Mourão diz que críticas internacionais ao desmatamento são 'disputa geopolítica' do agronegócio

Vice-presidente diz que haveria interesse em denegrir a imagem brasileira no Exterior em relação ao meio ambiente

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BRASÍLIA – O vice-presidente Hamilton Mourão procurou retirar qualquer responsabilidade do governo sobre o avanço do desmatamento na Amazônia e declarou que as críticas internacionais sobre a derrubada da floresta no País refletem interesses comerciais e disputa geopolítica, por causa da força do Brasil no agronegócio.

Em sua avaliação, haveria interesse em denegrir a imagem brasileira no Exterior em relação ao meio ambiente, para prejudicar seus negócios com outros países.

O vice-presidente da República, general Hamilton Mourão Foto: Werther Santana/Estadão

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“É importante que a gente tenha consciência da disputa geopolítica que existe no mundo de hoje. O Brasil tem um potencial extraordinário, pelas características do nosso território, do nosso povo. Nós temos água, luz, terra fértil, espaço para avançar e crescer. Então, não resta a mínima dúvida que nós seremos, dentro em breve, a maior potência agrícola do mundo. Isso é destino manifesto do nosso País”, comentou, em coletiva de imprensa realizada após participar de uma videoconferência com investidores internacionais. “É óbvio que aqueles que serão incomodados pelo avanço da produção brasileira, buscarão, de alguma forma, impedir que essa produção evolua como vem ocorrendo.”

Na semana passada, em entrevista ao Estadão, a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, também chamou a atenção para o mesmo assunto, ao ser questionada sobre a destruição da floresta amazônica. “Existem outros interesses comerciais, que não são algo pontual e ligado só ao meio ambiente. Por que só o Brasil? Essa é a pergunta que a gente tem de fazer. Eu não tenho mais idade para acreditar em Papai Noel. Então, o que vejo é que existe uma desinformação, às vezes, sobre algumas coisas”, declarou.

Há dias, ao comentar a questão do desmatamento, oministro da Economia, Paulo Guedes, também avaliou que existiria uma campanha de difamação sobre o País na área ambiental derivada do protecionismo de economias avançadas. "Nossa imagem está muito ruim lá fora, até mesmo uma parte de nós falamos muito mal do País. Lá fora há muito oportunista protecionista, como a França, que é uma parceira, investe aqui, mas não quer que exportemos produtos agrícolas para lá. Os Estados Unidos querem entrar com etanol no Brasil e não aceitam açúcar brasileiro lá", afirmou.

São argumentos que refletem a opinião de presidente Jair Bolsonaro sobre a Amazônia. Em várias ocasiões, Bolsonaro já disse que a preocupação internacional com a Amazônia está relacionada a interesses comerciais com agronegócio e mineração, e não com o meio ambiente.

Em outubro do ano passado, Bolsonaro disse, em frente ao Palácio do Planalto, que o interesse internacional na Amazônia não é com a "porra da árvore" ou com povos indígenas. “O interesse na Amazônia não é no índio nem na porra da árvore, é no minério”, disse.

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Ainda assim, o governo usou a reunião desta quinta-feira para pedir aos investidores internacionais que invistam na proteção ao meio ambiente no Brasil. Hamilton Mourão chegou a citar, como exemplo desse tipo de ação, o Fundo Amazônia, que recebe recursos da Noruega e Alemanha.

Reportagem publicada nesta quinta pelo Estadão revela, porém, que o próprio governo brasileiro não tem utilizado os recursos que já recebeu desses países. Mais de R$ 33 milhões já repassados ao Brasil por meio do Fundo Amazônia estão disponíveis para duas ações, uma de combate a incêndios pelo Ibama e outra para que o Ministério da Justiça amplie o trabalho de fiscalização na floresta pela Força Nacional. Esses recursos, porém, estão engavetados no BNDES. O Ibama não acessa o dinheiro há mais de dois anos. No caso da Força Nacional, o único saque ocorreu três anos e meio atrás.

Participaram da videoconferência, além de Mourão, o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, o chanceler Ernesto Araújo, o ministro da Casa Civil, Walter Braga Netto, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, o ministro das Comunicações, Fábio Faria, e o presidente da Apex, Sergio Ricardo Segovia.

Entre os investidores estavam representantes da Legal and General Investment Management (Reino Unido); da Nordea Asset Management (Suécia); da SEB Investment Management (Suécia); da Storebrand Asset Management (Noruega); KLP (Noruega); Robeco (Países Baixos); AP2 Second Swedish National Pension Fund (Suécia); e Sumitomo Mitsui Trust Asset Management (Japão).

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