O mercado financeiro reagiu bem ao resultado das eleições deste domingo, 2, que apontou um segundo turno entre Lula e Jair Bolsonaro. O Ibovespa registrava, às 12h, uma forte alta de 4,80%, voltando ao patamar de 115 mil pontos. O dólar, por sua vez, operava em queda de 4%, aos R$ 5,1740.
A avaliação dos economistas é que um segundo turno é positivo por forçar os candidatos a apresentarem com mais detalhes o que pretendem fazer na economia, o que foi evitado até agora. No caso de Lula, que ficou em primeiro lugar na votação de ontem, espera-se alguma sinalização mais firme de como será composta sua equipe econômica.
A Guide Investimentos disse que já esperava uma reação positiva dos ativos brasileiro hoje em função do resultado das eleições. “Os números mostram um congresso de maioria de centro-direita, o que deve fazer com que um eventual governo Lula tenha de vir para o “centro” para conseguir aprovar medidas no congresso. Além disso, ainda não dá pra descartar uma vitória de Bolsonaro. A reação mais positiva hoje deve vir de empresas estatais”, disse a instituição, em comentário a clientes.
Para o banco Barclays, a diferença mais apertada do que o esperado entre Lula e Bolsonaro no primeiro turno das eleições pode resultar em alguma moderação na retórica política de ambos os candidatos, mas também em promessas populistas.
“Dado que ambos os candidatos já contam com alto reconhecimento e bases sólidas de apoio político, eles precisarão moderar a polarização e se concentrar mais em suas propostas reais, muitas das quais não foram abordadas no primeiro turno da campanha”, afirma o banco britânico, em relatório. “Como resultado, podemos observar um aumento nas promessas populistas, principalmente as relacionadas a benefícios de bem-estar social, como já visto no Auxílio Brasil.”
De acordo com o BTG Pactual, Lula continua sendo o favorito, mas a margem mais apertada do que o esperado deixa a porta aberta para Bolsonaro mudar as coisas. “E, talvez mais importante, poderia forçar Lula a se mover mais para o centro e a esclarecer sua agenda econômica”, afirmam os analistas Carlos Sequeira, Osni Carfi e Guilherme Gutilla, em relatório divulgado nesta segunda-feira.
Em relação aos resultados no Congresso Nacional, os analistas destacam que a “movimentação para a direita” no legislativo também é positiva. “Um Congresso de centro-direita reforça a necessidade de o ex-presidente Lula negociar uma nova legislação se eleito, possivelmente limitando o espaço para propostas radicais”, justificam.
“A gente discutia se Lula levaria no primeiro turno ou não. Ele ainda é favorito para vencer no segundo turno, mas vai ser mais complicado do que, acho, todo mundo estava trabalhando”, disse o economista Alexandre Schwartsman, ex-diretor do Banco Central. “Ele está perto, não precisa de muito, mas vai ter de puxar os votos do pessoal que votou em (Simone) Tebet e Ciro (Gomes).”
Segundo ele, o sinal é de que Lula não vai ter carta branca e vai precisar entrar numa negociação mais dura. “É um resultado menos ruim do que com Lula sem qualquer freio”, afirma.
Embora o tempo até o segundo turno seja curto para que o governo Bolsonaro tente aprovar novos estímulos fiscais, Schwartsman alerta, porém, que o resultado das eleições pode levar a uma nova corrida de promessas populistas entre os candidatos.
Cautela
Pautas associadas à economia de mercado voltam a ganhar atenção do mercado também com a vitória parcial, outra não prevista pelas pesquisas de intenção de voto, de Tarcísio de Freitas, ex-ministro do governo Bolsonaro, no primeiro turno para o governo de São Paulo. Isso coloca, conforme antecipado ontem por analistas, as ações da Sabesp entre os destaques do dia, na ponta do Ibovespa, em alta de 15%, com a simpatia mostrada pelo candidato do Republicanos à privatização da empresa.
Ainda assim, os investidores devem se manter cautelosos nas próximas quatro semanas que antecedem o segundo turno no Brasil, de acordo com o norte-americano Brown Brothers Harriman (BBH). O banco vê um “rali de alívio” nos mercados financeiros locais caso o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva vença as eleições, mas cita o risco de o presidente Jair Bolsonaro questionar os resultados como a principal questão da corrida ao Planalto.
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