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Mercado prevê R$ 12 bi de congelamento de verbas do Orçamento

Levantamento do ‘Projeções Broadcast’ estima que o corte necessário nos gastos do governo federal, para cumprir o arcabouço fiscal até o final do ano, seja em torno de R$ 26,40 bi

Atualização:

O congelamento de verbas previstas no Orçamento do governo federal, a ser anunciado no relatório bimestral de julho, deverá ser de R$ 12,0 bilhões, indica a mediana das estimativas de 15 instituições consultadas pelo Projeções Broadcast. Esse montante ainda deve ser insuficiente para o governo cumprir o novo arcabouço fiscal, a regra de controle de gastos que, se descumprida, gera desconfiança sobre as contas do governo e impacta a cotação do dólar e a política de juros.

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Para este ano, a meta é de déficit zero, com margem de tolerância para mais ou para menos de 0,25% do Produto Interno Bruto (PIB). A mediana do mercado indica que, para o cumprimento do alvo com o máximo de déficit possível (-0,25% do PIB), o ajuste total das despesas deve ser em torno de R$ 26,40 bilhões, embora haja divergências nas previsões entre os analistas de mercado (ler mais abaixo). Nesta quinta-feira, 18, Haddad diz que Lula autorizou medidas adicionais para garantir corte de R$ 25,9 bi no Orçamento.

A cada bimestre, o governo federal publica um relatório que projeta as receitas e despesas para o resto do ano e estabelece o cronograma de desembolso mensal, com bloqueios ou desbloqueios.

Os R$ 12 bilhões de congelamento estimados pelo mercado relatório bimestral de julho incluem ajustes tanto via contingenciamento quanto a partir de bloqueio de verbas. O contingenciamento ocorre quando há falta de receitas que comprometem o cumprimento da meta de resultado primário (contas do governo sem os juros da dívida pública). O bloqueio ocorre quando o aumento dos gastos do governo supera o limite de 70% do crescimento da receita acima da inflação e pode ser revertido se surgir espaço no Orçamento.

O governo federal faz revisão de gastos obrigatórios para tentar encaixar as contas dentro dos limites do arcabouço fiscal Foto: André Dusek/Estadão

Embora o cumprimento da meta não seja consenso entre os analistas, o déficit de 0,25% do PIB poderá ser atingido via novos congelamentos de despesas discricionárias (não obrigatórias, como recursos para custeio e investimentos) nos relatórios bimestrais seguintes, de setembro e novembro, ou mesmo a partir da revisão de gastos obrigatórios já neste ano, como efeito do “pente-fino” realizado pelo governo no pagamento de alguns benefícios, pontuam os analistas.

A avaliação dos economistas também é a de que, mais do que o valor em si do congelamento da próxima semana, é importante acompanhar qual o “sinal” que o governo vai emitir ao mercado em relação ao quão crível serão os números apresentados.

As contas dos analistas

O economista-chefe da Warren Investimentos, Felipe Salto, prevê que, no relatório bimestral de julho, o governo vai congelar R$ 16 bilhões, dos quais R$ 7 bilhões de bloqueio e R$ 9 bilhões de contingenciamento.

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Ele avalia, porém, que seria preciso congelar um total de R$ 26,8 bilhões até o final do ano para atingir o déficit de 0,25% do PIB.

Para ele, a magnitude do congelamento no Orçamento em julho está atrelada a como será a revisão da estimativa do governo para as receitas deste ano, que, atualmente, é de uma alta real de 10,5% na comparação com 2023. O número está superestimado, na avaliação do economista, que projeta que a alta real da receita líquida ao final do ano será de 8,2%.

“Se o governo revisar a receita (para baixo) de uma vez, ele teria de fazer todo o contingenciamento necessário já agora”, detalha. “Inicialmente, ele deve congelar na casa dos R$ 16 bilhões para depois fazer o restante. À medida que for revisando a receita, vai fazendo os ajustes”, complementa.

A projeção da sócia e economista-chefe da Gap Asset, Anna Reis, é que o governo vai optar por um congelamento um pouco menor agora, de R$ 10,0 bilhões, metade com bloqueio e metade com contingenciamento. Ela explica que o principal foco de pressão para o orçamento vem das despesas, sobretudo as de pagamento com benefícios previdenciários e de Prestação Continuada (BPC), que estão subestimadas pelo governo em cerca de R$ 15,0 bilhões.

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“Se o governo for para uma nova estimativa de despesas parecida com a nossa, é isso (R$ 15,0 bilhões) que precisaria ser congelado no total”, afirma a economista. Ela pontua, porém, que esse é um tipo de ajuste que pode ser feito ao longo do tempo, isto é, a partir de revisões nos relatórios bimestrais seguintes, de setembro e novembro.

Reis atenta, porém, para a possibilidade de o governo conseguir, já neste ano, efetivar cortes em despesas obrigatórias, a partir do “pente-fino” no pagamento de alguns benefícios. “Se isso acontecer, diminui o tamanho do valor que precisa ser congelado (que se refere a despesas discricionárias, ou seja, não obrigatórias, como recursos para custeio e investimentos)”, explica.

O economista Renan Martins, da MCM Consultores, também espera que o congelamento na próxima semana seja de R$ 10,0 bilhões, valor que ele considera “o mínimo possível agora”. “O governo tem feito isso nas últimas revisões bimestrais, de postergar os problemas”, afirma Martins.

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Ele destaca que os últimos relatórios estavam com algumas distorções, tanto de despesas quanto de receitas. Nas receitas, ele cita que o governo superestimou a arrecadação com decisões do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf) e que, dado o impasse, a compensação da desoneração da folha de pagamento ainda não incorporada às projeções fiscais do Ministério da Fazenda. “Talvez o mercado enxergasse como mais realista o governo colocar (o custo) com a manutenção da desoneração no Orçamento”, avalia.

O governo atingirá a meta?

Para atingir o déficit de 0,25%, o valor total do congelamento deveria ser de R$ 50,0 bilhões, nas contas de Martins, que acredita que o governo não conseguirá entregar esse resultado.

Já Salto, da Warren, espera que haja cumprimento da meta primária neste ano. Ele calcula que, já levando em consideração o congelamento da semana que vem, a projeção da Warren para o resultado fiscal do ano é de déficit de 0,51% do PIB. A perspectiva de moderação desse saldo negativo à frente está, segundo ele, ligada ao desempenho positivo da arrecadação observado até aqui, além do compromisso explícito do presidente Luiz Inácio Lula da Silva com o cumprimento da meta.

Reis, da GAP, também prevê que o governo vai cumprir ao menos com a banda inferior da meta primária em 2024. “Ainda está factível”, diz. Além de uma possível surpresa com arrecadação do Carf no segundo semestre, ela cita que está no radar a perspectiva de cortes em despesas por conta do chamado “empoçamento” de recursos. “Historicamente sempre sobra, no fim do ano, algum valor, entre R$ 15,0 e R$ 20,0 bilhões que você não consegue executar, por questões operacionais”, lembra.

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