BRASÍLIA – Após divulgar um vídeo com um “sósia” do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, questionando se há “privilégios” no órgão, a Marinha afirmou que a peça publicitária não é uma crítica ao pacote de corte de gastos capitaneado por Haddad e que mirou na previdência especial dos militares.
O vídeo foi publicado no domingo, 1. Na peça publicitária, aparecem militares da Marinha em treinamento, trabalhando em enchentes, estudando, mergulhando e encenando uma situação em que um navio afunda, enquanto outras pessoas fazem festa, aproveitam a praia, fazem yoga, viajam e comemoram aniversário com a família.
O material provocou críticas no Palácio do Planalto, conforme o Estadão mostrou. Nos bastidores, ministros classificaram como “desastre” e “tiro no pé” a gravação, que ainda mostra um fuzileiro naval parecido com Fernando Haddad, aos 21 segundos. O vídeo encerra com uma militar falando: “Privilégios? Vem para a Marinha!”
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“A peça publicitária não visa dirigir eventual crítica ao conjunto de medidas relacionadas ao ajuste fiscal atualmente em discussão”, diz nota da Marinha enviada ao Estadão nesta terça-feira, 3, após ser questionada pela reportagem há dois dias.
“Sua intenção é destacar e reconhecer o constante sacrifício de marinheiros e fuzileiros navais, que trabalham incansavelmente para a Defesa da Pátria e o desenvolvimento nacional, atividades essenciais para que a sociedade em geral possa desfrutar de vida mais próspera e segura”, diz o texto.
O vídeo foi publicado nas redes sociais do órgão militar em alusão ao Dia do Marinheiro, que é comemorado no dia 13 de dezembro.
“A peça tem, ainda, o objetivo de inspirar e atrair jovens genuinamente vocacionados para a carreira naval, chamando atenção para a realidade da vida na Marinha, marcada por desafios e dedicação integral ao serviço”, diz a nota da Marinha.
‘Fluxo de carreira’
Na semana passada, como o Estadão revelou, a cúpula da Marinha divulgou um comunicado em que questiona as medidas do governo de mudanças na previdência dos militares.
A principal preocupação é com a proposta que cria uma idade mínima de 55 anos para a reserva remunerada, com período de transição. Hoje, o critério para aposentadoria é pelo tempo de serviço – ao menos 35 anos.
No documento, a Marinha aponta uma preocupação envolvendo o “fluxo da carreira”, com a possibilidade de haver uma corrida de militares para a aposentadoria precoce e o consequente “esvaziamento dos postos e graduações superiores da carreira de forma intempestiva”.
No sábado, em reunião com Lula, o ministro da Defesa e representantes das Forças Armadas pediram a Lula alívio na criação da idade mínima. Sem deliberação final sobre o assunto, nesta segunda-feira, o governo enviou ao Congresso a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) com mais medidas do pacote de contenção de gastos – dois projetos já haviam sido enviados na sexta-feira –, mas deixou os militares de fora.
Nesta terça, o secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Dario Durigan, afirmou que a proposta de alterações na previdência dos militares, parte do pacote fiscal do governo, “está vindo para o Congresso”.
Questionado se há um prazo para o envio do projeto de lei, Durigan disse que os textos estão sendo concluídos. “Devem estar chegando. Eu não consigo confirmar, porque agora depende de os ministérios todos avaliarem e mandarem para a Casa Civil, para a Casa Civil remeter para cá. Mas isso vem”.
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