Nova York - Rupert Murdoch, o magnata da mídia de 92 anos que criou a Fox News, está deixando seus cargos no conselho da Fox e da News Corp. Segundo um comunicado do grupo nesta quinta-feira, 21, Murdoch se tornará presidente emérito de ambas as empresas. Seu filho, Lachlan, será o presidente do conselho da News Corp. e continuará como CEO da Fox Corp.
Lachlan Murdoch disse que estão todos gratos por Rupert servir como presidente emérito. “Sabemos que continuará a fornecer conselhos valiosos para ambas as empresas”, disse, em comunicado.
A rede de TV Fox, criada por Murdoch, foi a primeira a desafiar com sucesso as três grandes redes americanas: ABC, CBS e NBC. Ele também é proprietário do Wall Street Journal e do New York Post.
O canal Fox News influenciou profundamente a televisão e a política dos Estados Unidos desde o seu lançamento, em 1996, tornando Murdoch um herói para alguns e um pária para outros. A rede 24 horas por dia converteu o poder e a energia das discussões políticos do rádio para a televisão. Em seis anos, ultrapassou os canais CNN e a MSNBC.
Mas tem sido um ano difícil para a Fox, que foi forçada a pagar US$ 787 milhões para resolver um processo por difamação relacionado à disseminação de notícias falsas após as eleições presidenciais de 2020. Por conta disso, a Fox demitiu sua personalidade mais popular, Tucker Carlson.
As ações da Fox Corp., embora positivas este ano, começaram a cair no início de 2022, em parte devido a ações judiciais e à ansiedade dos investidores com a perda de telespectadores para meios de comunicação menores.
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Murdoch prometeu em uma carta aos funcionários que permaneceria na Fox.”Na minha nova função, posso garantir que estarei envolvido todos os dias no concurso de ideias”, escreveu. “Nossas empresas são comunidades e serei um membro ativo de nossa comunidade. Estarei acompanhando nossas transmissões com olhar crítico, lendo nossos jornais, sites e livros com muito interesse.”
Não houve nenhuma palavra imediata sobre o motivo pelo qual o anúncio de Murdoch veio agora. Ironicamente, na próxima semana o biógrafo de Murdoch, Michael Wolff, lançará o livro “The End of Fox News”, especulando sobre o que acontecerá com a rede quando o patriarca partir.
Modelo para a séria Succession
Murdoch e sua família, especialmente os filhos James, Lachlan, Elisabeth e Prudence, são apontados como o modelo para a séria da HBO “Succession”, um sucesso de audiência recente.
Ele construiu seu império a partir de um único jornal em Adelaide, na Austrália, herdado de seu pai, e tornou-se multibilionário. A Forbes estimou o patrimônio líquido da família Murdoch em cerca de US$ 19 bilhões em 2020.
Embora Murdoch nunca tenha concorrido a cargos eletivos, os políticos dos Estados Unidos e da Grã-Bretanha costumam procurar ansiosamente a sua aprovação. Ele teve um relacionamento complicado com Donald Trump. Wolff relatou em 2018 que Murdoch chamou Trump de “idiota”, acrescentando um palavrão para dar ênfase. A Fox News, no entanto, foi construída em torno de um público que, em sua grande parte, admira Trump.
Durante décadas Murdoch foi uma das figuras mais poderosas da mídia na Grã-Bretanha, um mercado em que entrou depois de comprar o tablóide News of the World em 1969. Ele revigorou a enfadonha cena jornalística da Grã-Bretanha com sexo, escândalo e celebridades, e ajudou a agitar a televisão com a emissora via satélite Sky.
Sua influência diminuiu desde a revelação, há mais de uma década, de que funcionários do News of the World haviam feito escutas telefônicas e usado outros métodos escusos para obter informações sobre celebridades, políticos e membros da realeza. A News Corp. é dona dos jornais Times, Sunday Times e Sun, mas o News of the World fechou e Murdoch vendeu sua participação de 40% na Sky quando não conseguiu obter o controle total da empresa.
A Fox News passou por uma série de escândalos de assédio sexual na década de 2010, que levaram à demissão do alto executivo Roger Ailes e da personalidade do horário nobre Bill O’Reilly. Murdoch disse considerar isso como casos isolados, que tinham em grande parte motivação política, “porque somos conservadores”.
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