Ministro argentino defende barreira

Armando Bodou apoia veto a alimentos processados importados e disse que país precisa 'deixar de ser ingênuo'

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Por Fabiola Salvador e Ariel Palacios

CORRESPONDENTE / BUENOS AIRES BRASÍLIAO ministro da Economia da Argentina, Amado Boudou, defendeu ontem a aplicação de barreiras para impedir a entrada de produtos alimentícios importados similares aos elaborados na Argentina. "Precisamos cuidar do mercado interno e dos produtores argentinos", disse Bodou à rádio La Red. Sem entrar em detalhes, Boudou sustentou que a medida era positiva: "Essa história de sermos bonzinhos, de abrir às portas ao mundo, e, por exemplo, não poder exportar limões aos Estados Unidos, é uma ideia muito romântica, mas é muito ingênua. Nós precisamos deixar de ser inocente nesses assuntos".No Brasil, o ministro da Agricultura, Wagner Rossi, abandonou o tom diplomático ao falar do tema e classificou como "lobby" as notícias de que a Argentina vai barrar a compra de alimentos processados do Brasil. "Pode ser lobby de alguns produtores argentinos", disse. Rossi reafirmou que o Brasil não foi comunicado oficialmente da decisão do governo argentino. Se a restrição for confirmada, ele disse que vai discutir o assunto com os demais ministros da Agricultura do Cone Sul em reunião no começo do próximo mês, em Mar del Plata.Na semana passada, o secretário de Comércio da Argentina, Guillermo Moreno, emitiu uma ordem verbal aos supermercadistas, proibindo a entrada de produtos alimentícios não frescos que rivalizem com seus similares fabricados na Argentina. Esse seria o caso do presunto cru espanhol, que disputa o mercado interno com o presunto cru argentino. Mas ele não deu detalhes sobre alimentos importados que complementam a demanda interna argentina, como o milho brasileiro.A barreira entraria em vigor em 1.º de junho. A partir do dia 10, os fiscais de Moreno percorrerão supermercados e comércios para verificar a aplicação da ordem. Os artigos alimentícios importados representam 3% dos produtos presentes nas gôndolas dos supermercados.Críticas. O empresariado argentino disparou várias críticas à medida. Segundo a Coordenadoria das Indústrias de Produtos Alimentícios (Copal), que reúne as principais câmaras do setor, a barreira argentina contra os alimentos importados pode provocar retaliações comerciais de outros países. "Toda medida de política comercial interna ou externa tem de respeitar os critérios dos tratados internacionais dos quais a Argentina faz parte, já que é uma das garantias necessárias para evitar represálias no comércio mundial", disse a entidade, em nota. Segundo a Copal, diversos países, como o Brasil, já avaliam retaliações à Argentina.Os embaixadores dos países da União Europeia, preocupados com a ordem de Moreno, decidiram reunir-se para avaliar o impacto da medida e a aplicação de eventuais represálias.A ordem verbal de Moreno foi encaminhada ao Instituto Nacional de Alimentos (Inal), subordinado ao Ministério de Saúde. A influência do secretário em um órgão de outro ministério levantou suspeitas de que a ordem teria sido respaldada pela própria presidente Cristina Kirchner.

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