CANNES - Ao longo da última semana, a cidade de Cannes, na Riviera Francesa, recebeu centenas de membros da comunidade criativa brasileira - e outros milhares de estrangeiros de todo o mundo - que desembarcaram na Cote D’azur em busca dos tradicionais Leões e das incontáveis conexões com outros publicitários de agências espalhadas pelo globo.
Depois de cinco dias de Cannes Lions Festival Internacional de Criatividade, do qual o Estadão é o representante oficial, o Brasil cruzou o oceano Atlântico levando para casa 92 estatuetas para agências e anunciantes locais, em uma das suas melhores participações nos últimos anos do evento, superando os 70 Leões - entre ouro, prata e bronze - de 2022. “O Brasil teve uma excelente participação no festival este ano”, disse o presidente de Cannes Lions, Simon Cook.
No Palácio dos Festivais, além da cerimônia de entrega de Leões no fim de cada noite, estrelas de Hollywood, ou do mundo publicitário, levaram multidões para as salas de conferências para assistir as palestras que discutiram temas como diversidade, criatividade em tempos de inteligência artificial e o papel dos vice-presidentes de marketing das companhias no trabalho com as agências.
Além do Brasil, outros nomes latino Americanos também garantiram um bom desempenho e foram os destaques dentro do festival. Na sexta-feira, 23, com o fundador brasileiro Anselmo Ramos no comando, além de inúmeros Leões de ouro e três Grand Prixs, a GUT Buenos Aires conquistou o reconhecimento como a Agência do Ano, Agência Independente do Ano e Grupo Independente do Ano. Sobre as premiações, Ramos publicou na rede social de networking Linkedin uma lista de desejos feita há três anos com seus planos para a próxima década, de 2020 a 2030, em que havia marcado o ano de 2023 como o momento para ganhar o prêmio de agências independente no Cannes Lions. “Acredite, ‘O Segredo’”, publicou o executivo.
Entre os principais Leões, a agência independente garantiu o maior prêmio nas categorias de PR Lions, Creative Data Lions e Mobile Lions, com Grand Prixs que falaram sobre auto presentes no dia dos namorados, a entrega da taça da Copa do Mundo e sobre um estudo que analisou centenas de pinturas para localizar as cervejas da Stella que foram retratadas nas artes ao longo dos últimos séculos, mostrando uma espécie de “publicidade gratuita” de os mais renomados pintores fizeram para a cervejaria centenária.
Presença preta na Riviera e a diversidade em Cannes
Se 2022 foi um ano para questionar a falta de diversidade dentro do mercado, 2023 foi o momento da diversidade “subir ao palco” do Palais des Festivals e se transformar em uma das pautas mais comentadas. Brasileiros como Samantha Almeida, da Globo, Felipe Silva, da agência Gana, Joana Mendes, do Clube de Criação, Deh Bastos, da Publicis, e Celso Athayde, ou estrelas de Hollywood como diretor de cinema Spike Lee, ou a atriz de Wakanda Forever, Danai Gurira, - entre outros nomes- trouxeram à Cote D’Azur questionamentos sobre a diversidade, os problemas dos estereótipo e a importância de abrir as portas para pessoas de diferentes realidades e como isso pode impulsionar o mercado publicitário.
Na avaliação do CEO da BETC HAVAS, Erh Ray, a edição de 2023 de Cannes Lions mostrou uma mudança dentro da forma das campanhas publicitárias são premiadas, com membros do júri olhando cada vez mais para temas ligados ao ESG, o que passa por premiar ações com intencionalidade em relação a essas causas. “Hoje em dia, o festival está muito mais focado na indústria toda, do que só em criatividade”, diz.
Além da diversidade e inclusão, quem visitou o Palácio dos Festivais em Cannes durante a semana do festival foi “bombardeado” por discussões sobre as transformações causadas pela alavancagem das ferramentas de Inteligência artificial no mercado criativo. Dos mais céticos, aos mais otimistas, todos concordavam que essas ferramentas vieram para ficar. Na avaliação do vice-presidente de criação da Africa, Sérgio Gordilho, este tipo de tecnologia deve se manter como um instrumento transformador da indústria, que servirá como um acelerador da criatividade, mas sem tirar o protagonismo humano dentro do mercado. “Nós estamos aqui (no festival) para discutir o presente, porque o futuro cabe a Deus. Cannes Lions é uma prova viva de que um meio não mata o outro”, diz.
Com o fim da 70ª edição do Festival Internacional de Criatividade, Cannes dá adeus ao agito das festas organizadas pelas grandes agências, ao vai e vem de dos publicitários pela tradicional avenida “La Croisette” à beira do Mar Mediterâneo e ao “Bad English” como seu idioma oficial. Enquanto os membros do mercado criativo internacional retornam para seus países de origem e trabalham para criar as próximas peças que serão premiadas no festival, a Riviera Francesa fica no aguardo da 71ª edição de Cannes Lions, de 2024, quando novamente, por uma semana a cidade de 70 mil habitantes se transformará na capital mundial da criatividade.
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