Em Minas Gerais, há cerca de duas décadas, a colheita dos vinhos tradicionais era feita no verão, período de muita chuva. As uvas tinham problemas de fungo e de contaminação e o resultado final era um vinho de baixa qualidade. Para mudar esse cenário, a Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig) desenvolveu na região a tecnologia de dupla poda da videira.
O método possibilitou a inversão do ciclo e foi revolucionário. A colheita passou a ocorrer no inverno, período mais seco e de elevada amplitude térmica (diferença de temperatura entre o dia e a noite). “Aí a gente tem as uvas crescendo mais devagar, acumulando mais açúcar e a colheita sendo feita em uma época praticamente sem chuva”, explica Trazilbo de Paula, pesquisador e diretor de Operações Técnicas da Epamig, vinculada à Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa).
O resultado já pode ser mensurado em troféus. Neste ano, os vinhos Barbara Eliodora Gran Reserva Syrah 2019 (MG) e Graça Sauvignon Blanc 2021 - Maria Maria (MG) ganharam a medalha de prata no International Wine Challenge, em Londres. O Primeira Estrada Sauvignon Blanc - 2021 (MG) ficou com o bronze. Os vinhos Barbara Eliodora Rosé Syrah 2021, Barbara Eliodora Sauvignon Blanc 2021, Erica Gran Reserva Syrah 2018 - Maria Maria e Primeira Estrada Syrah Rose 2021 foram elogiados pelo júri especializado.
Extravirgem
Com os produtores de azeite tem ocorrido processo semelhante. A primeira extração no Brasil de um extravirgem foi feita pela Epamig há 14 anos. Nesse curto período, a empresa desenvolveu e aprimorou técnicas, trocou conhecimento com especialistas de outros países, estimulou os agricultores locais e também passou a cultivar prêmios nessa área.
“Quando o produtor ganha um prêmio, ele ganha também muita mídia, o mercado paga mais pelo produto e o consumidor valoriza”, comenta Trazilbo.
A olivicultura mudou hábitos e realidades de pequenas cidades do sul de Minas. Além de o produtor local aprender novas técnicas e realizar sua atividade com excelência, o turismo na região tem aumentado por causa do azeite e do vinho.
O clima da região serrana também favorece. “No caso do azeite, é fundamental um local onde tenha pelo menos 120 horas com temperatura abaixo de 10, 12 graus Celsius. Se plantar uma oliveira em uma região diferente dessa, ela vai florescer, mas vai produzir poucos frutos”, ensina Trazilbo.
A condição ideal para os vinhos é a mesma da região cafeeira. “Estamos expandindo a vitivinicultura para o norte do Estado, na região de Diamantina. É importante associar essas cidades turísticas com a enologia, com a produção de azeite, a gastronomia.”
Os vinhos finos de inverno e o azeite das serras mineiras ainda têm muito a crescer e se desenvolver de forma sustentável. “Estamos desenvolvendo novas variedades de oliveiras, menos sujeitas ao frio. Também estamos buscando alternativas ligadas à sustentabilidade, com menor uso de defensivos, com novas técnicas de agricultura regenerativa e assim fazer essa região se desenvolver bastante”, finalizou Trazilbo.
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