BRASÍLIA E SÃO PAULO - O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, afirmou nesta terça-feira, 15, que o apagão registrado em Estados do Norte, Nordeste e parte das demais regiões do Brasil não tem relação com suprimento energético ou com a segurança do sistema elétrico no País. Ele também negou problemas de planejamento.
“Diferente do evento de dois anos atrás, no qual, por falta de planejamento, estivemos à beira do colapso do sistema elétrico brasileiro”, disse.
Segundo o ministro, eventos como o desta terça-feira são “extremamente raros”, e uma contingência planejada do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) “minimizou a carga das regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste para que não houvesse a interrupção total”.
Silveira concedeu entrevista à imprensa na tarde desta terça-feira. “Antes de tudo, precisamos destacar que o ocorrido não tem nada a ver com o suprimento energético. Vivemos um momento de abundância dos reservatórios”, afirmou.
Para o ministro, o evento indica a necessidade de aumento dos cuidados. “Diante de ocorrido como esse, nós queremos ainda mais fortalecer o planejamento.”
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O ministério afirma que restabeleceu o fornecimento por volta das 14h30 em todo o Sistema Interligado Nacional (SIN), restando ajustes pontuais a serem realizados em algumas cidades. “Nós temos a expectativa de que até final da tarde, 100% dos consumidores de energia estejam restabelecidos”, disse o ministro. O apagão atingiu 25 estados e o Distrito Federal e afetou um terço dos consumidores brasileiros. Apenas Roraima, que não está conectada ainda ao SIN, não foi afetado.
Segundo Silveira, o ONS colocou como prazo limite 48 horas para entregar o relatório com um diagnóstico sobre as causas do apagão que atingiu 25 Estados do País e o Distrito Federal.
Além da apuração dos órgãos setoriais, serão acionados o Ministério da Justiça, a Polícia Federal e a Agência Brasileira de Inteligência (Abin), que atuaram no começo do ano, quando houve sabotagem a torres de transmissão de energia. O ministro disse que o setor é sensível e requer completo monitoramento, mas que é “seguro” ainda que toda ocorrência aponte para possíveis aperfeiçoamentos.
“A única motivação que nos leva a poder pedir que o Ministério da Justiça, através da Polícia Federal, também participe da apuração do ocorrido, é a sensibilidade do setor elétrico nacional. Com esse setor não podemos transigir na segurança. Não há da nossa parte apontamento leviano de responsabilidade”, disse.
Ele afirmou ainda que uma das primeiras providências tomadas foi iniciar processo para conclusão dos projetos de transmissão e dar segmento aos leilões.
Responsabilidades
Segundo o ministro, o relatório mais recente do ONS aponta como único evento que pode estar relacionado ao apagão o que se deu no norte do Nordeste, mais especificamente, em uma linha de transmissão no Ceará.
Ele não identificou qual é a empresa responsável pelo empreendimento e disse não querer terceirizar responsabilidades, embora tenha citado a Eletrobras várias vezes ao longo de sua fala.
“Não quero terceirizar a responsabilidade às empresas privadas. A responsabilidade é nossa, de dar respostas aos brasileiros e brasileiras. O que devemos fazer é nos robustecer cada vez mais, por isso minha crítica à privatização da Eletrobras”, disse.
Silveira também afirmou que o fato de ter sido identificado um problema no Ceará não descarta a possibilidade de outros problemas simultâneos de geração terem ocasionado o problema.
Ele afirmou que, se detectada responsabilidade de agentes privados pelo ocorrido, eles serão responsabilizados e sofrerão sanções. Disse também que todas as possibilidades de causas foram aventadas, ao ser questionado sobre um possível evento relacionado à usina de Belo Monte.
Eletrobras
Silveira comentou também a renúncia do presidente da Eletrobras, Wilson Ferreira Jr., anunciada na noite de segunda-feira, 14. Segundo o ministro, o caso faz com que ele reafirme as críticas à condução da empresa pelo conselho de administração da companhia.
Ele afirmou que soube da renúncia por meio de um comunicado emitido pela companhia e pela imprensa. O ex-senador reafirmou que a “mudança abrupta” na condução da Eletrobras mostra que a privatização tirou a possibilidade de um sistema elétrico harmônico.
Apesar de ter citado a Eletrobras diversas vezes, Silveira disse que seria “leviano apontar como causa direta da ocorrência de hoje (terça-feira) a privatização da Eletrobras”.
O ministro ressaltou que está avaliando como será fortalecido o sistema elétrico brasileiro e que é importante que empresas tenham sinergia com o poder público. Ele citou, como exemplo, a falta de expressão de solidariedade por parte da Eletrobras em relação ao ocorrido.
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