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Missões de inovação precisam sobreviver a mudanças de governo, diz diretor da WTT

Andre Wongtschowski, diretor de inovação da World-Transforming Technologies , diz que País precisa de agenda para utilizar recursos para bioeconomia, transição energética e proteção da Amazônia

Foto do author Lucas Agrela
Foto: Arquivo Pessoal/Comunicação Avina
Entrevista comAndre Wongtschowskidiretor de inovação da WTT

A World-Transforming Technologies (WTT) e a Agência de Inovação da USP (Auspin) realizam nesta terça-feira, 31, o 1.º Fórum Brasileiro de Inovação Orientada por Missões. O evento fechado ocorre no Inova USP, em São Paulo, e reunirá representantes do governo, da indústria, da academia, do setor privado e da sociedade para discutir a importância da adoção da prática de inovação orientada por missões no Brasil. O desenvolvimento sustentável do País e seu posicionamento de liderança na bioeconomia serão pontos-chave do debate.

Andre Wongtschowski, diretor de inovação da WTT, afirma que a estruturação de programas de governo com objetivos claros, chamados “missões”, tende a dar mais força para resistir a mudanças de governo, desde que a sociedade, a academia e o setor privado estejam envolvidos. “A inovação precisa ter a preocupação em responder a desafios importantes da sociedade e do meio ambiente”, diz.

Confira a seguir os principais trechos da entrevista:

Ter missões de inovação é uma forma de evitar problemas de continuidade de governo diante das alternâncias de presidência, Congresso e Senado, além das trocas ministeriais?

Certamente. A missão tipicamente vai envolver projetos que têm longa duração. Pela sua natureza, precisa sobreviver a mudanças de governo e o estabelecimento dessas grandes missões, se devidamente comunicadas à sociedade e feitas com ampla participação social, tende a ter força suficiente para sobreviver a longo prazo. Esse é um ponto importante para as estratégias de ciências.

Quais questões podem ser resolvidas com missões?

No evento, temos mesas temáticas sobre a Amazônia e questões da bioeconomia, agricultura e combate à fome, digitalização do complexo industrial, saúde e transição energética. São meses de construção para criar missões sobre esses temas e é necessária ampla participação para fazer um belo diagnóstico dos desafios. Por isso, o que queremos é construir um processo que permita que essa construção seja feita com qualidade.

Como a inovação pode ser orientada por missões no setor público?

A ideia central de que é preciso colocar o fazer científico e o desenvolvimento de inovações a serviço do desenvolvimento sustentável. O governo tem um papel muito importante no desenvolvimento das inovações, seja apoiando diretamente com investimento em educação, investimento e Ciência Tecnologia, seja criando as infraestruturas necessárias para que a inovação aconteça. Portanto, deveria existir um direcionamento para inovação que é produzida no País. A inovação precisa ter a preocupação em responder a desafios importantes da sociedade e do meio ambiente.

Como funcionam as missões?

As missões têm três elementos centrais. O primeiro é a ideia de criar grandes projetos, grandes programas estruturados para lidar com desafios complexos do desenvolvimento sustentável. A direcionalidade da missão é muito importante. Outro ponto é justamente a colaboração entre os diferentes atores da inovação. Como se tratam de projetos complexos e com desafios complexos, não vamos resolvê-los atuando isoladamente. É preciso envolver vários ministérios e agências de governo. Além disso, a missão também exige um grau de colaboração com o setor privado, as academias, o governo e a sociedade civil. Algo que a missão estabelece como pré-requisito é que você tenha objetivos metas claros, explícitos, concretos e com prazos e números acordados, como acontece com a redução de poluentes na Europa.

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Quais são os riscos de não ter políticas públicas orientadas por missões no Brasil?

O maior dos riscos é fazer mau uso do recurso de inovação. Se você não sabe com clareza aonde quer chegar, você provavelmente não chegará. O investimento em pesquisa e desenvolvimento é, grosseiramente, metade do setor privado, metade do setor público. O dinheiro do setor público é usado para financiar pesquisa básica, pesquisa aplicada e uma série de coisas nas universidades. É um recurso distribuído com base nos interesses de pesquisadores, e não no interesse do governo. Devemos nos perguntar se o que estamos pesquisando é o que deveríamos estar pesquisando para resolver os grandes desafios do País.

Essas missões podem ajudar o Brasil a se tornar mais relevante na economia global?

Sim. Tem coisas que a gente vai discutir de missões que precisam ser construídas e executadas em relação à transição energética, ao posicionamento do Brasil como um líder na transição energética, na bioeconomia e na agenda das mudanças climáticas. É uma oportunidade do Brasil se posicionar bem, mostrando qual é o futuro que quer construir.

Já existem aplicações dessa lógica de missões de inovação no País?

O Conselho Nacional de Desenvolvimento Industrial (CNDI), que foi restaurado no começo deste ano, já começa a desenvolver a sua estratégia de atuação com base nessa lógica de missões, estabelecendo um conjunto de seis missões iniciais que devem orientar a política industrial brasileira nos próximos anos. O mesmo acontece no Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, com dez programas que ainda não têm a lógica de missões, mas que caminham nessa direção. A Finep e o BNDES também estão dizendo que vão analisar seus recursos para essas missões, assim como a Confederação Nacional da Indústria (CNI).

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