Mulheres ocupam apenas 36,6% das vagas com maiores salários, aponta FGV

Segundo estudo, elas também estão em menos de 40% das posições em nível gerencial, apesar de terem mais anos de estudo

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Rio - No quarto trimestre de 2022, as mulheres tinham mais anos de estudo e eram maioria na população brasileira, mas não ocupavam nem quatro de cada dez cargos gerenciais existentes no mercado de trabalho do País. No grupo de trabalhadores com os maiores rendimentos por hora trabalhada, apenas 36,6% eram mulheres. Os dados são de um estudo do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV), antecipado para o Estadão/Broadcast.

A sub-representação feminina em cargos gerenciais não registrou melhora expressiva na última década. Apesar de incentivos e formulações de políticas públicas, a parcela de mulheres ocupando cargos de chefia ainda vem crescendo muito lentamente, ressaltou Janaína Feijó, pesquisadora responsável pelo estudo do Ibre/FGV.

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No quarto trimestre de 2012, apenas 37,8% dos cargos de gerência eram ocupados por mulheres. No quarto trimestre de 2022, essa participação feminina em posições gerenciais subiu a 39,2%.

“Aumentamos menos de 2 pontos porcentuais em dez anos, é muito pouco”, avaliou Feijó.

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Como os cargos de gerência tendem a remunerar melhor, a sub-representação das mulheres nessas funções contribui para a baixa proporção de profissionais do gênero feminino nos extratos mais altos da distribuição de salários. No quarto trimestre de 2022, no grupo que concentrava os trabalhadores com os maiores rendimentos por hora trabalhada, apenas 36,6% eram mulheres. A região com maior proporção de mulheres entre os 10% mais bem pagos foi o Sul, onde 41,7% desses trabalhadores eram do gênero feminino. A menor proporção foi reportada no Sudeste, onde apenas 34,8% dos mais bem remunerados eram mulheres.

Segundo Janaína Feijó, os resultados evidenciam o fenômeno “teto de vidro”, que funciona como uma barreira invisível ao acesso das mulheres a níveis mais altos da hierarquia organizacional das empresas.

Desigualdade de gênero ainda está presente no mercado de trabalho Foto: Pixabay

“A mulher, mesmo sendo educada, mesmo estando empregada dentro de uma instituição, ela não consegue ascender profissionalmente. Ela não consegue equiparar o salário dela ao de um homem, porque ela não consegue ocupar posições de prestígio dentro das empresas. Ela tem os atributos, mas ela não consegue aumentar o salário dela com esses atributos”, explicou Feijó.

Além da sub-representação feminina em funções de gestão mesmo quando possuem as mesmas habilidades e experiências que os homens, o fenômeno do teto de vidro resulta também em discriminação salarial: a mulher tende a receber um salário menor mesmo possuindo as mesmas competências do homem.

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Os homens ganhavam uma remuneração 23,4% maior do que as mulheres em postos equivalentes, ou seja, a defasagem salarial permanecia considerável quando comparados profissionais com as mesmas características socioeconômicas, como raça, região, anos de estudo, experiência profissional e trabalhando a mesma quantidade de horas na mesma função.

A boa notícia é que essa defasagem salarial entre homens e mulheres caiu cerca de dez pontos porcentuais em uma década: no quarto trimestre de 2012, o rendimento dos homens era 33,4% maior do que o das mulheres. Mudanças socioculturais têm ajudado nessa melhora, diz a pesquisadora do Ibre/FGV.

“As gerações mais jovens são menos avessas à figura da mulher em qualquer ambiente, principalmente no mercado de trabalho. Os jovens compreendem a necessidade de ambientes plurais e equitativos, enquanto algumas pessoas de gerações passadas ainda têm a mentalidade de que o lugar da mulher é cuidando dos filhos. Essas transformações sociais acontecem lentamente, mas ajudam sim a diminuir esse gap”, mencionou Janaína Feijó.

Outros fatores que ajudam na melhor inserção da mulher são políticas públicas voltadas para reduzir essa desigualdade de gênero, como os investimentos em rede de apoio e proteção legal a trabalhadoras quando se tornam mães, de forma que não precisem abandonar seus empregos para se dedicar ao cuidado dos filhos, mencionou a pesquisadora.

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O estudo do Ibre/FGV foi elaborado tendo como base os microdados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), apurada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

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