Milei diz que mudará legislação para adequar a Argentina às tarifas de Trump

Em evento organizado por apoiadores do presidente americano, em Mar-a-Lago (EUA), o argentino prometeu ‘avançar na harmonização de tarifas para uma cesta de quase 50 produtos’

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PALM BEACH (EUA) - Determinado a trabalhar “conjuntamente” com os Estados Unidos, o presidente da Argentina, Javier Milei, disse em Mar-a-Lago, nos EUA, que modificará a legislação para atender aos requisitos das tarifas “recíprocas” de Donald Trump. Milei chegou à Flórida no meio da guerra comercial desencadeada pelo tarifaço global anunciado na quarta-feira, 2, pelo presidente americano. Muitos países consideram as medidas retaliatórias, mas o governo de Milei, uma ultraliberal, prefere adaptar-se.

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“A Argentina vai avançar no reajuste da regulamentação para que possamos cumprir os requisitos da proposta tarifária recíproca preparada” por Trump, afirmou Milei, segundo seu gabinete, no evento de gala dos “Patriotas Americanos”, organizado pela fundação Make America Clean Again (MACA) e pela ONG We Fund the Blue. “Já cumprimos nove dos 16 requisitos necessários”, disse. Ele afirmou ter dado instruções para se ajustar ao restante e “resolver a assimetria com os Estados Unidos em um prazo curto”.

A Argentina não é uma das que saem piores do que Trump chama de “tarifas recíprocas”, porque só aplicará o mínimo universal de 10%. Milei também prometeu “avançar na harmonização de tarifas para uma cesta de quase 50 produtos”. Ele considerou “um passo em frente” “promover um acordo comercial” no qual “as tarifas e os obstáculos ao comércio são apenas uma má memória do passado”.

'Para tornar a Argentina grande novamente, devemos trabalhar lado a lado como parceiros estratégicos com objetivos comuns', diz Milei (na foto, em cerimônia aos veteranos das Malvinas, na quarta-feira, 2, dia do tarifaço global de Trump) Foto: Tomas Cuesta/Getty Images/AFP

Em março, Trump disse que estava aberto a analisar a possibilidade de instituir tarifas recíprocas. E Milei, a quem Trump chamou de “grande líder”, estava disposto a remover a Argentina do Mercosul, o bloco comercial que reúne cinco países sul-americanos como membros permanentes, se necessário para conseguir isso.

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O progresso que Milei alardeou no evento, entre gritos e aplausos, foi possível, segundo ele, graças às reuniões do ministro das Relações Exteriores, Gerardo Werthein, com o Departamento de Estado e o secretário de Comércio norte-americano.

“Compreensão mútua e otimismo para o futuro entre as nossas nações.” Foi assim que a chancelaria argentina resumiu o encontro que Werthein manteve na quinta-feira, 3, em Washington, com o secretário de Comércio, Howard Lutnick, e o representante comercial, Jamieson Greer.

Prêmio ‘Leão da Liberdade’ na residência de Trump

“Para tornar a Argentina grande novamente, (...) devemos trabalhar lado a lado como parceiros estratégicos com objetivos comuns” com os Estados Unidos, disse Milei, que busca apoio na negociação de um novo empréstimo do Fundo Monetário Internacional (FMI). O presidente argentino deixou bem clara sua preferência em seu discurso em Mar-a-Lago, residência privada de Trump no sul da Flórida, onde recebeu o prêmio “Leão da Liberdade”.

Também foram premiados a empresária argentina Natalia Denegri e o ator e ativista político mexicano Eduardo Verástegui. A viagem ocorre em meio às negociações com o FMI para um empréstimo de US$ 20 bilhões, dos quais Buenos Aires quer um primeiro desembolso de mais de 40%. As perspectivas parecem boas. “É razoável”, considerou recentemente a diretora-gerente do Fundo, Kristalina Georgieva. “Eles mereceram, dado o seu desempenho.” O FMI está satisfeito.

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Queriam que o país sul-americano acertasse as contas e os dados sorriem para isso: a pobreza passou de 52,9% no primeiro semestre de 2024 para 38,1% no segundo semestre, e a inflação desacelerou para 118% em 2024 contra 211% em 2023.

Para obter novos fundos do fundo, o apoio dos Estados Unidos é fundamental porque tem a maior participação na organização (16%). Não parece que vai ser complicado. Trump e Milei não apenas professam admiração mútua, mas também compartilham objetivos.

O republicano está realizando na administração federal cortes massivos, tarefa confiada a Elon Musk, o homem mais rico do mundo, a quem Milei deu simbolicamente uma motosserra. Uma como a que utiliza para esculpir a administração pública a seu gosto por meio de demissões, redução de órgãos do Estado e paralisação de obras públicas.