Medidas para ativar mercado de carros e caminhões terão poucos efeitos, avaliam consultores

Carros de até R$ 120 mil terão bônus de R$ 2 mil a R$ 8 mil; descontos serão mantidos até verba destinada ao programa, de R$ 500 milhões, se esgotar

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Foto do author Cleide Silva
Atualização:

As medidas anunciadas nesta segunda-feira, 5, para batear os preços dos automóveis, em especial os chamados carros populares, e incentivar a renovação da frota de caminhões e ônibus, não devem ter o efeito inicialmente esperado pelas fabricantes, de ampliar as vendas entre 200 mil e 300 mil unidades.

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“Acho que está mais para 100 mil, se chegar lá”, diz o consultor especializado em setor automotivo Ricardo Bacellar, da Bacellar Advisory Boards.

Em sua opinião, o principal problema para a retração do mercado automotivo brasileiro é o empobrecimento da classe média, importante consumidora do segmento. Juros altos e carros mais caros só aprofundam ainda mais a falta de acesso aos bens de consumo de maior valor.

“Se já está difícil em bens menos caros, a ponto de vermos a crise de grupos como Americanas e Magazine Luiza, imagina em um produto como o automóvel”, diz Bacellar.

Rafael Cagnin, economista do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), avalia que o financiamento, modalidade importante no comércio de veículos, continua prejudicado pelo nível de juros.

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Por outro lado, diz ele, o fato de a medida ser de curta duração pode concentrar as decisões de compra de uma parcela de consumidores e deve ajudar o mercado, “mas não o suficiente para cobrir as expressivas perdas da pandemia”.

Haddad e Alckmin anunciam programa de incentivo para a indústria automobilística Foto: Wilton Junior/Estadão

Pelo pacote anunciado nesta segunda, o governo colocará no mercado R$ 500 milhões para subsidiar a compra de carros novos de até R$ 120 mil por meio de bônus que vão de R$ 2 mil a R$ 8 mil, sendo que o desconto mais alto será aplicado para modelos mais baratos, chamados de entrada. Os dois mais em conta atualmente são o Fiat Mobi e o Renault Kwid, que custam R$ 68.990.

Com o maior bônus, os preços cairiam para R$ 60.990, mas podem diminuir ainda mais, segundo o vice-presidente Geraldo Alckmin, durante a apresentação das medidas. “O desconto deve ser bem maior porque haverá concorrência e cada empresa vai dar mais descontos.”

Após o anúncio do pacote, a Volkswagen comunicou que todas as suas concessionárias estarão prontas já a partir desta terça-feira, 6, para aplicar os preços reduzidos. A montadora informa que vai expandir a oferta e oferecerá bônus de até R$ 5 mil ou taxa zero nos financiamentos aos consumidores. outras fabricantes foram consultadas, mas a maioria informou que ainda iria analisar as medidas.

A duração do programa vai até os R$ 500 milhões de subsídios se esgotarem. Nos primeiros 15 dias, os descontos serão dados apenas para pessoas físicas, e o prazo poderá ser prorrogada se houver muita demanda. Depois disso, locadoras e frotistas também terão acesso aos carros com descontos.

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Desde o início da segunda quinzena de maio, as vendas começaram a cair porque os consumidores ficaram à espera do pacote de corte de preços. Nos primeiros dias úteis de junho, a média diária de vendas foi de 6.667 unidades, 9,2% menor em relação ao mesmo intervalo do mesmo período em 2022. Em todo o mês de maio, a média foi de 7.565 unidades.

Na situação crítica em que o mercado está, qualquer sinalização tem algo positivo

Ricardo Bacellar, consultor da Bacellar Advisory Boards

Já os subsídios para incentivar a troca de caminhões acima de 20 anos por modelos mais novos, que vão variar de R$ 33,6 mil a R$ 99,4 mil, “não chegam nem perto de cobrir o gap” (diferença) entre um modelo com tecnologia anterior, chamada de Euro 5, de um modelo atual, com tecnologia Euro 6, afirma Bacellar. Para esse programa serão destinados R$ 700 milhões.

Ainda assim, o consultor avalia que a iniciativa, tanto para automóveis quanto para caminhões e ônibus, é boa, pois, “na situação crítica em que o mercado está, qualquer sinalização tem algo positivo”. Segundo ele, “vai beneficiar algumas poucas pessoas que ainda conseguem comprar automóveis novos.”/Colaborou Eduardo Laguna

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