Bolsa recua 1,4% e dólar cai a R$ 5,18 à espera de decisão sobre a taxa Selic

Copom decide hoje aumento da taxa básica de juros do Brasil; além da política monetária, cenário fiscal, com impasse em torno do Bolsa Família e dos precatórios, preocupa o mercado

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Por Redação
Atualização:

Vindo de duas recuperações moderadas após a queda de 3% na sexta, a Bolsa brasileira (B3) voltou a terreno negativo nesta quarta-feira, 4, em baixa de 1,44%, aos 121.801,21 pontos, com a atenção voltada para a decisão e o tom do comunicado do Comitê de Política Monetária do Banco Central sobre o futuro da Selic, taxa básica de juros da economia do País. Já o dólar caiu 0,13%, cotado a R$ 5,1858.

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As perdas chegaram a ser relativamente mitigadas à tarde pela indicação, por fontes, de que a equipe econômica não trabalha com aumento do Bolsa Família a R$ 400, valor mantido em cima da mesa pelo presidente Jair Bolsonaro em entrevista, mais cedo, a uma rádio do Nordeste, ocasião em que mencionou também a possibilidade de concessão de subsídio para que os beneficiários do programa social adquiram um botijão de gás a cada dois meses.

Ao final do dia, porém, incerteza ante a Selic foi o mote para que os investidores devolvessem toda a recuperação observada nesta primeira semana de agosto, limitando os ganhos do ano a 2,34%. O dia foi também de acomodação em Wall Street, com Dow Jones e S&P 500 em baixa.

B3, a Bolsa de Valores de São Paulo Foto: Werther Santana/ Estadão

Pesquisa da BGC Liquidez com 260 participantes do mercado aponta que 89% (232) esperam elevação da Selic em 1 ponto porcentual na noite desta quarta-feira. Sobre o comunicado do Copom, a referência à normalização até patamar "neutro" será mantida, integralmente, na avaliação de 23% dos ouvidos, enquanto 53% consideram que o termo "neutro" será excluído do texto, embora sem que o comitê deixe explícito quanto a ser restritivo com a política monetária. Para outros 24%, o termo será tirado do comunicado e o Copom adotará comunicação explícita quanto à política monetária, restritiva.

O levantamento da BGC indica que o comunicado desta noite deixará também explícito compromisso com novo aumento na Selic, da mesma magnitude, para a reunião seguinte do Copom, em setembro, conforme a opinião de 60% dos ouvidos. Outros 35% consideram que não haverá compromisso explícito, mas indicação de continuidade de postura firme, enquanto, para 5%, a porta ficará completamente aberta, sem compromisso algum.

Como pano de fundo para a decisão do Copom, de forma geral os investidores continuaram a ponderar nesta quarta-feira a retomada de preocupações sobre o fiscal, sobre a possibilidade de parcelamento de precatórios para abrir espaço orçamentário a um Bolsa Família maior, e o formato final da proposta de reforma de impostos. Segundo fontes, a PEC dos Precatórios está pronta para ser enviada ao Congresso e traz a criação de um fundo a ser abastecido com recursos das privatizações e alienações de ativos, além dos dividendos líquidos da União (hoje negativos).

Para convencer os parlamentares a autorizar o parcelamento das dívidas de precatórios da União, o governo vai propor que parte dos recursos levantados com privatizações seja usada para pagar esses débitos e também para turbinar os benefícios sociais da população mais pobre - tudo fora do teto de gastos. De acordo com fontes do governo, a ideia é tirar do papel o chamado Fundo Brasil, que seria usado para reforçar o bolso dos mais vulneráveis por meio da venda de ativos públicos.

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Nesta tarde, o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), afirmou que o Fundo para bancar precatórios e programa social não precisa estar no teto, e que a PEC dos Precatórios não constitui "calote" - segundo ele, o parcelamento deve obedecer a "critérios".

"O ambiente político começa a incomodar o mercado, com o viés mais populista em gastos, pensando já na eleição de 2022. A situação política, que não estava tanto no radar, começa a ser colocada nos preços (dos ativos), passando a preocupar o mercado, que nota muita fragilidade no governo", diz Rodrigo Friedrich, sócio e head de renda variável da Renova Invest, que ainda vê um fim de 2021 positivo, com retomada econômica mais forte do que em anos anteriores para o segundo semestre, em função do progresso da vacinação e a suspensão do distanciamento social.

No curto prazo, "a situação é complicada, com o presidente (Bolsonaro) buscando a todo custo provar fraude na eleição e o Paulo Guedes (ministro da Economia) falando agora em pagar (precatórios) quando puder", acrescenta Friedrich. Ele considera que o câmbio terá acomodação mais visível apenas se o Copom surpreender hoje e elevar a Selic além do consenso de 1 ponto porcentual.

Entre os setores, o desempenho negativo das ações de bancos, segmento de maior peso no Ibovespa, também contribuiu para segurar o índice na sessão. "A queda (nas ações) do Bradesco [PN, em baixa de 4,36% e ON, de 3,53%) acabou puxando as empresas do setor financeiro e penalizando o índice", observa Rafael Ribeiro, analista da Clear Corretora. Dia também negativo para Petrobras, com PN em baixa de 2,12% e a ON, de 3,61%, com mais uma forte correção negativa nos preços do petróleo no exterior. Na ponta positiva do Ibovespa, Usiminas PNA subiu 4,60%, Klabin, 2,04% e Natura, 1,25%.

Câmbio

Em um dia marcado por muita volatilidade e expectativa pela decisão do Copom, o dólar trocou de sinal algumas vezes ao longo do pregão, à medida que investidores assimilavam dados da economia americana e monitoravam o noticiário político doméstico carregado, com especulações sobre o tamanho do reajuste do Bolsa Família e o andamento da reforma do Imposto de Renda.

Operadores afirmam que o mercado segue muito sensível à questão fiscal, que acaba preponderando na formação da taxa de câmbio, a despeito da influência vinda do exterior. Mesmo com a moeda americana em alta na comparação com divisas emergentes pares do real, como o rand sul-africano e o peso mexicano, o dólar perdeu força por aqui à tarde. Nos três primeiros pregões de agosto, a moeda americana acumula recuo de 0,46%. A moeda para setembro caiu 0,63%.

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"O mercado está exigindo mais muito por conta da questão fiscal, especialmente com essa questão do Bolsa Família. O presidente está atrás nas pesquisas [para as eleições de 2022] e quer recuperar a popularidade com programas sociais, mas não se sabe de onde vai vir o dinheiro", afirma Hideaki Iha, operador de câmbio da Fair Corretora.

Lá fora, o DXY - que mede o desempenho do dólar em relação a seis moedas fortes - subia 0,21%, na casa de 92,200 pontos, em dia de pouco apetite por risco. A moeda americana também avançava na comparação com as principais divisas emergentes e de países exportadores de commodities. O movimento é motivado pelo apoio de dirigentes do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) ao corte antecipado das medidas de estímulos adotadas na pandemia. /LUÍS EDUARDO LEAL, ANTONIO PEREZ E MAIARA SANTIAGO

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