulheres, alerta que, caso a temperatura global suba 3ºC, 158 milhões de mulheres e meninas serão empurradas para a pobreza até 2050 – um número significativamente maior do que o de homens e meninos. Portanto, para mitigarmos os impactos das mudanças climáticas de forma justa, as considerações de gênero devem ser integradas às iniciativas, e as perspectivas das mulheres devem ser parte inerente dos debates e negociações climáticas.

Este desafio também está presente no setor privado, que tem muito a ganhar ao garantir mais mulheres em cargos de liderança. Estudos mostram que empresas com maior diversidade de gênero têm um desempenho ambiental e de governança mais robusto, investem mais em energia renovável e eficiência energética e reduzem suas emissões de carbono em maior escala. No Brasil, uma pesquisa da FGV revelou que a grande maioria das empresas bem avaliadas em sustentabilidade tem mulheres na liderança – um dado que reforça o impacto positivo da diversidade na tomada de decisões estratégicas.

Mulheres têm sido defensoras atuantes das políticas ambientais e de clima na esfera corporativa. Um interessante estudo de 2020 da BloombergNEF com a Sasakawa Peace Foundation, do Japão, mostrou que empresas com diversidade de gênero tendem a ter melhores relatórios ambientais e de governança climática do que seus pares, e tendem a fazer mais investimentos em geração de energia renovável e eficiência energética. A presença de mulheres nos conselhos de administração também é outro ponto observado no estudo: globalmente, a taxa de crescimento das emissões de gases de efeito estufa de empresas com mais de 30% de mulheres no conselho foi de apenas 0,6%, em comparação com 3,5% para as empresas sem nenhuma mulher no conselho. Esta hipótese é apoiada por dados de adotantes da Força-Tarefa sobre Divulgações Financeiras Relacionadas ao Clima (TCFD, na sigla em inglês). Dentre as empresas que reportaram riscos climáticos, as reduções nas emissões foram maiores nas empresas que tinham, pelo menos, 20% de mulheres em seus conselhos.

Publicidade

Ainda assim, as mulheres continuam sub-representadas nos espaços de decisão. Enquanto estiverem ausentes das esferas de poder, estaremos desperdiçando talento, inovação e visão estratégica – tudo o que é essencial para enfrentar a crise climática.

Já ultrapassamos, por meses consecutivos, o limite de 1,5ºC estabelecido no Acordo de Paris. A urgência da crise exige um esforço global para acelerar a transição para uma economia de baixo carbono – e as mulheres já estão arregaçando as mangas. O movimento Women Leading on Climate, do qual faço parte, reúne lideranças femininas de diferentes setores e países para fortalecer essa agenda. A COP-30 será uma oportunidade única para impulsionar a ambição climática necessária. Há espaço para todos na luta urgente para combater as mudanças climáticas e mudar nossa economia para uma base mais justa, mais verde e sustentável. Não há tempo a perder.

Opinião por Marina Grossi

Economista, presidente do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (Cebds)

Comentários

Os comentários são exclusivos para cadastrados.