Bancos privados estudam lançar linhas de crédito imobiliário corrigido pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), de olho no público de média e alta rendas. Tanto Itaú Unibanco quanto Bradesco preparam o lançamento para breve, na contramão da concorrente Caixa Econômica Federal, que ofereceu a modalidade para o público em geral com o apelo de uma prestação inicial de 30% a 50% menor que as linhas tradicionais.
Os bancos privados miram clientes com capacidade de quitar o financiamento diante de um eventual repique da inflação. De olho em pessoas de média e alta renda, essas instituições avaliam conceder linhas mais curtas do que os tradicionais financiamentos imobiliários com base na taxa referencial (TR), que chegam até 30 anos.
O Bradesco estuda lançar uma linha de crédito imobiliário com lastro no IPCA com prazos entre cinco e dez anos, conforme o diretor de empréstimos e financiamentos do banco, Leandro Diniz. "O IPCA é mais uma fonte de indexador, mas não é para todo mundo. Precisamos olhar um pouco a renda, um público específico e um prazo mais curto. Será um componente e não a solução de funding do mercado imobiliário no Brasil", afirmou o executivo.
O Itaú Unibanco também mira o público de alta renda na questão do crédito com IPCA, conforme a diretora de crédito imobiliário da instituição, Cristiane Magalhães. O banco, assim como o concorrente Bradesco, estuda lançar uma modalidade com prazo menor, mas os detalhes do novo produto ainda estão em análise.
"Queremos ter o produto e vamos lançá-lo, mas buscamos a melhor forma e uma solução para nossos clientes", afirmou ao Estadão/Broadcast, acrescentando que no público de alta renda o apelo da prestação menor não é tão grande, por exemplo.
O público na mira dos privados difere do que tem tomado crédito com IPCA na Caixa. De acordo com o presidente do banco público, Pedro Guimarães, os clientes que têm demandado a modalidade são para a compra de imóveis com valor entre R$ 250 mil e R$ 300 mil.
"É o perfil da Caixa. A redução da mensalidade de 30% a 40% tem impacto muito grande justamente naquela população do faixa 4 do Minha Casa Minha Vida, que não existe", afirmou Guimarães, referindo-se às famílias com renda acima do limite do programa e que, por conta disso, não conseguem comprar imóveis com os benefícios.
A Caixa já emprestou R$ 200 milhões em menos de um mês da nova modalidade e tem outros R$ 600 milhões encaminhados para contratação. No total, a Caixa já registra 2,5 milhões de simulações para crédito imobiliário com IPCA e quase R$ 5 bilhões em limites pré-aprovados, considerando dados até ontem, dia 12. Na próxima segunda-feira, dia 16, a Caixa dá um passo além e inicia uma linha indexada ao IPCA para o crédito associativo, aquele no qual o imóvel é financiado ainda na planta.
Do lado do comprometimento de renda com o crédito imobiliário com IPCA, há consenso entre bancos públicos e privados. Tanto a Caixa quanto os bancos privados trabalham com o porcentual de até 20%, abaixo dos 30% dos financiamentos com base na TR em uma postura preventiva quanto a riscos de aumento da inadimplência em períodos de alta da inflação.
Comprometimento da renda
O setor de construção, contudo, pleiteia um limite maior. De acordo com o presidente do Sindicato da Habitação (Secovi-SP), Basilio Jafet, no limite de 20%, o crédito com IPCA não amplia o público que já contratava crédito com base na TR. No entanto, se os bancos permitissem um comprometimento de renda de 25% em vez de 20%, um público adicional de 3 milhões de pessoas poderiam ter acesso ao produto. "O Banco Central não tem objeção ao tema e podemos negociar com os bancos para que mais famílias sejam atendidas", disse Jafet.
Segundo o presidente da Direcional Engenharia, Ricardo Valares, ainda não foi possível perceber uma mudança relevante na demanda de consumidores por imóveis após a criação da nova linha indexada à inflação. "A nova linha é boa porque representa mais uma opção de financiamento para os meus clientes, mas não aumentou o poder de compra. Meu cliente não consegue acessar um imóvel mais caro. Ele consegue ter uma folga na parcela. Se o limite fosse para 25% ou 30% aí sim teríamos uma explosão na demanda", disse ele ao Estadão/Broadcast, durante evento do setor.
Entre os bancos, porém, há uma visão cética sobre o tema, afinal, são eles quem ficarão com o risco da operação. Por ora, preferem testar a nova modalidade com apenas 20% do comprometimento da renda dos tomadores.
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.