BRASÍLIA - O ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, disse neste sábado, 23, ao Estadão/Broadcast Político, que a indústria da carne tem o apoio do governo para interromper o fornecimento de carne ao Grupo Carrefour no Brasil. Ele negou que o ministério tenha feito um pedido explícito para o produto deixar de ser entregue à rede de supermercados francesa, mas afirmou ter parabenizado o setor pela decisão.
A reação dos frigoríficos brasileiros ocorreu após o CEO do Carrefour, Alexandre Bompard, ter divulgado na quarta-feira, 20, comunicado nas suas redes sociais no qual afirma que a varejista se comprometeu a não vender em lojas da França carnes do Mercosul. “Aqui não é colônia francesa”, criticou Fávaro.
“Só dois países no mundo não tem gripe aviária no seu plantel comercial, e o Brasil é um deles. A França, por exemplo, tem gripe aviária no seu plantel comercial. As indústrias daqui tomaram a atitude bonita de não fornecer, porque se eu não posso fornecer para lá, não forneço para cá também. Eles têm o apoio do governo, do Ministério da Agricultura. Essa é a situação, mas não foi um pedido do Ministério da Agricultura para que eles parassem de fornecer”, declarou.
Como mostrou o Estadão/Broadcast, cerca de 50 caminhões com carga de carne para o Grupo Carrefour Brasil tiveram entregas suspensas até o início da tarde deste sábado. As informações são de que a rede - que engloba os hipermercados Carrefour, Atacadão e Sam’s Club - tem estoques e, portanto, não ficará desabastecida de forma imediata. Os estoques, porém, devem durar até o início da próxima semana.
“Há 40 anos o Brasil vende carne para a União Europeia. A França, 0,5% do volume de proteína animal brasileira. Estão achando (Carrefour) que eles são a última bolacha do pacote? Eles só têm de nos respeitar, aqui não é colônia francesa. E hoje o Brasil tem um portfólio de mercados abertos para o mundo todo, e com muita garantia de qualidade”, afirmou o ministro da Agricultura.
“Eu fiquei muito feliz e parabenizei a indústria da carne brasileira por ter uma atitude”, emendou Favaro.
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Lideranças do agronegócio estão indignadas com a decisão do Carrefour de boicotar a carne do Mercosul. Parlamentares do setor já começaram a planejar outros tipos de retaliação. O deputado Alceu Moreira (MDB-RS), diretor de Política Agrícola e ex-presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), vocaliza essa insatisfação. Ele vai apresentar ao presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), um requerimento para instalar uma comissão externa da Casa com o objetivo de “colocar o dedo na ferida” da empresa.
Na justificativa para criar a comissão, Moreira diz que é preciso avaliar a conduta e as denúncias contra o Carrefour no Brasil. O deputado afirma que há antecedentes “graves” da rede de supermercados francesa no País ligados a violações raciais, ambientais e trabalhistas.
A carta do CEO do Carrefour foi endereçada ao presidente da Federação Nacional dos Sindicatos dos Operadores Agrícolas (FNSEA) francesa, Arnaud Rousseau, e, segundo ele, a decisão de não vender mais carne do Mercosul nos supermercados da rede na França foi tomada após ouvir o “desânimo e a raiva” dos agricultores franceses, que protestam contra a proposta de acordo de livre comércio entre a União Europeia e o bloco econômico sul-americano.
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