BRASÍLIA - Uma funcionária da Caixa disse ao Broadcast/Estadão ter sido assediada pelo ex-presidente do banco Pedro Guimarães em um jantar da empresa em Brasília. No início do ano passado, Guimarães teria a abraçado pela cintura para tirar uma foto e mantido o abraço depois, contra a vontade da mulher, apertando-a contra seu quadril e pedindo que ela o “abraçasse forte”. “Mantém a mão. Me abraça forte, me aperta, está com medo de mim?” disse Guimarães, segundo contou a servidora.
O novo relato se soma a outras denúncias de assédio contra o ex-presidente trazidas à tona pelo site Metrópoles e que levaram ao pedido de demissão de Guimarães do cargo na última quarta-feira. A acusação ainda não está sob investigação formal - a servidora pretende procurar o Ministério Público Federal (MPF), mas teme que o caso venha a público e que possa sofrer represálias, a principal delas financeira, com a perda do cargo de confiança que ocupa na empresa e que responde por boa parte de seu salário.
À reportagem, Maria (nome fictício que será usado para preservar a identidade da funcionária) contou que o superintendente de seu setor participou de um evento no Palácio do Planalto, em Brasília. De lá, mandou uma mensagem para ela dizendo que foi orientado por superiores a indicar uma mulher que ocupasse cargo de gerência para participar de um jantar, no mesmo dia, com o então presidente da Caixa, Pedro Guimarães.
A alegação era de que era necessária a indicação de mulheres para promover a “equidade de gênero”. Outras mulheres de outros setores também foram escolhidas.
No jantar (cujo local e data não serão divulgados para evitar a identificação da funcionária), Maria sentou-se à mesa com nove mulheres e o vice-presidente responsável pela sua área de atuação. Cerca de 80 pessoas estavam no local. Guimarães passou de mesa em mesa tirando fotos com os presentes.
De acordo com o relato de Maria, o ex-presidente a abraçou pela cintura e pediu que ela também o abraçasse pela cintura. Quando o fotógrafo terminou as fotos, ela tentou tirar o braço, mas Guimarães pediu que ela mantivesse o enlace. “Por que você abaixou a mão? Mantém a mão. Me abraça forte, me aperta, tá com medo de mim?”, teria dito o então presidente, segundo a funcionária. Maria disse que tentou tirar a mão por mais duas vezes e foi impedida por Guimarães, que a apertava forte.
“Ele me ‘encoxava’, apertando a minha cintura. Beijava minha cabeça várias vezes”, afirmou. “Toda vez que eu tentava tirar a mão ele mandava eu colocar de novo com veemência”.
De acordo com Maria, o ato foi interrompido cerca de cinco minutos depois, quando ela conseguiu retirar o braço. No dia seguinte, ela relatou o ocorrido a superiores, que minimizaram o acontecido, que foi tratado como uma brincadeira.
A funcionária disse que não levou a denúncia adiante na época temendo ser prejudicada, mas resolveu falar agora diante dos outros casos para reforçar as acusações das colegas. “Às vezes no mundo corporativo você precisa fingir de besta pra sobreviver. Mas eu não poderia me calar agora e deixar as pessoas achando que isso não é verdade, que é brincadeira”, afirmou.
Elevador
A reportagem também ouviu o relato de uma outra funcionária sobre casos de assédio na Caixa. Essa servidora disse que, diante de inúmeros rumores, teve que tomar atitudes como evitar elevadores que o presidente pudesse usar. Ela também diz ter negado convites para viagens na qual Guimarães pudesse estar presente e chegou a dispensar promoções em que ganharia aumento de R$ 10 mil para não trabalhar próxima à presidência.
Procurado, o advogado de Pedro Guimarães, José Luis Oliveira Lima, disse que o cliente nega “categoricamente” que tenha praticado qualquer conduta fora dos padrões éticos. “Pedro Guimarães, na verdade, está sendo vítima de um processo eleitoral intenso e polarizado”, disse o advogado, em nota. A Caixa também foi procurada, mas ainda não se pronunciou.
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