McKinsey pagará US$ 650 milhões em acordo judicial sobre trabalho com empresa de opioides

Um sócio sênior da empresa de consultoria também se declarou culpado de obstrução da Justiça após destruir documentos relacionados ao caso

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Por Walt Bogdanovich (The New York Times) e Michael Forsythe (The New York Times)

A McKinsey & Company concordou em pagar US$ 650 milhões para resolver uma investigação do Departamento de Justiça sobre seu trabalho com o fabricante de opioides Purdue Pharma. Um ex-sócio sênior da empresa, Martin Elling, também concordou em se declarar culpado de obstrução da Justiça por destruir registros internos da empresa em conexão com esse trabalho.

No centro do caso do governo estava o conselho da McKinsey de que a Purdue Pharma deveria “impulsionar” as vendas do analgésico OxyContin, carro-chefe da Purdue, em meio a uma epidemia de dependência de opioides que estava matando centenas de milhares de americanos. Mais de duas dezenas de sócios da McKinsey deram consultoria para a Purdue ao longo de aproximadamente 15 anos, o que rendeu à firma algo como US$ 93 milhões.

Estande da McKinsey em uma feira na Espanha: empresa é uma das principais consultorias globais Foto: Thomas Coex/AFP

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Nos últimos anos, a McKinsey resolveu diversas investigações governamentais, neste país e no exterior, pagando centenas de milhões de dólares sem admitir ter cometido nenhum ato ilícito. Isso não é mais verdade.

A empresa emitiu um comunicado nesta sexta-feira, 13, pedindo desculpas por seu trabalho com o fabricante de opioides.

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“Estamos profundamente arrependidos pelo nosso serviço passado para a Purdue Pharma e as ações de um ex-sócio que excluiu documentos relacionados ao seu trabalho para esse cliente”, escreveu a firma de consultoria. “Deveríamos ter avaliado o dano que os opioides estavam causando em nossa sociedade e não deveríamos ter empreendido trabalho de vendas e marketing para a Purdue Pharma. Esta terrível crise de saúde pública e nosso trabalho para fabricantes de opioides sempre serão uma fonte de profundo arrependimento para nossa firma.”

A decisão de Elling de se declarar culpado por destruir registros internos da empresa segue um anúncio este mês feito por promotores federais de que outro ex-sócio sênior da McKinsey, Vikas Sagar, se declarou culpado de conspirar para violar o Foreign Corrupt Practices Act em conexão com o pagamento de subornos para garantir contratos do governo sul-africano para a firma. A McKinsey já havia demitido Sagar.

Para resolver esse caso, a McKinsey concordou em pagar uma multa de mais de US$ 122 milhões e disse que “continuará a cooperar” com as autoridades sul-africanas e dos EUA em outras investigações. A firma já havia concordado em pagar cerca de US$ 1 bilhão para Estados, municípios e outros reclamantes para encerrar investigações sobre seu trabalho com a Purdue e outros fabricantes de opioides.

A McKinsey é amplamente considerada a empresa de consultoria de gestão mais prestigiosa, com escritórios ao redor do mundo, dos quais aconselha a maioria das empresas Fortune 500, bem como agências governamentais, incluindo aquelas em nações autoritárias, como China e Arábia Saudita.

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Em 2018, depois que Massachusetts processou a Purdue por sua comercialização de produtos opioides, dois dos principais sócios da firma que supervisionavam a conta da Purdue, Elling e Arnab Ghatak, discutiram como lidar com isso.

Num e-mail para Ghatak, Elling escreveu: “Provavelmente faz sentido ter uma conversa rápida com o comitê de risco para ver se deveríamos estar fazendo algo” além de “eliminar todos os nossos documentos e e-mails. Suspeito que não, mas à medida que as coisas se complicam lá, alguém pode recorrer a nós”. No mês seguinte, Elling escreveu um e-mail para si mesmo que dizia “apagar documentos antigos da Purdue do laptop”.

Ambos foram demitidos depois que o Times escreveu pela primeira vez sobre suas comunicações, no final de 2020.

Em uma declaração, Ghatak disse que se sentiu atendido pela confissão de culpa de Elling, acrescentando que “nunca se envolveu em exclusão imprópria e a McKinsey agiu de forma inconcebível ao me usar como bode expiatório e difamar-me repetidamente”.

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O caso da McKinsey não está relacionado ao plano de falência da Purdue Pharma, que teria oferecido compensação a dezenas de milhares de famílias.

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