Ministério Público Federal reage a risco de apagão de agências reguladoras e cobra ação do governo

Baseado em reportagem do ‘Estadão’ que revelou situação crítica de órgãos federais, MPF do Distrito Federal dá dez dias a Ministério da Gestão para se posicionar sobre cenário e apresentar medidas

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Foto do author André Borges
Atualização:

BRASÍLIA - O Ministério Público Federal (MPF) no Distrito Federal deu um prazo de dez dias para que o Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos se manifeste a respeito do cenário crítico das 11 agências reguladoras federais, que sofrem com falta de mão de obra, sob o risco de simplesmente entrarem em colapso.

A determinação expedida nesta quinta-feira, 26, pelo MPF se baseia em reportagem publicada pelo Estadão na quarta-feira, 25, que revelou a situação de penúria das agências reguladoras. Em média, 32% dos cargos previstos em todas as agências estão vagos, situação que se agravou nos últimos anos com o cancelamento sucessivo de recursos, aposentadoria de servidores e congelamento de salários.

Anvisa, que chegou a contar com 2.360 servidores em 2007, tem agora apenas 1.639 servidores, dos quais 600 já podem se aposentar 

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A situação mais crítica é encarada pela Agência Nacional de Mineração (ANM), criada em 2017 para substituir o antigo Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM). Por lei, a ANM, que é responsável por fiscalizar um setor que movimenta R$ 340 bilhões por ano – o equivalente a 4% de todas as riquezas produzidas no Brasil – teria de ter 2.121 servidores em plena atividade. Esse é o organograma previsto em sua criação, ou seja, a estrutura necessária para realizar seu trabalho. Hoje, porém, a ANM tem de se virar com apenas 644 servidores, o que significa um rombo de 68,7% em sua força de trabalho.

Na Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), que tem de a missão de fiscalizar todas as estradas e ferrovias concedidas pelo governo federal, a lei determina a contratação de 1.705 servidores para tocar o seu dia a dia. Na prática, porém, a agência tem de se desdobrar com apenas 929 funcionários que estão na ativa, o equivalente a 54% da força de trabalho exigida.

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“A matéria é embasada em informações constantes do Portal da Transparência e do Sindicato Nacional dos Servidores das Agências Nacionais de Regulação (Sinagências) e revela que, atualmente, um terço dos cargos previstos por lei nessas autarquias estaria vago”, afirma o MPF, que determina a “realização de diligências, com o fim de melhor instrumentalizar o presente feito e compreender de forma global a situação narrada, bem como as eventuais providências que estariam sendo adotadas para a recomposição do quadro das Agências Reguladoras.”

Agência Nacional de Mineração vive a situação mais crítica, com 644 dos 2.121 servidores previstos Foto: ANM/Divulgação

No prazo de dez dias, o Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos, que é comandado pela ministra Esther Dweck e foi criado pelo governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a partir de uma divisão feita no Ministério da Economia, deverá se manifestar em relações às 11 agências (ANM, ANTT, Anac, Ana, Anatel, Antaq, Aneel, ANP, ANS, Anvisa e Ancine), demonstrando se há estudos sobre a diminuição do quadro efetivo e planos de contratação de servidores efetivos.

O MPF também quer saber se havia pedidos de recomposição dos quadros formulados e se estão sendo adotadas medidas de urgência para evitar a paralisação de serviços.

No caso específico da ANM, “considerando a gravidade da situação atualmente vivenciada”, o procurador da República Paulo Roberto Galvão de Carvalho solicita, em seu ofício, a realização de estudos sobre a diminuição do quadro efetivo na autarquia e se há planos de contratação de servidores efetivos para os cargos vagos.

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Os mesmos pedidos enviados ao ministério foram repassados ao Sindicato Nacional dos Servidores das Agências Nacionais de Regulação (Sinagências). Ao Estadão o presidente do Sinagências, Cleber Ferreira, declarou que “os dados falam por si” e que preciso que o novo governo faça algo urgentemente, “pelo menos nas situações mais graves”, porque se trata de fiscalizar serviços com impacto direto na economia e na vida das pessoas.

Procurado pelo Estadão, o Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos afirmou que “está analisando a determinação expedida pelo MPF e se manifestará no prazo indicado”. Na reportagem publicada nesta semana, a pasta afirmou que “está realizando estudos sobre o cenário atual da força de trabalho na Administração Pública Federal e as demandas de novos concursos e contratações encaminhadas pelos órgãos e entidades ao órgão central de gestão de pessoas do Governo Federal”.

Apagão de agências compromete fiscalização de barragens e ferrovias

O estrangulamento da força de trabalho da ANM é o exemplo mais flagrante. Mesmo após os rompimentos criminosos das barragens de Mariana e de Brumadinho – esta última completou quatro anos nesta quarta-feira, 25 –, a equipe de fiscalização da ANM voltada exclusivamente para as barragens de rejeito sofre hoje com a falta de 40% da capacidade prevista de pessoal.

São 928 barragens de rejeito de minério para fiscalizar em todo o País, seja por meio presencial ou com uso de tecnologias, e evitar que novas tragédias ocorram. O time atualmente destinado a essas atividades, porém, conta com 34 pessoas, sendo que as regras internas exigem 55 profissionais.

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O colapso da ANM já é uma realidade nas fiscalizações dos royalties da mineração, principal fonte de receita que abastece os cofres públicos de municípios, Estados e da União. Apenas cinco servidores estão dedicados, atualmente, à tarefa de fiscalizar cerca de 45 mil processos de pagamento da chamada Compensação Financeira pela Exploração Mineral (Cfem), o encargo bilionário que deve ser pago pelas mineradoras.

Na Anvisa, órgão que protagonizou pressões históricas durante o processo de regularização de vacinas contra a covid-19, há uma série de lacunas e necessidade de recorrer frequentemente a tudo quanto é funcionário do Ministério da Saúde e demais órgãos para fazer valer as suas operações.

Todo ano, a Anvisa envia uma solicitação de autorização para realização de concurso público. Atualmente, a agência aguarda resposta da solicitação realizada em 2022 e, em breve, vai encaminhar um novo pedido referente a 2023. A solicitação atual mira um total de 107 vagas. O dimensionamento da força de trabalho de 2022 realizado pela Anvisa, porém, apontou um déficit total de 1.146 pessoas.

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Fundada em 1999, a Anvisa chegou a contar com 2.360 servidores em 2007. Foi o maior contingente em operação na agência. Dez anos depois, em 2017, esse número já tinha caído para 1.908 pessoas. O cenário atual, porém, é pior desde a sua fundação, da agência, que hoje pode contar com apenas 1.639 servidores no ano passado.

Para agravar ainda mais o cenário, 600 profissionais desses 1.639 servidores na ativa podem deixar o posto a qualquer momento, pelo fato de estarem trabalhando em regime de “abono de permanência”, um benefício financeiro que é concedido ao servidor ativo, no valor equivalente à sua contribuição previdenciária, quando ele opta por permanecer em atividade após ter cumprido todos os requisitos para aposentadoria voluntária, até completar os requisitos para sua aposentadoria compulsória.

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