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Marinho diz que vai apresentar projeto para regular trabalho por apps com ou sem acordo com empresas

Governo chegou a sugerir pagamento mínimo de R$ 17 por hora rodada a entregadores, mas não formalizou a proposta, apurou o ‘Estadão’; no caso dos motoristas, piso acordado é de R$ 30 por hora

Foto do author Mariana Carneiro
Atualização:

BRASÍLIA – Diante do impasse na negociação entre as empresas de aplicativos, como Ifood, e os entregadores por moto ou bicicleta, o governo deverá enviar um projeto de lei ao Congresso Nacional arbitrando os valores da remuneração mínima da atividade. Desde a semana passada, quando acabou oficialmente o prazo de funcionamento do grupo de trabalho criado pelo governo Lula sobre o tema, as partes tentam um acordo, sem sucesso.

Nesta segunda-feira, 9, o ministro do Trabalho, Luiz Marinho, afirmou que a previsão é enviar um projeto de lei ao Congresso com as bases dessa regulamentação em 15 dias.

As empresas e os motoristas de aplicativos, como Uber e 99, já estão próximos de um acordo, como antecipou o Estadão na semana passada.

Impasse é maior com proposta para entregadores.   Foto: Tiago Queiroz/ Estadão

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Mas os motoboys e os ciclistas ficaram de fora. A dificuldade é que o governo exige que o piso da remuneração seja de um salário mínimo mensal e que haja contribuição de empresas e trabalhadores para a Previdência Social.

No caso dos motoristas, o acordo costurado é para que haja o pagamento mínimo de R$ 30 por hora rodada. Incidirá sobre 25% desse valor as alíquotas de 20% (patronal) e 7,5% (trabalhador) de contribuição para a Previdência. Os contratos de trabalho serão pelo modelo de prestação de serviços.

Para os entregadores, as empresas ofereceram R$ 12 por hora rodada, mas os representantes dos trabalhadores pediram R$ 35. Além disso, não há acordo entre as partes sobre o conceito da hora trabalhada – as empresas querem computar apenas a hora da entrega e os trabalhadores, a hora logada (quando é feito o acesso ao aplicativo).

A dificuldade também ocorre porque a categoria é mais diversa do que a dos motoristas. Há trabalhadores que têm contratos de trabalho CLT com restaurantes e lojas; outros são vinculados aos aplicativos, como Ifood, e ainda há os que só fazem bicos.

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Durante a negociação, segundo apurou o Estadão, o governo chegou a sugerir como solução intermediária R$ 17 por hora rodada, mas não formalizou a proposta. O número foi rechaçado pelos dois lados. Os trabalhadores, pelo uso do critério da hora rodada; as empresas, pelo elevado valor que isso pode representar na contribuição delas para a Previdência. Desde então, representantes das duas partes seguem em tratativas, mas distantes de um consenso.

Marinho admitiu, nesta segunda, a falta de acordo para os trabalhadores de duas rodas e reforçou que o governo fará a arbitragem. Auxiliares de Lula cogitam subir este valor mínimo para atender aos motoboys, mas dizem que a palavra final será do presidente Lula, uma vez que a regulação do mercado foi uma promessa de campanha dele.

“Nos aplicativos de entregadores, ainda não chegamos a um acordo; não está fácil. No projeto que vamos remeter ao Congresso Nacional, vamos arbitrar o que vai acontecer, porque as empresas estão muito duras”, disse ele, em audiência pública no Senado nesta segunda-feira. “(As duas categorias, de motoristas e entregadores) Vão junto. Se dependesse de acordo nas duas rodas, não iriam”, disse Marinho.

O ministro evitou fazer previsões sobre se a regulamentação será aprovada ainda neste ano, como prometeu Lula. O risco de se enviar um projeto sem o acordo prévio de empregadores e trabalhadores é o tema empacar no Congresso. Questionado, no entanto, Marinho minimizou esse risco. “É da vida”.

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Eduardo Lima de Souza, presidente da Amasp (Associação dos Motoristas de Aplicativos de São Paulo), afirma que os motoristas paulistas não estão satisfeitos nem com a hora de R$ 30, nem com a exigência de contribuição para a Previdência.

“O governo quer impor uma alíquota mínima só para cobrar imposto. A classe é contra e vamos trabalhar contra no Congresso”, disse.

Durante as negociações, outros temas foram abordados, como o pagamento de vale-alimentação e seguro, também sem acordo. As empresas de aplicativos de transporte prometeram enviar relatórios mensais aos motoristas com um resumo das horas trabalhadas, e também aumentar a transparência do algoritmo sobre tempo de espera por novas corridas.

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As maiores empresas de aplicativos oferecem seguros de vida a seus trabalhadores e não consideram que esse seja um ponto de atrito.

A Associação Brasileira de Mobilidade e Tecnologia (Amobitec), que reúne empresas como Uber, 99, Ifood, Amazon e Zé Delivery, lançou uma nota nesta segunda-feira em que voltou a defender a oferta feita aos trabalhadores no início da negociação, em agosto. Segundo a entidade, os R$ 12 por hora trabalhada oferecidos aos motoboys equivalem a 200% do valor por hora do salário mínimo.

“A Amobitec tem defendido que a discussão de ganhos mínimos e de contribuição previdenciária deve considerar o perfil de engajamento dos trabalhadores e, desta forma, não onerar demasiadamente esses profissionais”, afirma a nota.

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