As revisões da série divulgadas nesta quinta-feira, 1º pelo IBGE, junto à publicação do PIB do terceiro trimestre, elevaram a mediana do mercado para a atividade em 2022, a 3,0%, após quase três meses de estabilidade virtual, variando entre 2,7% e 2,8%. O avanço marginal de 0,4% no PIB do terceiro trimestre deixou carrego estatístico de alta de 3,1% para o ano.
Na esteira do resultado, houve aumento das estimativas para atividade neste ano em instituições como Goldman Sachs (2,9% para 3,2%), Ibre/FGV (2,7% para 3,0%), Terra Investimentos (2,9% para 3,2%) e Barclays (2,7% para 3,1%). Outras, como Itaú Unibanco (2,7%) adicionaram viés de alta à sua projeção.
O economista-chefe da Greenbay Investimentos, Flávio Serrano, passou a esperar alta ao redor de 3,0% para o PIB de 2022, ante expectativa anterior de 2,8%, mas manteve a projeção de queda de 0,3% para o quarto trimestre. “Já observamos uma fraqueza bem pronunciada em alguns setores, entre eles o comércio varejista. Os sinais de desaceleração estão mais claros e ficando um pouco mais espalhados”, afirma o economista, que enumera que os sinais de arrefecimento já aparecem também na produção industrial e estão começando a impactar os serviços.
Serrano pondera que caso a agropecuária mostre recuperação no próximo trimestre, após a queda registrada no terceiro trimestre (-0,9%), há possibilidade de um recuo menor da atividade no período, mais próximo de zero.
Na MAG Investimentos, o economista Felipe Rodrigo de Oliveira também elevou sua projeção para o PIB do ano, de 2,8% para 3,1%. O cenário contempla crescimento de 0,1% para a atividade no quarto trimestre. “Essa alta é residual e se dá pelas revisões dos dados anteriores pelo IBGE. O cenário é de uma atividade mais fraca”, afirma Oliveira.
O analista observa sinais da desaceleração em curso nos indicadores de emprego. “A Pnad surpreendeu positivamente em outubro, por exemplo, mas quando olhamos os dados, vemos uma dinâmica de menor crescimento da população ocupada. Além disso, o mercado de trabalho formal tem mostrado desaceleração na geração de vagas no Caged.”
A economista-chefe para o Brasil do BNP Paribas, Laiz Carvalho, por sua vez, manteve a projeção de alta de 3,0% para o PIB em 2022. O cenário contempla queda de 0,1% para a atividade no quarto trimestre. “Mesmo para os setores de serviços e da indústria, que registraram crescimento no 3º trimestre, a previsão é de desaceleração”, diz. Para 2023, a expectativa é de alta de 0,5% para o PIB. Além dos efeitos do aperto monetário, a desaceleração da atividade global deve contribuir para o arrefecimento do PIB brasileiro, segundo Carvalho.
Oliveira, da MAG, também projeta alta de 0,5% para o PIB em 2023, e acrescenta entre os vetores de desaceleração o término dos efeitos de reabertura.
Já Serrano, da Greenbay, prevê crescimento de 0,7% para o PIB do próximo ano. Ele pondera que, no momento, há uma incerteza grande em relação ao fiscal e que gastos mais intensos podem eventualmente levar a um PIB maior em 2023, o que, todavia, por um efeito de deslocamento, poderia piorar a situação da atividade no ano seguinte.
Na análise de Oliveira, da MAG, os efeitos de uma possível deterioração fiscal atuariam de forma negativa sobre o crescimento da atividade em 2024. “[Com mais gastos], o consumo do governo aumenta no curtíssimo prazo [em 2023], mas em termos de médio e longo prazo tende a ser um detrator de crescimento via aumento da percepção de risco e piora das expectativas. Tendo a acreditar que isso bateria em 2024.”
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