NOVA YORK - Um relato da polícia de Nova York, em coletiva de imprensa, nesta sexta-feira, 6, reconstituiu os passos do assassino do CEO da UnitedHealthcare, Brian Thompson, desde 10 dias antes do crime, quando o atirador chegou à cidade, conforme as investigações. Apesar dos detalhes obtidos, as autoridades afirmaram que ainda não tinham conseguido revelar a identidade do autor, nem o seu paradeiro, tampouco confirmar o motivo do crime, ocorrido na quarta-feira, 4.
Os policiais relataram também que, nesta sexta-feira, 6, ao vasculhar uma área arborizada no Central Park, encontraram uma mochila que acreditam ter sido abandonada pelo atirador.
A polícia não divulgou o que havia na mochila, mas forneceu um cronograma mais detalhado até agora das atividades furtivas dele durante uma estadia de 10 dias na cidade de Nova York (leia mais abaixo).
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Sobre a motivação do assassino, uma das pistas mais fortes veio da munição encontrada, com palavras que seriam uma referência a supostas estratégias de seguradoras para evitar indenizações. Leia a seguir o que se sabe até agora e como a polícia, com a ajuda de imagens, depoimentos e outras pistas, está tentando esclarecer o caso e chegar até o assassino.
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Os passos do atirador
Joseph Kenny, chefe de detetives do Departamento de Polícia de Nova York (NYPD, na sigla em inglês), em uma coletiva de imprensa na sexta-feira, 6, disse que, conforme as investigações, o atirador chegou à cidade às 22h11 do dia 24 de novembro em um ônibus vindo de Atlanta, no Estado da Geórgia. Ele pegou um táxi para o New York Hilton — cuja calçada, 10 dias depois, seria o local da execução — e passou cerca de meia hora caminhando na área do hotel antes de fazer o check-in em um albergue no Upper West Side.
No albergue, ele ficou sob identificação falsa, sempre usando dinheiro, evitando conversas e escondendo o rosto com a máscara mesmo durante as refeições, disse o chefe. Ele “nunca falou com ninguém“, à exceção de uma vez em que abaixou a máscara para falar, sorrindo, com o recepcionista do albergue, disse o policial.
O atirador deixou o albergue às 5h30 do dia 4 de dezembro e foi de bicicleta em direção ao centro da cidade, disse o chefe Kenny. Às 5h41 da manhã, ele chegou ao Hilton e começou a vagar pela área perto do hotel, andando de um lado para o outro na West 54th Street, antes de entrar em um Starbucks, onde comprou uma garrafa de água e um lanche.
Depois de atirar no executivo Brian Thompson às 6h44, ele voltou para a bicicleta e chegou ao Central Park quatro minutos depois. Ele saiu do parque às 6h56min, ainda na bicicleta. Câmeras de vigilância capturaram imagens dele, ainda na bicicleta, dois minutos depois na 86th Street e na Columbus Avenue. Às 7h, ele ainda estava na 86th Street, não mais na bicicleta. Ele então pegou um táxi para o norte até um terminal de ônibus perto da Ponte George Washington.
Às 7h30, ele chegou ao terminal de ônibus, onde câmeras de vigilância o mostraram entrando, mas não saindo, disse o chefe Kenny.
Munição
O atirador usou munição com as palavras “delay” e “deny” (atrasar e negar), termos que podem ter sido uma referência às estratégias que as seguradoras supostamente usam para tentar evitar o pagamento de indenizações.
Ameaças
A viúva, Paulette Thompson, disse à NBC News que o marido tinha lhe dito que “havia algumas pessoas que o estavam ameaçando”. Ela disse que não tinha detalhes, mas sugeriu que as ameaças podem ter envolvido problemas com a cobertura de seguro de saúde vendido pela empresa.
Porém, Eric Werner, o chefe de polícia no subúrbio de Minneapolis onde Thompson morava, disse que seu departamento não recebeu nenhum relato de ameaças contra o executivo.
O assassinato
O executivo estava a caminho de um evento, a reunião anual com investidores, no New York Hilton Midtown. Vindo de um hotel próximo, passou pelo atirador, que o esperava havia alguns minutos. Imagem de vídeo de câmera de segurança obtida pelos investigadores mostra o atirador surgindo de trás de um carro estacionado, parando e apontando uma arma para as costas de Thompson, segurando-a com as duas mãos e atirando várias vezes, interrompido por um breve emperramento da arma, enquanto Thompson tropeça para frente e cai na calçada.
A polícia acredita que o atirador tenha usado um silenciador, acessório de arma de fogo rigorosamente regulamentado nos EUA.
A fuga
O atirador, vestido com um moletom com capuz e carregando uma mochila cinza, passou pelo executivo, caído, fugiu a pé por um beco e em seguida pegou uma bicicleta elétrica na direção do Central Park, localizado a cinco quarteirões do Hilton.
Pistas
Os investigadores recuperaram vários cartuchos de 9 mm do lado de fora do hotel, que chamaram a atenção pelas palavras gravadas, e um celular no beco por onde o atirador fugiu. A e-bike que o atirador usou para ir ao Central Park veio do programa de compartilhamento de bicicletas da cidade, CitiBike, operado pela empresa Lyft.
Investigações
A operação para tentar localizar o atirador incluiu drones, helicópteros e cães. Em busca de pistas, os policiais revistaram o quarto de hotel do executivo assassinado, entrevistaram seus colegas da UnitedHealthcare e revisaram suas redes sociais.
Identidade
Ao assistir ao vídeo do assassinato, o chefe de detetives da polícia de Nova York, Joseph Kenny, concluiu que o atirador é “proficiente” no uso de armas de fogo, “pois conseguiu resolver os problemas de funcionamento muito rapidamente”.
Para tentar identificar o atirador, a polícia divulgou na quinta-feira, 5, imagens em que aparece o rosto do homem procurado. Em paralelo, os investigadores também tentam reconstituir os passos antes do crime.
Os investigadores apuraram que o atirador usou uma identificação falsa de Nova Jersey (vizinha a Nova York) em 30 de novembro para reservar um quarto no albergue no Upper West Side, em Manhattan, onde ele estava hospedado antes do assassinato, conforme um policial graduado ouvido pelo New York Times.
A autoridade também disse que uma impressão digital que se acredita ser do atirador havia sido encontrada em uma garrafa de água na cena do crime, porém estava muito manchada para possibilitar a identificação.
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