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Mercados globais estão em turbulência, mas os economistas avisam: não entre em pânico ainda

A queda desta segunda-feira pode refletir mais a supervalorização das ações do que preocupações com os fundamentos da economia americana

Por The Washington Post
Atualização:

Um pânico global repentino está derrubando os mercados financeiros e reduzindo o valor das ações, moedas e até mesmo do bitcoin. Mas os economistas dizem que isso não é um sinal infalível de que os Estados Unidos estão caminhando para uma recessão.

Esse cenário atual, segundo eles, é o resultado da necessidade dos investidores de desmontarem negociações complicadas e altamente alavancadas que aumentaram artificialmente o valor das ações. Números fracos do mercado de trabalho dos EUA divulgados na sexta-feira colocaram lenha na fogueira, levantando questões sobre se a economia americana está em uma base mais sólida do que se pensava anteriormente e levando a apostas de que o Federal Reserve (o banco central americano) poderá ter de cortar as taxas de juros mais cedo e de forma mais agressiva.

Operadores na Bolsa de Nova York nesta segunda-feira, 5 Foto: Richard Drew/AP

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Todos os três principais índices de ações americanos tiveram uma queda significativa na manhã desta segunda-feira, de até 4%, à medida que os investidores transferiram dinheiro das ações para os títulos públicos. Os mercados globais também estavam cambaleando, com o índice Nikkei 225, da Bolsa de Tóquio, caindo mais de 12%, sua maior queda em um dia em quase 40 anos, após um aumento da taxa de juros pelo Banco do Japão na semana passada.

Embora haja uma chance de que a turbulência possa levar a uma desaceleração econômica auto-realizável, os analistas e economistas dizem que é muito cedo para entrar em pânico. A economia dos Estados Unidos, segundo a maioria das medidas, ainda está em boa forma, os americanos continuam gastando e o mercado de ações permanece próximo das máximas históricas que atingiu recentemente.

“Este não é o trem da recessão; é apenas o bom e velho pânico do mercado”, disse Joe Brusuelas, diretor e economista-chefe da RSM. “Não se trata de um evento inspirado em Washington, sobre um mercado de trabalho em desaceleração ou sobre o fato de o Fed estar atrasado (em relação ao corte de juros). Trata-se de uma mudança de regime mais ampla, em que os investidores estão se ajustando ao fim do dinheiro fácil em todo o mundo.”

Durante anos, o Japão manteve as taxas de juros negativas, o que tornou atraente tomar dinheiro emprestado para investir em ativos de maior rendimento, como ações de tecnologia. Porém, na semana passada, o Banco do Japão elevou as taxas de juros para 0,25% e sugeriu que continuaria a fazê-lo, fazendo com que o valor do iene disparasse em relação ao dólar e causando impacto em toda a economia global.

De forma mais imediata, isso levou a uma liquidação de ações de tecnologia e inteligência artificial, incluindo as mais queridas, como Apple e Nvidia, embora os analistas digam que isso não é totalmente uma surpresa, dados os repetidos avisos sobre avaliações inchadas em relação a essas empresas, bem antes da ação do banco central japonês.

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Os investidores se acostumaram tanto com o fato de que o mercado de ações só pode seguir um caminho que agora as pessoas estão percebendo, de repente: “Ah, as ações também podem cair? “, disse Torsten Sløk, economista-chefe da Apollo Global Management. “Essa é uma situação em que um anúncio de dados fracos - os números de empregos de sexta-feira - tirou os ursos da hibernação.”

Dados recentes da semana passada mostraram que os empregadores dos EUA criaram 114 mil empregos em julho, muito menos do que o esperado. Enquanto isso, a taxa de desemprego subiu para 4,3%, seu nível mais alto em quase três anos, levantando questões urgentes sobre se o Fed estava mantendo uma pressão indevida sobre a economia e esperando muito tempo para tirar o pé do freio.

Na semana passada, o Banco Central decidiu deixar as taxas inalteradas, dizendo que precisava de um pouco mais de tempo para ver a inflação continuar caindo antes que as autoridades reduzissem os custos dos empréstimos de seu nível mais alto em 23 anos. A expectativa predominante era de que o Fed finalmente cortaria as taxas em sua próxima reunião, em setembro, quando os integrantes do banco estivessem confiantes de que a inflação estava em uma trajetória confiável de queda. (Não há reunião agendada para agosto).

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Mas os dados de emprego sem brilho, combinados com a turbulência global, mudaram rapidamente o cenário. Na manhã de segunda-feira, os críticos não estavam apenas preocupados com a possibilidade de o Fed ter de aumentar o tamanho do corte da taxa de juros em setembro, mas também se perguntavam se o banco poderia desencadear uma ação emergencial antes disso.

A barreira para esse tipo de intervenção é alta: a última vez que as autoridades do Fed alteraram as taxas entre as reuniões oficiais de política monetária foi no início da pandemia, quando a economia estava em queda livre. Além disso, o refrão constante dos banqueiros centrais é que eles não reagem a um único ponto de dados ou a uma sacudida repentina no mercado. Em vez disso, eles devem analisar os pequenos aumentos ou reduções e dar tempo suficiente para que os dados contem uma história abrangente.

Em entrevista à CNBC na manhã de segunda-feira, o presidente do Fed de Chicago, Austan Goolsbee, disse que o papel do Banco Central era ajudar o mercado de trabalho, manter os preços estáveis e a estabilidade financeira - tudo isso com vistas ao futuro. Até o momento, a economia tem sido capaz não apenas de resistir à luta do Fed contra a inflação, mas também de se manter forte em geral, apesar da queda das ações. “Estamos olhando para o futuro”, disse Goolsbee. “Se houver deterioração, nós a corrigiremos.”

Independentemente disso, a expectativa crescente é de que o Fed esteja em um caminho para cortar as taxas várias vezes antes do final do ano. O Goldman Sachs prevê três cortes - um em cada uma das reuniões restantes do banco em setembro, novembro e dezembro. (A possibilidade de um corte em novembro é particularmente notável, uma vez que essa reunião ocorre na semana da eleição presidencial, quando o Fed normalmente evitaria a todo custo qualquer coisa que pudesse virar notícia política).

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Ainda assim, os economistas alertam que o afundamento dos mercados globais pode desencadear uma reação em cadeia que leve os consumidores e as empresas a se retraírem repentinamente, desacelerando ainda mais a economia.

“A economia ainda é forte”, disse Sløk, da Apollo, “mas se o mercado de ações estiver prestes a entrar em um período de correção de 10% ou 15%, há de fato o risco de que isso se transforme em uma situação muito pior.”

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