‘O meio ambiente é chave para retomada do crescimento brasileiro’, diz Mendonça de Barros

Economista afirma que o País pode atrair investimentos se Lula der uma guinada na política ambiental e criar regra fiscal ‘crível’

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Foto do author Luciana Dyniewicz

Apesar das perspectivas para um 2023 difícil na área econômica, há oportunidades para o novo governo Lula amenizar esse cenário e preparar o País para avançar com maior velocidade em 2024. O economista José Roberto Mendonça de Barros, da MB Associados, aponta que uma guinada na política ambiental pode ser um dos principais chamarizes de investimento internacional nos próximos anos.

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Segundo ele, medidas de preservação do meio ambiente, aliadas à retomada da diplomacia com o mundo e a investimentos na área de educação e pesquisa, podem elevar o fluxo de capital para o País. Consequentemente, a taxa de câmbio recuaria, diminuindo a inflação e permitindo que o Banco Central cortasse o juro.

“Essas medidas não dependem do Congresso nem de grande volume de dinheiro – mesmo porque não tem dinheiro. Elas são um grande ativo que não podemos perder. Pouca gente se objetaria a isso. Junto com o fiscal, isso permite algo rápido e construtivo”, destaca.

Mendonça de Barros acrescenta, porém, que tudo isso precisa ser feito ao mesmo tempo em que se crie uma regra fiscal “crível”. “Os atores do mercado estão dispostos a comprar essa regra. Ninguém está exigindo mundos e fundos”, acrescenta.

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A seguir, trechos da entrevista.

Qual economia o presidente eleito vai herdar?

Lula reclamou da herança em 2003, mas agora que vai receber a herança maldita de verdade. Temos uma longa estagnação. O Brasil não cresce há tempo, e país que não cresce há tempo tem dificuldade de distribuição do bolo. O País também vive uma combinação de pandemia com o que aconteceu depois e acentuou a disparidade econômica. Na pandemia, empresas maiores, boa parte que está na B3, reagiram de forma construtiva. Empresas bem administradas, com balanço robusto e capacidade de recorrer ao mercado de capitais melhoraram o desempenho produtivo. Parte delas está ligadas ao resto do mundo ou ao setor de commodities. Com a política fiscal expansionista, elas se saíram bem e a força de trabalho ligada a elas também. Essa força é de pessoas com nível escolar e produtividade mais altos. Além dessas empresas, startups também se saíram bem. Elas são inovadoras o suficiente para promover produtividade. Mas a maior parte das empresas médias e pequenas não foi bem, e a maior parte da população é ligada a elas. Isso resulta em indicadores econômicos piores. Então, o desafio do novo governo não é só digerir a herança fiscal, mas trazer o crescimento sustentado de volta. E tem que fazer as duas coisas ao mesmo tempo. A bomba fiscal é um pepino sem tamanho, e será importante que a regra fiscal seja vista como crível.

Mendonça de Barros:'Temos chance de voltar a crescer, não de forma rápida, mas sustentável' Foto: Daniel Teixeira/Estadão - 23/3/2018

O que será possível fazer?

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É preciso um conjunto de ações que vão além das reformas, administrativa e tributária, por exemplo. O que pode ajudar na retomada de um crescimento sustentável e que o governo Lula tem possibilidade de definir rapidamente é a política de acabar com a destruição da Amazônia. Isso e a diplomacia podem ser alavancas fundamentais. Como ficou óbvio com a questão da Noruega (que anunciou o desbloqueio de verbas do Fundo Amazônico após a vitória de Lula) , isso destrava, abre a possibilidade de investimentos internacionais imediatos e vem junto à proposta de desenvolvimento econômico verde. Projetos de hidrogênio verde estão aguardando esse tipo de medida. O Brasil pode se tornar uma potência verde, e isso ajuda a indústria nacional. Equipamentos podem ser produzidos no Brasil. Então: Amazônia, meio ambiente, Itamaraty e energia formam um conjunto fundamental e uma alavanca de retomada rápida.

Outras áreas do futuro governo podem ajudar?

Outra bola pedindo para ir para o gol é a questão de educação, ciência e tecnologia. Universidades estão sofrendo asfixia, além da falta de entendimento de o que é ciência. Uma política que mude isso e a questão ambiental tem a possibilidade de abrir a porta para investimentos estrangeiros. Com isso sendo bem feito, o câmbio cai e tende a ajudar o trabalho fiscal. Aí o Banco Central, pode reduzir o juro. Essas medidas não dependem do Congresso nem de grande volume de dinheiro – mesmo porque não tem dinheiro. Elas são um grande ativo que não podemos perder. Pouca gente se objetaria a isso. Junto com o fiscal, isso permite algo rápido e construtivo.

Quando o sr. fala que Lula receberá uma herança maldita, refere-se à situação fiscal ou ao cenário econômico como um todo?

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É o fiscal, o meio ambiente, o crescimento, os resultados econômicos e sociais. Foi feito um embelezamento de tudo. A relação dívida/PIB caiu, mas porque a inflação aumentou, porque houve um choque de commodities favorável ao Brasil, que vai mudar, e porque todos os tipos de gastos foram postergados.

Como o cenário internacional pode interferir na economia brasileira em 2023?

Teremos um baixo crescimento global. No mundo ocidental, por causa da inflação e da política monetária dura, a desaceleração vai ser muito forte. Na Ásia tem a desaceleração da China. Isso fará o preço das commodities cair. O cenário é muito difícil. Por outro lado, podemos ganhar com a volta da diplomacia, de acordos comerciais. Mas não dá para esquecer que o cenário internacional é enormemente desafiador.

O panorama para 2023, portanto, é negativo?

Tem um caminho possível, mas vai depender da habilidade de montar a regra fiscal. Os atores do mercado estão dispostos a comprar essa regra. Ninguém está exigindo mundos e fundos. O desenvolvimento depende de criar uma expectativa de que um futuro melhor é possível. O investimento é feito se o empresário acredita que ele vai dar certo. Para isso, depende da construção de um ambiente favorável. Acho que há possibilidade de construir essa expectativa positiva. Por isso, acho que o meio ambiente é chave. Temos chance de voltar a crescer, não de forma rápida, mas sustentável.

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