A melhor forma de não repetir os erros do passado é não deixar que a história seja esquecida. É com esse pensamento em mente que alguns dos últimos sobreviventes do Holocausto no Brasil se uniram em uma campanha para alertar sobre o aumento galopante no País dos casos de discurso de ódio contra diversas minorias e o perigo da intolerância na sociedade.
Ruth Sprung Tarasantchi, Gabriel Waldman e Joshua Strul relembram seu passado durante o período do nazismo e narram horríveis histórias de violência. Contudo, apesar do horror vivido por eles décadas atrás, essas são casos da atualidade, são agressões físicas e verbais vividas por outras pessoas. André Baliera, Odivaldo da Silva e Naiá Tupinambá são os “donos” dessas histórias, vítimas recentes da intolerância e do fanatismo que emergem no País.
“Meu nome é Joshua Strul, tenho 89 anos, fui vítima do terror nazista e sobrevivente do Holocausto”, narra o senhor no filme publicitário. “Eu estava voltando da farmácia para casa, fui cerca por pessoas bem mais fortes que eu. Eles começaram a me bater e me xingar e quebraram meu nariz. Uma multidão em volta de mim não levantou um dedo para me defender. Por alguma razão a minha existência incomodava muito eles. Essa história não é minha, ela aconteceu com o André.”
A ação faz parte da campanha “Viver Para contar, Contar Para Viver”, um projeto da Unesco em parceria com a Confederação Israelita Brasileira (CONIB) e o Museu do Holocausto de Curitiba para a celebração do “Dia Internacional da Memória do Holocausto”, comemorado nesta sexta-feira, 27.
De acordo com a entidade, o projeto é uma forma de educar a sociedade brasileira através da empatia e ajuda no combate a desinformação sobre o tema, ao mesmo tempo que alerta sobre novas formas de discriminação e ódio no País.
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Dados da Unesco mostram que 49% das publicações no Telegram negam ou distorcem fatos sobre o Holocausto. Ao mesmo tempo, os crimes de ódio no mundo virtual cresceram 70% no primeiro semestre de 2022, enquanto o número de denúncias de intolerância religiosa registraram um salto de 141% em 2021, no Brasil. De 2015 para 2022, o número de células neonazistas no País disparou de 72 para 1.117.
Rebecca Otero, coordenadora de educação na Unesco conta que além de manter viva a história daqueles que morreram durante nazismo, ação tenta conscientizar os brasileiros de que situações extremas como o Holocausto não ocorrem “do dia para a noite”, mas são criadas aos poucos, com discursos de ódio, descriminação e perseguição a grupos minorizados. “Essa campanha é extremamente oportuna neste momento, porque precisamos contar e preservar a memória do Holocausto e lembrar das semelhanças com o momento que estamos vivendo na atualidade”, afirma Rebecca.
Histórias que não podem ser esquecidas
Vitor Elman, vice-presidente da Cappucino, conta que as recentes perdas de sobreviventes desse momento histórico foram uma das inspirações para a criação da campanha com o trio judeus. Ele lembra que os sobreviventes têm em média 84 anos, e que, no futuro, não estarão mais aqui para contar suas histórias. “Eles emprestaram suas vozes para essa campanha”, diz.
Na avaliação de Luiz Lara - presidente do Fórum de Autorregulação do Mercado Publicitário (Cenp) e “chairman” da TBWA -, ações publicitárias como a nova campanha criada pela agência Capuccino - braço criativo da The Weber Shandwick Collective - em parceria com Unesco, reafirmam o papel social da comunicação de impulsionar pautas importantes no País.
“A propaganda brasileira sempre teve um papel importante de educar e conscientizar a população. Eu acredito que essa iniciativa é fundamental, porque a sociedade se reconhece na comunicação. Ainda mais numa época de disseminação de ódio e de fakenews”, afirma Lara. “Daqui a pouco, nós teremos uma disseminação total de que o Holocausto não existiu. Por isso, uma iniciativa como essa campanha é extraordinária”, diz o presidente do Cenp.
Assista aos filmes da campanha da Unesco.
Joshua Strul e André Baliera
Ruth Sprung e Naiá Tupinambá
Gabriel Waldman e Odivaldo da Silva (Neno)
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